Pesquisa e Inovação

Estudo propõe metodologia para reduzir espera por ecocardiogramas

Trabalho avaliou a qualidade de exames simplificados realizados por não médicos para triagem a distância de insuficiência cardíaca

Ecocardiograma
Imagem de um ecocardiograma: transmissão pela web sem perda de qualidade
Projeto Imagem da Semana / Faculdade de Medicina

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina avaliou a possibilidade de profissionais não médicos coletarem imagens ecocardiográficas simplificadas para serem avaliadas a distância por médicos especialistas. O objetivo é reduzir as filas de espera para ecocardiogramas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em cidades do interior de Minas Gerais e evitar grandes deslocamentos até os centros de referência em saúde.

O estudo foi tema de dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-graduação em Infectologia e Medicina Tropical pelo enfermeiro Wandeir Wagner de Oliveira, sob a orientação dos professores Antônio Luiz Pinho Ribeiro e Vinícius Tostes Carvalho. O trio avaliou 174 pacientes em Ouro Preto, de março de 2015 a maio de 2017, por meio de parceria entre a Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e o Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas.

“Observamos que os pacientes aguardavam cerca de um ano para realizar um ecocardiograma transtorácico, o que poderia impedir um diagnóstico precoce de doenças do coração”, explica Wandeir. Daí surgiu a ideia de trabalhar com uma metodologia do ecocardiograma laudado a distância. Ou seja, o exame seria feito por um profissional não médico, ficando o médico encarregado da análise a distância, via telemedicina.

Segundo Wandeir, o Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas tem experiência reconhecida internacionalmente e poderia, assim, ampliar seu leque de serviços. “Já existem outras formas de telediagnósticos, teleconsultorias e tele-educação. Podemos usar essa ferramenta para evitar longas esperas e deslocamentos incômodos de pacientes ou mesmo consultas desnecessárias com especialistas”, argumenta o enfermeiro.

Wandeir Santos:
Wandeir de Oliveira: método pode evitar deslocamentos e consultas desnecessários
Carol Morena / Faculdade de Medicina

Tele-ecocardiograma
No estudo, dividido em etapas, os pacientes realizaram um ecocardiograma completo, executado por um médico especialista, e depois um procedimento simplificado conduzido por um enfermeiro. “As imagens eram randomizadas, ou seja, selecionadas de forma aleatória, e enviadas para um médico avaliar a distância. Esse profissional não sabia quem havia gerado as imagens”, explica Oliveira.

O processo de gerar imagens e encaminhá-las via telessaúde foi denominado de tele-ecocardiograma. Segundo o autor do estudo, ele é executado em alguns países do mundo, mas ainda é pouco utilizado no Brasil. “Os avanços tecnológicos na área médica favorecem muito o uso desse sistema, porque as imagens podem ser feitas em arquivos compatíveis e transmitidas via web sem perder a qualidade”, afirma o enfermeiro.

Wandeir passou por treinamento para realizar o exame. “Foi feito um estudo teórico do exame, como funciona, o que são as janelas de um ecocardiograma e quais as posições para adquirir as imagens necessárias. Depois da teoria, passei por aulas práticas de aquisição e análise de imagens ecocardiográficas”, informa.

Resultados equiparados
Wandeir conta que a concordância das imagens geradas pelo médico e pelo não médico foi satisfatória. “É possível um profissional não médico, com treinamento básico na aquisição de protocolo simplificado de imagens ecocardiográficas, produzir imagens comparáveis às de um profissional médico”, atesta Wandeir.

“O ecocardiograma é um procedimento não invasivo e não traz riscos à saúde do paciente”, acrescenta o enfermeiro. Ele acredita que a adoção do tele-ecocardiograma como screening de cardiopatias pode contribuir para reduzir o tempo de acesso ao exame completo em regiões onde não existem prestadores conveniados com o SUS, possibilitando a geração de diagnósticos mais precoces e economia de gastos.
 
Nome: Estudo de concordância entre médico e não médico em protocolo ecocardiográfico simplificado para detecção da insuficiência cardíaca
Autor: Wandeir Wagner de Oliveira
Programa: Infectologia e Medicina Tropical       
Orientador: Antônio Luiz Pinho Ribeiro
Coorientador: Vinícius Tostes Carvalho               
Defesa: fevereiro de 2018

Carol Prado / Faculdade de Medicina