Saúde

Cerimônia marca início das obras do CNVacinas, parceria entre UFMG, MCTI e governo de MG

Estrutura possibilitará o desenvolvimento de imunizantes, kits de testes de diagnósticos e fármacos

A reitora Sandra Goulart, o vice-reitor Alessandro Fernandes, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Fábio Bacheretti, o vice-governador eleito, Mateus Simões, e o secretário do MCTI, Marcelo Morales, descerram a placa que marca o início das obras do Centro Nacional de Vacinas
A reitora Sandra Goulart, o vice-reitor Alessandro Fernandes, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Fábio Bacheretti, o vice-governador eleito, Mateus Simões, e o secretário do MCTI Marcelo Morales descerram a placa que marca o início das obras do Centro Nacional de Vacinas Raphaela Dias | UFMG

A UFMG e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) realizaram nesta segunda-feira, dia 19, a cerimônia que marcou o início das obras do Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), que será erguido no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). O projeto que transforma o CTVacinas em CNVacinas atende a uma demanda brasileira para estabelecer um ecossistema que contemple o regulatório sanitário, com rastreabilidade. 

No decorrer das ações de combate à pandemia da covid-19, o MCTI identificou que o país não contava com laboratórios capazes de produzir lotes-piloto de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) em condições de boas práticas de fabricação nem de realizar o posterior envase de formulações vacinais experimentais, condições que precisam ser atendidas para cumprir exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação a ensaios clínicos de vacinas em seres humanos. 
 
O coordenador do CTVacinas e professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Ricardo Gazzinelli, destacou que a missão do CNVacinas será aprimorar esse ecossistema de produção de imunizantes no país, reduzindo o gap existente no processo produtivo. 

"Já temos as universidades e os institutos de pesquisa que desenvolvem a tecnologia. Temos também o Sistema Único de Saúde (SUS), com grande capilaridade para distribuição dos imunizantes. Faltava a capacidade de passarmos da prova-conceito para os ensaios clínicos, ou seja, o chamado 'vale da morte' no processo, etapa que não éramos capazes de superar", contou.
 
Gazzinelli destacou que o CNVacinas terá condições plenas de desenvolver diversas vacinas para humanos e animais. Ele relembrou as etapas que foram vencidas para o desenvolvimento da SpiN-TEC, imunizante contra a covid-19 desenvolvido pelo CTVacinas e que já está na fase de testes clínicos. "Além da SpiN-TEC, temos diversos outros imunizantes em desenvolvimento. Nossa missão é ampliar os trabalhos de transferência de tecnologia para que o conhecimento desenvolvido nos laboratórios se transforme em algo que melhore a vida das pessoas."
 
Transferência de tecnologia
A infraestrutura do CNVacinas será reservada à produção de lotes clínicos, ou seja, o Centro fará todo o desenvolvimento do imunizante e entregará a tecnologia para que a indústria nacional fabrique em larga escala. O CNVacinas será, também, um elo entre o ambiente acadêmico e o mercado, servindo de catalisador do processo de inovação e transferência de tecnologias para empresas e instituições.

Autoridades compuseram a mesa do evento: Alessandro Fernandes Moreira, Marco Aurélio Crocco Afonso, Mateus Simões de Almeida, Sandra Regina Goulart Almeida, Marcelo Marcos Morales, Fábio Baccheretti, Ricardo Gazzinelli e Felipe Attiê
 Alessandro Fernandes (à esquerda), Marco Crocco, Mateus Simões, Sandra Goulart Almeida, Marcelo Morales, Fábio Baccheretti, Ricardo Gazzinelli e Felipe Attiê Foto: Raphaela Dias | UFMG

Essa vocação do Centro para a transferência de tecnologia foi destacada na cerimônia. O professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG e presidente do BH-TEC, Marco Aurélio Crocco Afonso, destacou que, apesar de ser o 14º maior produtor de papers acadêmicos do mundo, o Brasil não ocupa posições de destaque em quantidade de patentes depositadas ou nos índices de transferência de tecnologia. Segundo ele, o CNVacinas terá papel relevante para que o país consiga melhorar nessas dimensões.
 
"O CNVacinas integrará o BH-TEC, que é um ambiente marcado por inovação e interação entre universidade, empresas e sociedade. Este é um momento muito importante para a ciência brasileira, porque damos mais um passo para melhorar nossos índices de transferência de tecnologia", afirmou Crocco.

Marcelo Morales:
Marcelo Morales: hub de projetos de inovaçãoFoto: Raphaella Dias | UFMG

O secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales, corroborou a fala de Marco Crocco ao dizer que a parceria com a UFMG deve ser celebrada porque a universidade mineira "é uma instituição empreendedora". O CNVacinas, disse Morales, "será um hub de projetos de inovação e também de capacitação profissional, viabilizando a produção de lotes-piloto de imunizantes que seguirão as boas práticas, requisitos para a produção de vacinas no país. Transferir a tecnologia da universidade para as pessoas é essencial".

Minas Gerais entra no circuito
A instalação da sede do CNVacinas na capital mineira confere ao estado destaque no circuito nacional de produção de imunizantes, ao lado de São Paulo, cidade onde está localizado o Instituto Butantã, e do Rio de Janeiro, sede da Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 
 
"Esse sonho de progresso, pesquisa e ciência é muito importante para o nosso estado, e os pesquisadores que atuarão no CNVacinas serão responsáveis por destacar Minas Gerais nas pesquisas sobre vacinas", afirmou o subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Minas Gerais, Felipe Attiê.

O secretário-geral de Minas Gerais, Mateus Simões, celebrou o marco com uma reflexão. “Temos pesquisas, mas nem sempre elas resultam em produtos. Quantas vidas deixamos de salvar porque no passado não tivemos agilidade suficiente para transformar esse conhecimento em soluções concretas? Precisamos levar tecnologia à ponta para transformar vidas. O CNVacinas é a prova de que a sala de aula é capaz de transformar vidas", saudou Simões, vice-governador eleito de Minas Gerais.

 

Protagonismo mineiro foi destacado na cerimônia
Sandra Goulart: Minas protagonistaFoto: Raphaela Dias | UFMG

Em seu pronunciamento, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida também destacou o protagonismo de Minas Gerais, o estado com mais instituições federais e públicas de ensino. "Minas saiu na frente no enfrentamento da pandemia, e pudemos mostrar que a produção de ciência é uma das nossas especialidades. Aproximadamente 95% da pesquisa feita no Brasil é produzida nas universidades públicas, e a UFMG foi a instituição que mais depositou patentes em 2021. Nossa maior vontade é continuar contribuindo para a melhoria de vida da nossa população", concluiu.
 
Estrutura física
Se hoje o CTVacinas ocupa espaço de 450 metros quadrados no complexo do BH-TEC, a nova estrutura, que deve ficar pronta em 2025, vai contar com quase sete mil metros quadrados de área construída, divididos em um prédio de cinco andares. O edifício, em formato em L, contemplará toda a parte científica e de desenvolvimento de vacinas, além de biotérios, setores de produção de proteína recombinante, setores de análise de genoma, de bioinformática e de análises de respostas imunológicas.

Com cerca de 7 mil metros quadrados de área construída, o prédio deverá ser inaugurado em meados de 2025
Com cerca de 7 mil metros quadrados de área construída, o prédio do CNVacinas deverá ser inaugurado em meados de 2025 Imagem: acervo do projeto arquitetônico

O CNVacinas terá como escopo o desenvolvimento de novos imunizantes, incluindo plataformas vacinais, kits diagnósticos e fármacos, em boas práticas de laboratório e fabricação desde o início do processo de pesquisa. Pesquisadores que atuam no desenvolvimento de vacinas em todo o território nacional poderão utilizar a estrutura. 

A obra receberá investimento de R$80 milhões. Serão R$50 milhões de recursos federais, provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e R$30 milhões do governo de Minas Gerais. 

CTVacinas
O CTVacinas é um centro de pesquisas em biotecnologia, resultado de parceria estabelecida entre a UFMG, o Instituto René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas) e o BH-TEC. O Centro reúne pesquisadores vinculados à UFMG e à Fiocruz-Minas.

O Centro é dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de kits de diagnóstico e vacinas contra doenças humanas e veterinárias. Em julho deste ano, recebeu a certificação Boas Práticas de Laboratório (BPL), emitida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). A certificação referenda o processo organizacional e as condições sob as quais estudos e pesquisas referentes à saúde e ao meio ambiente são planejados, realizados, monitorados, registrados, arquivados e relatados.

No caso de laboratórios que desenvolvem pesquisas na área da saúde, a certificação BPL é um dos requisitos determinados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O processo é necessário para atender às normas regulatórias para a produção de lotes-piloto de imunizantes que, assim, poderão ser utilizados em testes pré-clínicos e clínicos. 
 
O CTVacinas é responsável pelo desenvolvimento da SpiN-TEC MCTI UFMG, o primeiro imunizante 100% brasileiro contra a covid-19, cujos testes clínicos foram iniciados no mês passado na Faculdade de Medicina da UFMG. O Centro também pesquisa imunizantes que protegem contra outras doenças, como monkeypox (vírus MVA), malária (em associação com a professora Irene Soares, da USP), leishmaniose humana, dengue, covid-19 (DNA e RNA), doença de Chagas e influenza.

A TV UFMG também acompanhou a cerimônia de lançamento das obras do Centro Nacional de Vacinas.

Luana Macieira