Institucional

Formação de professores é desafio histórico, diz Bernadette Gatti

Professora da USP abriu o ciclo de debates da Comfic na noite desta quinta, dia 27

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Bernardete Gatti: autonomia para conceber modelos de formaçãoMatheus Espíndola | UFMG

Há muitas produções bibliográficas e experiências práticas inovadoras no campo da formação de professores, "mas são poucas as iniciativas institucionais que reformulam coletivamente a licenciatura no sentido ético e político, pensando no futuro".

A observação é da professora aposentada e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP Bernardete Gatti, convidada da primeira edição do ciclo de debates promovido pela Comissão para Discussão e Elaboração das Políticas de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica da UFMG (Comfic), realizada na noite desta quinta-feira, dia 27. 

Com o tema Formação docente: currículos e percursos formativos – Qual perfil de professores/as a UFMG se propõe a formar?, a mesa, on-line, foi promovida para discutir os currículos e percursos formativos de professores, com foco no perfil de docentes graduados pela UFMG.

Como reforçou Bernadete Gatti, embora as instituições tenham autonomia para conceber modelos de formação ao estilo da sua tradição, de modo que possam chegar a alternativas inovadoras, a valorização da formação de professores no Brasil representa um desafio histórico.

“Durante mais de um século, o ativismo em favor de priorizar esse aspecto, infelizmente, não teve eco. Nos últimos 20 anos, foram publicadas três resoluções do Conselho Nacional de Educação que não conseguiram provocar o efeito de atualizar as práticas institucionais”, lamentou.

Mudanças e resistência
O gargalo em relação às questões relacionais que podem fundamentar conceitos pedagógicos mais construtivos também foi mencionado por Bernadete Gatti. “Nas instituições de ensino superior, temos dificuldades para implantar uma discussão capaz de provocar transformações. Isso porque, mobilizado um contexto de ideias novas e propostas de ação diferenciadas, partes estruturais da instituição terão que ser mudadas. E as mudanças, nem sempre, são bem-vindas para as pessoas, costuma haver resistências”, argumentou a professora.

O debate ocorreu no contexto da criação, pelo Ministério da Educação (MEC), de um grupo de trabalho destinado à discussão da formação inicial de professores no país.

O professor Bruno Leal, a mediadora do debate, professora Vanessa Miranda, a reitora, Sandra Goulart, e a convidada do ciclo de debates, professora Bernadete Gatti
O professor Bruno Teixeira, a mediadora do debate, professora Vanessa Miranda, a reitora Sandra Goulart e a convidada do ciclo de debates, Bernadete Gatti Reprodução de tela: Matheus Espíndola | UFMG

Horizonte e inspiração
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida destacou a necessidade de considerar a educação como um bem público e a responsabilidade da UFMG de promover “uma inserção social nos rumos da educação básica”. 

“Que tipo de ensino e aprendizagem temos que construir? É preciso pensar em atividades que gerem impacto para nossa instituição e também para a educação básica como um todo, que é onde nasce o interesse pelo conhecimento”, disse.

Nas palavras da pró-reitora de Extensão, Cláudia Mayorga, a UFMG tem abraçado a missão de fortalecer a formação continuada de professores, que ela considera fundamentais no processo de reconstrução de um país com mais justiça social. “Os sujeitos que dedicam sua vida e história a educar são nosso horizonte e inspiração. Estão ali no 'chão da escola', acolhendo, promovendo escutas, produzindo metodologia e conhecimento", avaliou.

O pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira, informou que a UFMG oferece 18 cursos de licenciatura, com cerca de cinco mil estudantes. Segundo ele, o primeiro ciclo de debates da Comfic deve provocar reflexões e o planejamento de ações. “Não basta ter excelência no ensino superior; ele precisa ser articulado com a educação básica."

O vídeo com a gravação do debate está disponível no canal da Coordenadora de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube.

Ponte
A Comfic é a instância que faz a ponte entre a formação de professores na UFMG e as demandas das escolas de educação básica, formulando políticas de diálogo para auxiliar na formação dos profissionais de licenciatura. 

Ao organizar eventos e atividades abertas a todos os públicos, a Comissão confere visibilidade às ações de ensino, pesquisa e extensão da UFMG relacionadas à formação inicial e continuada de professores e profissionais de licenciatura. 

Instância que viabiliza a interação entre a UFMG e as Redes de Educação Municipal, Estadual e Federal, a Comfic é vinculada às pró-reitorias de Graduação (Prograd) e Extensão (Proex) da Universidade.

A Comfic promoverá, ainda neste primeiro semestre, um evento que tratará dos estágios supervisionados nas licenciaturas da UFMG.

Matheus Espíndola