Cientistas alertam para distúrbios cerebrais em pessoas com covid-19
Em entrevista à UFMG Educativa, neurologista do Hospital das Clínicas falou sobre possíveis problemas no sistema nervoso de infectados pelo novo coronavírus
Oitenta mil pessoas já morreram no Brasil em decorrência da covid-19. O número de casos confirmados já ultrapassa a marca de dois milhões. Não bastassem esses dados alarmantes, uma pesquisa preliminar realizada por pesquisadores da University College London alerta também para a possibilidade de ocorrência de distúrbios cerebrais em pessoas que tenham tido covid-19.
De acordo com o estudo, diversos pacientes com a doença, em Londres, sofreram com problemas variados, como distúrbios cerebrais, derrames, danos ao sistema nervoso central e outros efeitos graves.
O estudo revela também que aumentaram os casos de uma condição conhecida como encefalomielite aguda disseminada, que coincide com a primeira onda de casos de covid-19 no Reino Unido, em março deste ano.
Diante dessas evidências, neurologistas e médicos da linha de frente de combate ao coronavírus devem estar em alerta. É o que defendeu o médico neurologista do Hospital das Clínicas da UFMG Paulo Christo, também professor da Faculdade de Medicina, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta segunda-feira, 20.
“Desde o início da pandemia, na China, alguns casos de acometimento do sistema nervoso já haviam sido descritos. Dois estudos de Wuhan, cidade onde tudo começou, já indicavam a possibilidade desse tipo de ocorrência. Não são muitos os casos descritos, se levarmos em conta o gigantesco número de ocorrências de covid-19, mas é algo que se acabará vendo em alguns pacientes”, explicou.
Alguns cientistas suspeitam que o vírus cause insuficiência respiratória e morte não por danos nos pulmões, mas por danos no tronco cerebral, o centro de comando que garante que as pessoas continuem respirando, mesmo quando inconscientes. Outros pesquisadores temem que possíveis sequelas cerebrais se manifestem depois de alguns anos.
“Há alguns protocolos que indicam o acompanhamento de alguns pacientes para algum tempo, para avaliar esse tipo de possibilidade”, afirmou Christo.