Arte e Cultura

Ataques à arte refletem momento político do país, afirma Rodrigo Duarte

Organizador de congresso de estética concedeu entrevista à Rádio UFMG Educativa

Exposição de Pedro Moraleida no Palácio das Artes: alvo de protestos
Exposição de Pedro Moraleida no Palácio das Artes foi alvo de protestos Facebook Fundação Clóvis Salgado

Protestos contra manifestações artísticas e culturais registrados nas últimas semanas em várias cidades brasileiras levantam a seguinte questão: quais são os fins, os propósitos e as finalidades da arte? Esse é um dos assuntos debatidos por professores e pesquisadores de todo o país até sexta-feira, 20, no 13º Congresso Internacional de Estética – Brasil. O evento é organizado pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFMG, em parceria com a Associação Brasileira de Estética (Abre), e ocorre na Fafich, no campus Pampulha.

Em setembro, a exposição Queermuseu foi cancelada em Porto Alegre (RS) sob acusações de zoofilia e desrespeito a religiões. No mesmo mês, a Justiça determinou a suspensão de uma peça de teatro em Jundiaí (SP) em que uma mulher trans interpretaria o papel de Jesus Cristo. Já a performance La Bête (O Bicho), do artista Wagner Scwartz, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, foi acusada de incitar a pedofilia.

Em Belo Horizonte, protestos contra manifestações artísticas ocorreram pelo menos duas vezes neste mês. Um deputado estadual anunciou que pediria a suspensão da peça que já havia sido vetada em Jundiaí (SP), mas recuou posteriormente. O espetáculo O Evangelho segundo Jesus, rainha do céu foi encenado na Funarte sob protestos liderados por grupos religiosos contrários à ideologia de gênero. No Palácio das Artes, o alvo foi a exposição Faça Você Mesmo sua Capela Sistina, do artista Pedro Moraleida (1977-1999).

Rodrigo Duarte, professor do Departamento de Filosofia da UFMG e integrante da comissão organizadora do Congresso, acredita que esses protestos são orquestrados por grupos políticos e religiosos conservadores e reacionários que até pouco tempo atrás levantavam a bandeira do combate à corrupção. "Isso tudo não pode ser distanciado do momento político que a gente está vivendo. Esse tipo de protesto é pura hipocrisia. Não há crime, nenhuma lei foi violada", afirmou em entrevista ao programa Conexões da Rádio UFMG Educativa desta quarta-feira, 18.

"Chama a atenção o fato de que essas pessoas não são frequentadoras de museus e galerias. A cultura e a arte precisam ser respeitadas. Não existe uma má intenção por parte dos artistas. O que seria uma iniciativa elogiável como o Queermuseu, por exemplo, que coloca em pauta a questão dos LGBTs, algo generoso e importante de ser feito, de repente se reverteu em uma coisa odiosa, terrível e perversa", lamenta Duarte.

O professor do Departamento de Filosofia aproveitou para criticar a seletividade dos protestos. "Por exemplo, quando aparecem na televisão crianças cantando músicas com letras que falam de sexo explícito, ninguém reclama ou faz manifestação contrária. Existe uma permissividade enorme", compara.

Os fins da arte

Com o tema Os fins da arte, o Congresso pretende levar aos convidados uma provocação, visto que a palavra "fim" carrega uma ambiguidade – entendida como finalidade ou término. Os pesquisadores apresentarão diversas interpretações para essa questão à luz do texto Cursos de estética do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel – que, no início do século 19, decretou a “morte da arte”. "Conceitualmente, haveria razões para temer o fim da arte. Mas do ponto de vista factual, a arte está aí, os artistas estão produzindo e mobilizando pessoas", questiona o professor Rodrigo Duarte.

ouca-a-conversa-com-luíza-glória-18-10-2017.mp3

Saiba mais sobre o Congresso de Estética neste link.