Estudantes indígenas colam grau no curso de Medicina
Dois alunos indígenas estão entre os cerca de 130 formandos de Medicina que colam grau na UFMG nesta sexta-feira, 23. Amaynara Silva Souza e Vazigton Guedes Oliveira, o Zig, são da etnia pataxó e vêm das terras indígenas de Carmésia, no Vale do Rio de Doce mineiro, e de Cumuruxatiba, no Sul da Bahia, respectivamente. A colação ocorrerá às 10h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, no campus Saúde.
Para os estudantes pataxós, adaptar-se à metrópole e à Universidade foi um processo de descobertas e desafios. As dificuldades da transição da vila para o meio urbano envolveram desde a geografia e o clima até o ritmo de vida e a distância da família, mas, segundo Amaynara, foram minimizadas pelo apoio dos colegas. Ela destaca também o papel da Fump para sua permanência na Universidade, garantindo condições que sua aldeia não teria meios de suprir.
![Arquivo pessoal Zig: grande conquista dos povos indígenas](https://ufmg.br/thumbor/8QgvBGCD_qIGx5ajFqLdKG3nFio=/10x0:349x520/352x540/https://ufmg.br/storage/8/1/1/a/811acb54a0c3756434ab00543a40dc4c_14824268509288_1467667042.jpg)
Apesar do choque cultural, Zig ressalta a importância da inserção de indígenas no ensino superior. “A oferta de vagas em outros cursos além da licenciatura [o curso de graduação Licenciatura Intercultural Indígena] é um desejo antigo dos nossos povos. Foi uma grande conquista de nossas lideranças junto com a Universidade”, comemora.
Zig refere-se ao Programa de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas, por meio do qual ele e Amaynara ingressaram na Universidade. A iniciativa integra as ações afirmativas para indígenas da Universidade, juntamente com as cotas e a formação de educadores indígenas. Instituído em caráter permanente em agosto deste ano, o programa destina vagas adicionais a membros de comunidades indígenas, garantindo-lhes acompanhamento pedagógico, acesso à Moradia Universitária e aos demais programas de assistência estudantil da UFMG.
![Acervo pessoal Amaynara: vagas suplementares beneficiam indígenas que receberam educação diferenciada](https://ufmg.br/thumbor/LAf9IGRhplZo2CNVwkOYMElAOno=/0x0:627x960/352x540/https://ufmg.br/storage/8/0/d/0/80d0588c12d996fe6e414531e1daf6f6_14824265214325_1255788357.jpg)
O preenchimento das vagas se dá por meio de processo seletivo específico, abrindo oportunidades a estudantes que não tiveram acesso ao ensino regular. Segundo Amaynara, o programa desempenha papel importante na inclusão de indígenas na Universidade: “As vagas suplementares conseguem atender os indígenas que receberam uma educação diferenciada na base e têm dificuldades de entrar na Universidade pelas cotas. No vestibular específico, as questões e o tema da redação estão relacionados ao contexto dos povos indígenas".
Os jovens pataxó aguardam agora os resultados da prova de residência médica para dar continuidade aos estudos. A intenção de ambos é se especializar em medicina de família e comunidade e retornar os conhecimentos obtidos na Universidade para as comunidades indígenas. “Meu objetivo é trabalhar com saúde indígena”, conta Amaynara. Zig pretende ganhar pelo menos um ano de experiência antes de retornar para sua aldeia. “Quero voltar para a comunidade o mais preparado possível”, justifica.
Em entrevista concedida à TV UFMG em setembro deste ano, Amaynara falou de sua escolha acadêmica e profissional e analisou a assistência estudantil da Universidade e a importância da inserção de indígenas no ensino superior.