Pesquisa e Inovação

Estudo espanhol indica que imunidade de rebanho contra covid-19 só deve ser alcançada com vacina

Professor Flávio Guimarães da Fonseca, do Departamento de Microbiologia do ICB, comentou resultados da pesquisa que põe em xeque a tão falada “imunidade de rebanho”, em entrevista à UFMG Educativa

Cerimônia na Espanha homenageou as vítimas do novo coronavírus no país
Cerimônia na Espanha homenageou as vítimas do novo coronavírus no país Foto: La Moncloa / Fotos publicas / CC BY-NC 2.0

A chamada imunidade de rebanho já foi muito citada durante a pandemia da covid-19. Essa imunidade é alcançada quando grande parte da população, depois de se tornar imune a um vírus, faz com que ele deixe de circular. Nos últimos meses, a expressão imunidade de rebanho tem sido usada para definir um cenário no qual a porcentagem de pessoas que contraíram a covid-19 e se curaram seria alta o suficiente para que essas pessoas servissem de escudo para as que ainda não tiveram a doença. 

Porém, um estudo publicado recentemente por cientistas da Espanha na revista inglesa The Lancet, especializada em medicina, indicou que a imunidade de rebanho contra o novo coronavírus pode não ser possível enquanto não existir uma vacina. Com a pesquisa, a revista The Lancet publicou ainda um comentário, segundo o qual, de acordo com os resultados desse e de outros estudos, qualquer proposta de se obter a imunidade de rebanho através da infecção natural, além de não ser realizável, é antiética. 

A pesquisa teve a participação de mais de 60 mil pessoas residentes no país europeu e estima que somente 5% da população espanhola tenha desenvolvido anticorpos contra o vírus. Ou seja, 95% da população continua vulnerável à infecção. Isso apesar de a Espanha ser um dos países europeus mais afetados pela pandemia. Até a manhã desta quinta-feira, 16, o país europeu confirmou cerca de 257 mil casos de covid-19 e pouco menos de  28,5 mil mortes, de acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quinta-feira, 16, o professor Flávio Guimarães da Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, destacou que, em relação ao coronavírus, ainda há dúvidas que colocam em xeque a possibilidade de uma imunidade de rebanho.

“Falando de coronavírus, ainda há uma grande incógnita. Ela [a imunidade de rebanho] ainda está sendo estudada e deve ocorrer, em algum grau. Mas há perguntas ainda sem resposta que não dão certeza de que teremos uma imunidade de rebanho eficaz”, afirmou.

Entre os especialistas, segundo o professor Flávio Fonseca, ainda há muitas dúvidas a respeito da possibilidade de alguém ficar imune depois de ser infectado pelo novo coronavírus. Não está claro por quanto tempo e com qual nível de segurança os anticorpos podem proteger as pessoas que se recuperaram de uma infecção. Cientistas já disseram que essa imunidade pode ser incompleta e transitória, ou seja, pode durar pouco tempo e depois desaparecer. 

Produção de Tiago de Holanda

Produção de Tiago de Holanda