Institucional

Especialistas defendem institucionalização dos museus universitários

Em live organizada pelo MHNJB, participantes indicaram demandas como qualificação de recursos humanos e abertura de linhas de fomento específicas

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Sanda Goulart: museus nos organogramas das instituiçõesRaphaella Dias / UFMG

“Os museus universitários deveriam ser contemplados nos organogramas das instituições, inclusive, com linhas de fomento específicas”, defendeu a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, em evento realizado na noite de ontem com especialistas da área. Com o tema Museus universitários: desafios e oportunidades, a conversa foi transmitida pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) da UFMG no YouTube, onde está disponível, com tradução em Libras.

Para Sandra Goulart, a institucionalização dos museus é fundamental, já que “eles competem com todas as outras atividades da universidade”. “É algo difícil para o gestor, ainda mais no atual contexto de cortes orçamentários”, comentou. Em junho do ano passado, depois do incêndio que atingiu parte do acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes) criou o Grupo de Trabalho Museus Universitários, e a reitora Sandra Goulart Almeida foi designada para exercer sua coordenação.

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Carolina Vilas Boas: diminuir sensação de isolamentoRaphaella Dias / UFMG

A diretora do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Carolina Vilas Boas, alegou que a emergência de recursos e ferramentas para a digitalização dos acervos dos museus é uma demanda que precisa ser atendida. “Esse movimento ainda é raro e está praticamente circunscrito à esfera do improviso”, observou. Carolina Vilas Boas também reivindicou mais parcerias e o estreitamento de informações com os demais órgãos que se conectam com os museus universitários, como o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. “É preciso estabelecer, com maior clareza, o papel desempenhado pelos museus, com o objetivo de diminuir a sensação de isolamento”, argumentou.

Números sobre os museus universitários brasileiros também foram fornecidos pela dirigente do Ibram. Segundo ela, o conjunto das instituições de preservação de memória chega a 3,8 mil em todo o país, incluindo herbários, jardins botânicos, jardins zoológicos e centros de memória. De acordo com o último levantamento, existem 459 museus federais. Desses, 200 são ligados diretamente às universidades. Outros 27 museus universitários são vinculados a instituições privadas ou fundações. Há também 56 museus municipais ou estaduais, vinculados a instituições de ensino.

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Marta Lourenço: barreira invisível
Raphaella Dias / UFMG

Órfãos em ambos os mundos
A professora Marta Lourenço, da Universidade de Lisboa, definiu os museus universitários como “pontes entre a academia e a sociedade, entre os cidadãos e o conhecimento sobre as grandes questões da contemporaneidade”. No entanto, há, segundo ela, a prevalência de uma contradição nesse universo. “Os museus podem fazer coisas extraordinárias, mas não é assim tão fácil. Nem sempre somos protagonistas. Os museus estão frequentemente isolados tanto dentro das suas próprias universidades quanto entre os seus pares no mundo dos museus. São órfãos em ambos os mundos e nunca se encaixam verdadeiramente em nenhum deles”, lamentou.

Embora estejam muitas vezes fisicamente próximos dentro dos departamentos, acrescentou Marta Lourenço, a barreira invisível entre o museu e a vibrante vida das salas de aula e dos laboratórios parece intransponível. “Intensificar o uso dos museus por professores, pesquisadores e estudantes é um desafio, assim como trazer o público geral para o campus. As pessoas não se sentem autorizadas a entrar nos campi. Embora exista um enorme potencial para que os museus universitários se consolidem como ‘pontes’, o ideal está longe de ser alcançado”, provocou a professora, que é presidente do International Council of Museum's Committee for University Museums and Collections (Umac/Icom).

A diretora do MHNJB, professora Mariana Lacerda, que mediou o debate, observou que cabe aos trabalhadores dos museus e aos gestores das universidades buscar soluções. “As universidades que não investem em museus não investem na própria memória”, sentenciou. 

Matheus Espíndola