Em noite de memórias e contação de casos, Gérson Pianetti recebe o título de emérito da UFMG
Docente, que dirigiu a Faculdade de Farmácia, ajudou a consolidar a profissão de farmacêutico no Brasil
![Foto: Foca Lisboa | UFMG G](https://ufmg.br/thumbor/hRfKoKxwFHqkzzUfm4jikNRqfc8=/0x0:3005x2002/712x474/https://ufmg.br/storage/e/0/c/a/e0cacdbec7e636ffee389310315d0044_16929761137679_1385014439.jpg)
"Se eu fosse um memorialista, escreveria um livro contando sobre todas as 'pérolas' que coletei durante quase 50 anos de profissão. Aprendi coisas nos rincões mais distantes da vida.” Com esse preâmbulo, o professor Gérson Pianetti, da Faculdade de Farmácia, inaugurou o pronunciamento que arrancaria repetidas gargalhadas do público durante a solenidade em que foi agraciado com o título de professor emérito da UFMG, ocorrida na noite desta quinta-feira, dia 24.
Deixando de lado a formalidade e o protocolo, o homenageado tomou como fio condutor de seu discurso uma lista bem-humorada de lições assimiladas em contextos diversos e improváveis. “Mesmo quem ainda não me conhece vai se sentir dentro da minha história”, anunciou.
O primeiro relato foi de uma ocasião em que, durante missão do Projeto Rondon no interior do Rio Grande do Norte, ele e seu grupo de pesquisadores, com o carro enguiçado num local inóspito e após longa caminhada sob o sol escaldante, precisaram pedir água a uma moradora. “Ela nos ofereceu água num pote, mas, sobre o líquido, havia uma nata que parecia ferrugem. Perguntei-lhe o que era aquilo, e ela respondeu: ‘não sei, mas embaixo é água’. Então aprendi que ‘água é água’. Provavelmente, aquele precário — mas valioso — pote de água fora trazido de uma longa distância até aquela localidade”, contou o professor.
Outro caso mencionado pelo homenageado deu-se durante a ditadura militar, quando oficiais cercaram o campus Pampulha. “O reitor [ele não citou o nome] foi até a portaria e perguntou ao general: ‘o que o senhor deseja?’. O militar respondeu: ‘entrar na universidade’. E a tréplica: ‘então faça o vestibular!’.”
Entre narrativas variadas sobre sua família e sua profissão, Pianetti reverenciou antigos professores, os quais, segundo ele, “sabiam botar a mão na massa”, e prestigiou seus alunos que vieram a ser, posteriormente, colegas de Departamento.
“Agradeço a Deus e a todas as pessoas que passaram por essa escola. Devo à UFMG tudo o que sou hoje. Aqui a gente aprende a falar e a escutar, a respeitar e a assumir aquilo que não se quer”, disse.
![Foto: Foca Lisboa | UFMG Sandra Goulart:](https://ufmg.br/thumbor/8uuVAkYEoBl7m6yhGL9mdgjXpCQ=/0x0:1960x3005/352x540/https://ufmg.br/storage/5/b/a/d/5badf464fdaf011df8779d65c2f5b0ee_16929762431997_918176887.jpg)
Imprescindível e decisivo
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida destacou que a UFMG, ao conferir o título de professor emérito a Gérson Pianetti, transmite a mensagem de reconhecimento por toda a carreira vivida na instituição. “No seu caso, não é pouco, são quase 50 anos! Sua dedicação à Faculdade de Farmácia tem sido incondicional. Sua presença é constante, tanto em atividades de ensino, pesquisa e extensão quanto em representações nacionais e internacionais”, afirmou.
Identificar pessoas cuja contribuição foi imprescindível e decisiva para a instituição é, como reforçou a reitora, fundamental “na esteira do esforço de coletividade”. “Você nos afetou com seus sentimentos, ações e movimentos e afetará sempre a escrita da história desta casa”, declarou a dirigente.
Nas palavras da diretora da Faculdade de Farmácia, Leiliane Coelho, o professor Pianetti, “além de ser a memória viva, tem uma história ímpar na Faculdade de Farmácia”. Em sua avaliação, o emérito enalteceu a unidade acadêmica “dentro e fora dos muros da UFMG”, e sua atuação foi fundamental para a valorização do ensino e da profissão de farmacêutico.
“Para mim, é muito gratificante e honroso falar de uma pessoa por quem tenho enorme admiração, respeito, apreço e amizade. Ele tem a característica de colocar a sua marca própria em tudo em que atua, por isso, faz a diferença", concluiu a diretora.