Institucional

Condução é 'tão ultrajante' quanto o nome da operação, critica Anpof

A Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (Anpof) se solidariza com os dirigentes e ex-dirigentes da UFMG conduzidos coercitivamente em uma ação espetacularizada, abusiva, desproporcional e injustificada, uma vez que os representantes da universidade sequer foram previamente intimados ou mesmo foram informados durante a condução sobre que acusação pairava sobre eles.

A mobilização de 84 policiais federais, 15 auditores da CGU e dois do TCU para cumprir oito mandados de condução coercitiva e onze de busca e apreensão é tão ultrajante quanto nomear a operação como “Esperança equilibrista”, em clara pretensão de aviltar uma canção simbólica da resistência a ações como esta no período da ditadura. Não podemos admitir que agentes públicos utilizem expedientes autoritários para promover a corrupção das garantias constitucionais em nome de um suposto combate à corrupção – a qual, cabe mencionar, parece nunca ter circulado tão sem peias às vistas dos mesmos agentes.

Difícil compreender como uma universidade cada vez mais abrangente regionalmente, mais acessível às camadas da população economicamente mais frágeis e socialmente excluídas e que, além disto, produz 90% do conhecimento em nosso país esteja sob um ataque cerrado e arbitrário de forças que deveriam zelar pelos direitos fundamentais e o cumprimento da lei, como a Polícia Federal, com a cumplicidade dos que silenciam enquanto deveriam salvaguardar o estado de direito – mas talvez tenhamos de lamentavelmente admitir que é precisamente por isto que ela se tornou alvo privilegiado de achaques como os que ocorreram UFRGS, na UFPR, na UFSC e na UFMG.

Em seus ataques à universidade pública até agora a Polícia Federal não conseguiu justificar suas ações espetaculares e arbitrárias, que têm causado danos irreparáveis a pessoas e instituições fundamentais da nossa sociedade sem que se prove qualquer conduta ilícita além daquela da própria Polícia Federal. As universidades públicas já têm de lidar há um bom tempo com limitações de toda ordem para seguir cumprindo seu papel fundamental em benefício da sociedade brasileira, mas continuamos sabendo a serviço de quem e de que está a universidade pública. A questão é: a serviço de quem ou de quê está a Polícia Federal?

Solidarizamo-nos com os colegas destas universidades e nos juntamos a várias pessoas, movimentos e instituições que estão se mobilizando para que esta lista não aumente e para que a universidade pública, um dos nossos maiores patrimônios, não seja vilipendiada devido a interesses obscuros a operar à margem da lei. Por maior que seja o ressentimento dos que compreendem que o acesso à universidade deveria continuar a ser privilégio de casta, a universidade pública continuará a ter cada vez mais o tamanho e as cores do Brasil.