Comunidades tradicionais prejudicadas pelo desastre de Brumadinho continuam desamparadas
Dois anos depois do rompimento da barragem, várias ainda não receberam auxílios emergenciais, apesar de o Ministério Público reconhecê-las como atingidas
O rompimento da barragem B1 da mineradora Vale na mina Córrego do Feijão, no município de Brumadinho, aconteceu em 25 de janeiro de 2019. Dois anos depois do desastre, que matou 270 pessoas (das quais 11 continuam desaparecidas), comunidades tradicionais atingidas buscam receber auxílios emergenciais e, afinal, ter os danos reparados pela Vale, como mostra reportagem produzida pela Rádio UFMG Educativa.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), essa é a situação de comunidades indígenas e quilombolas, de povos de terreiro e de religiões de matriz africana, de pescadores artesanais e outros tipos de comunidade tradicional. Até agora, somente uma foi reconhecida pela Vale como atingida pela catástrofe e tem sido beneficiada com medidas emergenciais: a aldeia Naô Xohã, que reúne indígenas das etnias Pataxó e Pataxó Hãhãhãe e situa-se à margem do rio Paraopeba, no município de São Joaquim de Bicas.
Além de detalhar os danos sofridos pela Naô Xohã, a reportagem da UFMG Educativa entrevistou representantes de duas comunidades tradicionais que, apesar de reconhecidas pelo MPF como atingidas, ainda não foram assistidas pela Vale. Uma delas é o Quilombo de Pontinha, localizado em um território que margeia o rio Paraopeba. A contaminação do rio pelos rejeitos de minério prejudicou gravemente o principal sustento dos moradores, a venda de minhocoçu para pescadores, como relatou Renato Moreira Gonçalves, membro da Associação Comunitária do quilombo.
A reportagem também conversou com Altair Teodoro da Silva, vice-cacique da aldeia Capão do Zezinho, que reúne indígenas da etnia Kaxixó e localiza-se nas margens do rio Pará, no município de Martinho Campos. Vários danos sofridos pela comunidade, causados pelo rompimento da barragem, são descritos em um relatório produzido por uma assessoria técnica independente, o Instituto Guaicuy, e entregue ao MPF. Os moradores dizem que a poluição do rio Paraopeba fez o rio Pará sofrer com um aumento na quantidade de pescadores e no número de empreendimentos particulares que se abastecem com suas águas. Na comunidade, a pesca se tornou mais difícil e a travessia por canoas foi prejudicada.
A Vale, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que “tem cuidado das famílias impactadas, prestando assistência para restaurar sua dignidade, bem-estar e meios de subsistência”. A mineradora informa também que, “durante todo o processo de reparação, se mantém aberta ao diálogo construtivo” com o poder público e comunidade “para discutir e avaliar eventuais impacto em outras famílias e comunidades”.
Quer saber mais sobre os danos sofridos pelo Quilombo de Pontinha e pela aldeia Capão do Zezinho? E sobre o que tem sido feito para que a Vale reconheça essas comunidades como atingidas? Ouça a reportagem produzida por Tiago de Holanda, com trabalhos técnicos de Breno Benevides.
Ouça também a 1ª reportagem, que discute a necessidade de realização de um diagnóstico sobre os danos dois anos depois do desastre e fala sobre os impactos materiais e imateriais do rompimento da barragem.