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Enem 2021: ameaças de interferência do governo não se concretizam, analisa especialista

Professora da Unicamp Dirce Zan destacou competência da equipe de elaboração das questões e importância das denúncias de servidores do Inep para que a integridade do exame fosse mantida

A edição de 2021 teve apenas 3,1 milhões de inscritos, menor número desde 2005.
A edição de 2021 teve apenas 3,1 milhões de inscritos, menor número desde 2005. Adriano Sena/Flickr

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 já começou. As notas dos estudantes no teste permitem a entrada em instituições de ensino superior para milhões de brasileiros. As primeiras provas foram realizadas nesse domingo, 21, abordando conteúdos de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias e a tão aguardada redação. As semanas que antecederam o certame foram marcadas por controvérsias e dúvidas.

No início de novembro, após o pedido de demissão de 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, surgiram denúncias de tentativas de interferência no conteúdo e acusações de assédio moral do atual presidente do Instituto, Danilo Dupas. A desconfiança quanto à segurança das provas aumentou após declarações do presidente Jair Bolsonaro na última semana, que afirmou que o Enem começa a ter “a cara do governo”.

Mesmo antes da crise atual no Inep, o Enem 2021 já era visto com preocupação, tendo o menor número de inscritos em 16 anos. O auge do exame em inscrições foi no ano de 2014, quando mais de 8,7 milhões de pessoas participaram. Nesta segunda-feira, 22, a professora da Unicamp e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Educação e Sociedade da Universidade, Dirce Zan, participou do programa Conexões, apresentado por Luiza Glória, para falar sobre a crise do Inep, o primeiro dia de realização das provas e o cenário de incertezas das semanas que o antecederam.

A docente traçou um panorama da trajetória do Enem, desde a sua criação, no final dos anos 90 e comentou o número mais baixo de inscritos desde 2005. Para ela, são muitos fatores que precisariam ser investigados, mas uma hipótese é o cenário de desalento que os jovens vivem, em virtude do aprofundamento da crise econômica. Outro aspecto citado foi o contexto de pandemia e perda de entes queridos, que traz sofrimento emocional e psicológico a todos.

Dirce Zan também avaliou como positiva a escolha do tema da redação, "invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil".
Sobre a segurança das provas, a professora frisou que as questões são desenvolvidas por pesquisadores e professores competentes, o que garantiu a qualidade técnica mesmo em meio às ameaças de interferência. Ela também destacou o papel dos servidores que fizeram as denúncias, pois, assim, as provas foram acompanhadas mais de perto pela sociedade como um todo.

"O que a gente vem acompanhando é que desde que o atual presidente assumiu o governo, nós temos vivido uma instabilidade muito grande com relação a políticas educacionais que já estavam mais consolidadas. [...] Essa ação, em especial com relação ao Inep, é de grande truculência porque é um órgão muito sólido e que está há muitos anos atuando na política educacional e apontando para avaliações. [...] Na medida que o atual presidente chega ao governo, nós vemos uma tentativa de desmonte de órgãos como esse e foi muito importante, por um lado, esses funcionários virem a público e denunciarem o risco que a edição de 2021 estava vivendo. Isso faz com que todos nós, pesquisadores, judiciário, Ministério Público, estudantes, famílias, voltemos nossos olhos para essa edição para garantir que ela ocorra com a maior lisura possível", comentou.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

Para mais informações sobre a realização das provas e acesso ao gabarito oficial, basta acessar a página do Enem.

Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Carlos Ortega, sob orientação de Alessandra Dantas