Estudo com pacientes tratados no HC investiga possíveis sequelas da covid-19
Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, professora da Faculdade de Medicina comentou início da pesquisa e falou de resultados de outros estudos desenvolvidos até o momento
Além das estatísticas de casos confirmados e de mortes decorrentes da covid-19, instituições públicas e privadas têm divulgado o número de pacientes recuperados da doença. No entanto, mesmo quando as pessoas recebem alta do tratamento e estão liberadas para voltar a trabalhar e exercer outras atividades de sua rotina, ainda não se sabe, ao certo, se elas podem vir a desenvolver sequelas da doença.
Estudos publicados em revistas internacionais, como New England Journal of Medicine e Brain, documentam sintomas neurológicos observados em pacientes infectados pelo novo coronavírus. Outros dois estudos, publicados pela revista Journal of the American Medical Association, realizados com pacientes da Alemanha, sugerem a associação entre a covid-19 e problemas cardíacos. Na mesma revista, outra pesquisa, feita com 143 pacientes italianos supostamente recuperados, mostrou que 87% continuam se queixando de algum sintoma, como fadiga, falta de ar, dor nas juntas e dor no peito.
Em Belo Horizonte, o Hospital das Clínicas da UFMG desenvolve pesquisa longitudinal para acompanhar pacientes que tiveram alta depois do tratamento da covid-19. De acordo com a professora Carolina Marinho, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, que participa do estudo, o trabalho começa na internação do paciente.
"Acompanhamos a evolução clínica desse paciente, seguimos em contato com ele durante todo o processo de internação hospitalar e, a partir do momento em que recebe alta, damos início às avaliações sequenciais", explicou Carolina, durante entrevista concedida ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quinta-feira, 6.
Os primeiros pacientes com a doença tratados no Hospital das Clínicas foram internados em junho e começaram a ser avaliados no mês passado. "A gente faz testes de função pulmonar, de endurance (uma caminhada de seis minutos), de força muscular periférica e uma avaliação clínica, para avaliar o estado geral do paciente e as condições de qualidade de vida após a doença”, afirmou.
Segundo Carolina Marinho, ainda é cedo para falar em resultados, mas já é possível dizer que os pacientes têm algumas reclamações um mês após o fim do período de internação. "As queixas principais são fraqueza, certa fadiga, alguns resíduos de tosse, alterações intestinais, mas ainda é cedo para falar em proporção", pontuou.
A professora afirmou ainda que também já se sabe que a recuperação da covid-19 pode demorar e que possíveis alterações pulmonares nos pacientes recuperados serão observadas ao longo de dois anos, período previsto de duração da pesquisa.