Notícias Externas

‘Enciclopédia Negra’ apresenta biografias e retratos de mais de 550 personagens

Obra abarca período do século 16 aos dias atuais e inclui retratos feitos por artistas negros convidados

Proposta inicial era retratar 50 personagens na obra; o número foi crescendo até ultrapassar os 550
Proposta inicial era retratar 50 personagens na obra; o número foi crescendo até ultrapassar os 550 Divulgação

O passado colonial deixou muitas marcas que reverberam até os dias de hoje. Uma das consequências desse período é o apagamento da história da população negra brasileira: são diversos registros biográficos, obras de arte e até mesmo livros de história desvalorizando ou ignorando a presença e a importância de diferentes figuras negras. Para preencher essas lacunas na história do país, o professor Flávio Gomes, o artista Jaime Lauriano e a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz se reuniram para produzir a publicação Enciclopédia Negra.

A obra reúne mais de 550 biografias de diferentes personalidades negras que marcaram o Brasil, entre eles revolucionários, intelectuais, artistas, atletas e líderes religiosos. Os textos são complementados por retratos dessas pessoas feitos por 36 artistas negros convidados. O livro engloba o período desde o século 16 até a contemporaneidade, com figuras de todo o país, e traz informações raramente difundidas. Até mesmo nomes mais conhecidos, como Zumbi dos Palmares, aparecem sob novas narrativas.

Nesta sexta, 19, véspera do Dia da Consciência Negra, o programa Universo Literário contou com a participação do professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Flávio Gomes. O convidado contou como o projeto nasceu e foi crescendo. Inicialmente a proposta era apresentar relatos sobre 50 personagens e foi aumentando até ultrapassar os 550. Segundo Gomes, a questão de gênero foi um critério importante na composição da obra, uma vez que havia pouquíssima informação sobre as mulheres nos registros.

O docente destacou que a importância de determinados personagens pode cegar para o valor de outros. “Ao recuperar Zumbi, que de fato é importante, nós sabemos hoje em termos historiográficos que essa imagem dele apagou Ganga-Zumba, que é o líder anterior de Palmares, apagou outras lideranças de Palmares, que nós fizemos também verbete coletivo, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, até mesmo personagens que aparecem liderando Palmares depois do assassinato de Zumbi, como Mouza e Camoanga”, detalhou.

O pesquisador reconheceu avanços na luta antirracista, mas ressaltou que é preciso mais mudanças, até a superação do racismo. “Vários setores sociais progressistas, não os conservadores, reconhecem a existência do racismo, mas não reconhecem os racistas. Racismo não é uma dimensão pessoal, individual, de gostar ou não de alguém. É uma dimensão na qual a própria estrutura da sociedade, as formas como ela se organiza, das oportunidades, da letalidade policial, da presença ou não do Estado em determinados setores, tem uma dimensão totalmente articulada com a suposta naturalidade da desigualdade racial no Brasil. Acho que a gente tem avançado, as políticas públicas no Brasil como um todo são um exemplo de lutas sociais transformadas em direitos. Obviamente, do ponto de vista da democracia, nós precisamos avançar muito e não haverá democracia com racismo”, analisou.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

Enciclopédia Negra, de Flávio Gomes, Lilia Schwarcz e Jaime Lauriano, é uma publicação da Companhia das Letras. Mais informações estão disponíveis no site da editora.

Produção: Alexandre Miranda e Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luíza Glória
Publicação: Alessandra Dantas