Pesquisa e Inovação

Cientistas da UFMG são contemplados em edital de fomento à pesquisa

Alexander Birbrair, do ICB, e Roberto Figueiredo, da Engenharia, receberão até R$ 100 mil para desenvolvimento de projetos em 2018

Os projetos dos professores Alexander Birbrair, do Departamento de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), e Roberto Figueiredo, do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Engenharia, estão entre os 65 selecionados de cerca de duas mil propostas concorrentes ao edital de fomento à pesquisa lançado pelo Instituto Serrapilheira. Os pesquisadores receberão até R$ 100 mil para, no próximo ano, demonstrarem a viabilidade de suas ideias, que envolvem, respectivamente, a eliminação de células malignas em tumores e desenvolvimento de materiais à base de magnésio. Num segundo momento, nova seleção vai determinar que projetos poderão receber até R$ 1 milhão.

Alexander Birbrair conta que, em seu laboratório, a palavra-chave atualmente é "microambiente tecidual". Ele e sua equipe buscam desvendar a função de cada componente celular nos tecidos sob várias condições fisiológicas e patológicas. "Uma das linhas de pesquisa desenvolvidas é estudar o microambiente do tumor. Sabemos que qualquer tecido no corpo humano tem um microambiente, que controla o funcionamento das células daquele tecido específico. Se cortamos um tumor, vemos muitas células tumorais. Mas não é só isso. Sabemos que, além das células tumorais, há muitas células além das malignas", diz Birbrair.

Alexander Birbrair chefia pesquisas sobre câncer no ICB
Alexander Birbrair chefia pesquisas sobre câncer no ICB Arquivo pessoal

"Qual é a função de todas essas outras células na progressão do tumor? Será que essas células poderiam servir como alvos terapêuticos antitumorais?", questiona o pesquisador, que afirma que eliminar as células malignas não basta, porque elas já criaram microambiente modificado que facilita o retorno do câncer.

Segundo Birbrair, o atual interesse dele e de seu grupo de pesquisa é entender a função das inervações, presentes em todos os tecidos do corpo, na progressão tumoral. "Este estudo pode abrir janelas para milhares de terapias no combate ao câncer", afirma o pesquisador, que propôs também no projeto o estudo do papel das células de Schwann, presentes no sistema nervoso periférico, no microambiente tumoral.

"Queremos avançar com essas informações até chegar em dados fortes o suficiente para levar nossas descobertas para a clínica. Por isso é que essa verba é tão importante. Os melhores projetos aprovados terão a possibilidade de ganhar R$ 1 milhão, recurso substancial e fundamental para a expansão da pesquisa", acrescenta o cientista, que conta com o apoio de uma rede de pesquisadores espalhados em universidades do Brasil e dos Estados Unidos.

Base de magnésio
Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade do Sul da Califórnia, com estágios de pós-doutorado realizados nas universidades de Southampton e do Sul da Califórnia, Roberto Braga Figueiredo leciona disciplinas na área de materiais na UFMG desde 2011. Figueiredo se dedica a estudar novos materiais que, para serem utilizados em engenharia, precisam se comportar de forma previsível quando submetidos a estímulos como força e calor. 

Braga investiga, entre outros assuntos, deformação plástica severa e materiais nanoestruturados
Braga investiga, entre outros assuntos, deformação plástica severa e materiais nanoestruturados Arquivo pessoal

"Materiais com função estrutural precisam ser capazes de suportar alguns níveis de tensão sem quebrar", explica ele. É importante também que o material seja capaz de deformar plasticamente antes de quebrar, para permitir dar forma a componentes e também para absorção de energia em caso de impacto. "Um dos focos do meu projeto de pesquisa é o desenvolvimento de materiais à base de magnésio, com elevada capacidade de deformação plástica e capacidade de suportar maiores tensões", esclarece o cientista.

Segundo o pesquisador, esses materiais poderiam ser utilizados para a fabricação de componentes estruturais mais leves. "Outro foco do meu trabalho é o desenvolvimento de materiais à base de magnésio que apresentem degradação controlada em meio fisiológico, para permitir a fabricação de implantes biodegradáveis. O desenvolvimento desses novos materiais terá como princípio o controle da estrutura do magnésio e sua mistura mecânica a outros materiais para melhoria das propriedades", afirma.

O edital
A chamada foi destinada a cientistas que tivessem concluído o doutorado há, no máximo, dez anos. Segundo o diretor do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu, a primeira etapa foi realizada de forma anônima e eliminou cerca de 90% das propostas, oriundas de 331 instituições diferentes, de 26 unidades federativas do país. Os 200 projetos restantes passaram por nova avaliação, conduzida por revisores nacionais e internacionais.

Os recursos começarão a ser aportados em janeiro de 2018. Após esse período, uma nova seleção indicará de 10 a 12 projetos, que serão contemplados com até R$ 1 milhão para um período de três anos.

O Instituto
Sediado no Rio de Janeiro, o Serrapilheira é instituição privada organizada sob a forma de associação civil e sem fins lucrativos. Opera com recursos oriundos de um fundo patrimonial constituído por doação de Branca e João Moreira Salles, no valor de R$ 350 milhões. A instituição propõe atuar de forma complementar às agências de fomento dos governos federal e estaduais no estímulo a grupos de pesquisa e encorajar grupos jovens, ousados e criativos a desenvolver pesquisa de ponta. O Serrapilheira nasceu em 2014, mas foi oficialmente lançado em março deste ano. 

(Com Assessoria de Comunicação da Academia Brasileira de Ciências)