Pesquisa e Inovação

Estudo avaliará poder preventivo da cloroquina contra a Covid-19 em profissionais de saúde

Mais de 600 trabalhadores de quatro hospitais de Belo Horizonte vão participar da pesquisa coordenada pela UFMG

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Projeto visa preservar capacidade de trabalho dos profissionais e evitar transmissão do novo coronavírusArquivo PBH

Belo Horizonte vai sediar um estudo clínico sobre a capacidade da cloroquina e da hidroxicloroquina de prevenir infecções pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus, e de reduzir a gravidade dessas infecções em profissionais de saúde. O projeto vai contemplar 660 pessoas, entre médicos, enfermeiros, técnicos e fisioterapeutas, de quatro unidades da capital: o Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, o Hospital Eduardo de Menezes, vinculado à Fhemig, e os hospitais municipais Odilon Behrens e Metropolitano Célio de Castro.

O objetivo é buscar, num primeiro momento, uma forma eficaz de preservar a segurança dos profissionais que lidam diretamente com os pacientes da Covid-19, para assegurar não apenas a assistência contínua, mas também que eles não transmitam o vírus. O professor da Faculdade de Medicina Unaí Tupinambás lembra que ainda não há intervenção capaz de reduzir o risco de infecção após contato próximo com pacientes. “O isolamento preventivo de equipes inteiras de trabalhadores qualificados aumenta o risco de colapso do sistema de saúde. Uma solução farmacológica que reduza a proporção de profissionais infectados torna o sistema mais sustentável”, afirma Tupinambás, coordenador do projeto, que foi idealizado pelo professor Israel Molina, da Universitat Autonoma de Barcelona (Espanha). Molina atua no Brasil como pesquisador visitante do Instituto René Rachou, da Fiocruz.

Unaí Tupinambás explica que a cloroquina é utilizada há muitos anos como agente profilático e no tratamento de malária e doenças reumatológicas, entre outras. E tem eficácia comprovada no bloqueio da infecção in vitro de células pelo Sars-Cov-2, na redução da carga viral de pacientes de Covid-19 e no tratamento da pneumonia. “Há vasta experiência no uso da cloroquina em tratamento e prevenção, e o Brasil produz o medicamento com custo muito baixo. Daí a proposta de usar a substância em profissionais de saúde em locais com transmissão sustentada do Sars-CoV-2, aliada a outras intervenções clínicas e epidemiológicas". Ele acrescenta que também são conhecidas as contraindicações do uso de cloroquina para grupos como os de pacientes cardíacos e diabéticos, o que garante as medidas de cautela durante o estudo.

Três grupos
O projeto Quimioprofilaxia com cloroquina em população de alto risco para prevenção de infecções por Sars-CoV-2 e redução da gravidade da infecção será executado, a partir da segunda quinzena deste mês, por meio de ensaio clínico randomizado com duração de três meses. Ainda são aguardadas a aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Conselho Nacional de Saúde, e a definição das fontes de financiamento.

Um grupo de participantes usará dose de 150 mg por dia (com folga nos finais de semana), outro receberá dose de 600 mg/semana, e um terceiro grupo será submetido apenas aos procedimentos-padrão de prevenção (uso de máscaras e luvas, por exemplo). Ao fim do primeiro mês, será feita análise preliminar; se houver sinais fortes de eficácia, os profissionais do grupo de cuidado-padrão passarão também a receber o medicamento, e os primeiros resultados serão apresentados à comunidade científica.

Unaí Tupinambás afirma que a comprovação da efetividade preventiva da cloroquina será de enorme relevância para o combate à pandemia do novo coronavírus. “Caso esse estudo alcance resultado positivo, poderá ser ampliada a recomendação para o resto do sistema de saúde e até para outros grupos populacionais de alto risco”, ele projeta. 

Sem correr para a farmácia
O professor enfatiza, entretanto, que a cloroquina e a hidroxicloroquina só devem ser usadas com prescrição e orientação médica, porque podem ter efeitos colaterais graves, como parada cardíaca, cegueira e queda da glicose em pessoas que tomam remédios para diabetes. Além disso, adverte ele, a aquisição dos medicamentos para uso não indicado pode diminuir sua disponibilidade para pessoas que necessitam das substâncias para o combate a outras enfermidades.

Itamar Rigueira Jr.