Pesquisa e Inovação

Discurso da ‘ideologia de gênero’ prejudica abordagem da escola sobre sexualidade

Trabalho apresentado na Semana de Iniciação Científica mostra que professores são pressionados por grupos conservadores, mas alunos demonstram adesão aos conteúdos

Reprodução de trecho das apresentações de Humanidades na Semana do Conhecimento.
Estudantes e professores na sessão virtual da área de Humanidades
Reprodução

A abordagem de gênero e sexualidade na escola tem sido combatida por grupos que a desqualificam com a expressão “ideologia de gênero”. No entanto, crianças com acesso a conteúdos referentes a esses temas demostram adesão a eles e resistem à ofensiva conservadora. Esse cenário foi constatado por pesquisa realizada em uma escola de ensino fundamental de Belo Horizonte.

Os resultados do trabalho Gênero e sexualidade na escola: as crianças como vetores de resistência no currículo escolar foram apresentados pela estudante Sabrina Sanches Martins, da Faculdade de Educação, nesta quarta-feira, dia 21, durante sessão virtual da 29ª Semana de Iniciação Científica, evento que integra a programação da 29ª Semana do Conhecimento UFMG.

O objetivo da pesquisa foi investigar os efeitos da atuação dos movimentos conservadores no currículo escolar e mapear os cenários de resistência às discussões sobre gênero e sexualidade. “O fato é que docentes que atuam nessa área vêm sendo acuados por pressões políticas, e crianças que não são instruídas adequadamente na escola ou em casa sobre o tema expõem-se a variados riscos”, afirmou Sabrina.

Durante um ano, o grupo da Faculdade de Educação acompanhou uma turma do ensino fundamental de uma escola pública de Belo Horizonte. Ela foi dividida de forma que parte dos alunos assistiu a aulas sobre gênero e sexualidade no contraturno (como atividade extra, fora da grade curricular), enquanto aqueles limitados ao turno regular não tiveram acesso a esse tipo de conteúdo.

“Enquanto os estudantes sem acesso às atividades extras raramente eram instruídos pela professora, que temia pressões políticas, os alunos do contraturno não só ensinavam seus pares, como também denunciavam situações inadequadas aos pais e professores, levando a escola a adotar práticas para trabalhar o assunto, em vez de simplesmente ignorá-lo”, relatou Sabrina. 

O projeto de Sabrina Sanches, orientado pela professora Marlucy Alves Paraíso, foi exposto junto com outros nove trabalhos da área de Humanidades.

Dramas on-line
Outra experiência apresentada na tarde de ontem foi o projeto Das prateleiras à cena: leituras dramáticas a partir de acervos e laboratórios dos escritores, que é desenvolvido no âmbito do Acervo de Escritores Mineiros (AEM).

De acordo com o estudante Felipe Oliveira, do curso de Letras, até 2019, as apresentações das cenas eram feitas de forma presencial na Biblioteca Central (sede do Acervo) para as escolas de educação básica. Devido à crise sanitária, a iniciativa foi transposta para o meio virtual. “Criamos nas redes sociais o projeto Leituras, em que os bolsistas fazem leituras dramáticas de contos e crônicas. Essa produção é postada no Instagram”, explicou Felipe.

Orientado pela professora Elen de Medeiros, o projeto cresceu e gerou um fruto: a radionovela A volta para Marilda, inspirada na obra do escritor mineiro Oswaldo França Júnior. “Foi um projeto que surgiu para responder a uma emergência e mostrou-se extremamente potente, uma vez que atingiu um público maior do que o esperado. E confirmou que a combinação de teatro, literatura e museu é um ótimo instrumento de educação”, avaliou o estudante.

As apresentações de Sabrina, Felipe e dos outros estudantes com projetos inscritos na área de Humanidades estão disponíveis no canal da Pró-reitoria de Pesquisa no YouTube. A programação da Semana pode ser acessada aqui

Marcella Cacique