Estudantes da UFMG participam de censo sobre saúde mental
Resultados do levantamento vão subsidiar medidas capazes de aprimorar o acolhimento no cotidiano e nos diversos espaços da Universidade; participação é voluntária
Nesta segunda, 6 de janeiro, os estudantes da UFMG começam a receber um convite para participar da pesquisa A saúde mental dos estudantes universitários. A adesão é voluntária, e a estimativa é o que preenchimento do formulário tome de 15 a 20 minutos. As respostas poderão ser enviadas até o início de março.
A iniciativa é da World Universities Network (WUN), rede que congrega 24 instituições de todos os continentes e da qual a UFMG faz parte. A primeira seção do questionário foi elaborada pelas universidades-membros que lidam com saúde mental, com foco em ansiedade, depressão e uso abusivo de álcool, fenômenos que têm crescido de forma expressiva na faixa etária da população universitária; a outra foi concebida na UFMG, especificamente para seu corpo discente.
Segundo a professora Teresa Kurimoto, integrante da Comissão Permanente de Saúde Mental da UFMG, o objetivo da WUN é levantar dados sobre condições de sofrimento para buscar soluções. Na Universidade, o foco está em conhecer o quadro geral e apoiar os estudantes na busca de serviços de cuidado e tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) ou em outras instâncias de atendimento.
Teresa destaca os argumentos capazes de convencer os discentes da UFMG a participar da pesquisa: “Os jovens dessa geração já entenderam a importância da saúde mental para a vida deles. E estão cientes de que uma política para uma universidade mais acolhedora [a UFMG está formulando sua política de saúde mental] precisa estar sustentada em dados”.
Cada estudante que participar do levantamento estará contribuindo, segundo ela, para uma política mais robusta, capaz de alcançar o corpo discente em sua realidade. “Doar o tempo para essas respostas será um ato de solidariedade”, afirma a professora da Escola de Enfermagem e presidente da Fundação Universitária Mendes Pimentel, a Fump.
Cuidado e segurança
Presidente da Comissão Permanente de Saúde Mental, o vice-reitor Alessandro Moreira lembra que, ao longo dos últimos anos, o esforço de desenvolvimento da política de saúde mental apresenta marcos importantes, como a criação do site especialmente dedicado e a definição de diretrizes para os núcleos de escuta das unidades acadêmicas. “Agora chegou a hora de ouvir a comunidade, começando pelos estudantes de graduação e de pós-graduação. Mais tarde, ampliaremos o censo para os servidores docentes e técnico-administrativos. Essa iniciativa é muito importante para a consolidação da política de saúde mental, que planejamos lançar em alguns meses”, afirma Alessandro Fernandes. Ele ressalta que o projeto do censo passou por análise do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (Coep).
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirma que a saúde mental da comunidade universitária é uma das prioridades para a UFMG e ressalta que o processo que vai levar à conclusão e à divulgação da política tem sido conduzido de forma cuidadosa e segura. “A questão da saúde mental da comunidade universitária, preocupação em todo o mundo, tem sido impactada por mudanças de várias ordens. É importante escutar a nossa comunidade para a elaboração de nossa política nesse campo", afirma Sandra, que deixou recentemente a presidência da WUN. “Agora contamos com a parceria valiosa de outras universidades da rede para dar esse passo fundamental do processo, que é o censo na comunidade universitária.”
Três professoras são responsáveis pela aplicação da pesquisa na UFMG: Janaína Soares (coordenadora), Renata Marques de Oliveira, ambas da Escola de Enfermagem, e Ilka Afonso Reis, do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas. A parte do questionário dirigida aos estudantes da Universidade foi elaborada por esse trio e pela Comissão Permanente de Saúde Mental.
De acordo com Janaína Soares, as perguntas da WUN recaem sobre aspectos como dados sociodemográficos, escalas de comportamento, uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas e sintomas como depressão e ansiedade. As questões elaboradas pela UFMG, por sua vez, avaliam a interação do estudante com a Universidade, a relação com os colegas, as violações de direitos humanos, a visão dos serviços de apoio à saúde mental, os recursos que têm sido buscados, os tipos de suporte que desejam e o impacto das normas e das atividades acadêmicas sobre a saúde mental.
O questionário é acessível: cada pergunta é acompanhada de dispositivo que abre um vídeo com a pergunta em Libras. O processo pode ser interrompido – as respostas são salvas, e o estudante pode retomar mais tarde, no ponto em que parou. Os convites, com uma apresentação e o link para a pesquisa, já estão chegando aos e-mails institucionais dos discentes. Também será possível acessar o formulário pelo QR Code divulgado em cartazes e nas redes sociais.
Princípios definidos e espaços em atuação
Teresa Kurimoto salienta que a formalização da política de saúde mental vai consolidar e dar sequência a um processo iniciado há um bom tempo. “Temos a lógica, os princípios, as diretrizes e espaços agindo. Mas, nesse campo, vamos mais devagar, a situação é mais complexa que em outras temáticas. Temos dialogado com a comunidade, visitamos todas as unidades acadêmicas”, afirma a professora, que anuncia a instalação de um núcleo central de apoio aos núcleos já atuantes nas unidades.
De acordo com Teresa, a adesão dos estudantes ao trabalho que vem sendo feito na área da saúde mental é semelhante à dos servidores. “Quando os discentes conhecem, eles apoiam. O desafio é fazer conhecer, é conseguir que as pessoas entendam, acompanhem. Esse esforço é constante, inclusive por causa da renovação semestral dos estudantes.” Ela conta que a expectativa dos discentes é, sobretudo, que haja espaços para prover cuidados. “Explicamos que o objetivo não é esse, e sugerimos as instâncias apropriadas, incluindo, no âmbito da UFMG, o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), na Fafich; no âmbito do SUS, é possível, por exemplo, recorrer aos ambulatórios de psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG, que têm acesso aberto a todos os cidadãos.
Também integrante da CPSM, a professora Andréa Guerra, do Departamento de Psicologia da Fafich, esteve em junho deste ano, junto com o vice-reitor Alessandro Moreira, em encontro da WUN sobre saúde mental na Universidade de Leeds, no Reino Unido. Ela conta que a presença de representantes de universidades do Norte e do Sul globais enriqueceu as conversas, uma vez que as realidades nos países são muito distintas. “O professor Alessandro apresentou nosso olhar para a questão, uma abordagem que não é clínica, mas de acolhimento, e isso despertou grande interesse. Muitos participantes pediram que enviássemos mais informações”, revela.
Corpo discente mais sensível
Andréa destaca que a mudança de perfil dos estudantes que passaram a ingressar nos últimos anos mudou a UFMG: o corpo discente ficou, segundo ela, muito mais sensível à cobrança acadêmica que segue o “padrão produtivista neoliberal, muito exigente. Nos adaptamos a esse modelo sem crítica. E o capital cultural do novo conjunto dos estudantes é muito diferente”.
A professora da Fafich ressalta que a OMS preconiza um novo modelo de saúde mental, que tem como um de seus pilares o conceito de ambientes que promovem saúde. “O modelo produtivista não é assim. A pesquisa que será aplicada entre nossos estudantes vai funcionar como um termômetro capaz de ajudar a repensar a Universidade nessa outra configuração de mundo”, explica Andréa. Ela lembra que o corpo discente era mais homogêneo, e a diversidade hoje é muito maior. “Nosso propósito não é apenas lidar com as fragilidades dos estudantes, mas, com base nos novos problemas, planejar mudanças em diferentes contextos, como o de sala de aula, rever conteúdos e bibliografias”, afirma.
Além da comunicação do trabalho realizado, outro grande desafio da política de saúde mental da UFMG, na visão de Teresa Kurimoto, é desfazer a ideia de que falar de saúde mental é falar de doença. “A convicção de que uma coisa é diferente da outra está no próprio arcabouço teórico-metodológico que embasa a futura política de saúde mental da UFMG”, afirma a professora.
Comissão
A CPSM tem 13 assentos, ocupados, além do vice-reitor, por representantes da Pró-reitoria de Graduação, da Pró-reitoria de Pós-graduação, do Departamento de Acompanhamento Funcional e do Departamento de Atenção à Saúde do Trabalhador da Pró-reitoria de Recursos Humanos, da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, dos servidores técnico-administrativos, dos docentes, de estudantes de graduação e de pós-graduação e dos núcleos de acolhimento das unidades acadêmicas.