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Evento em Ouro Preto incluirá Hipólita Jacinta no Panteão da Inconfidência

Ela é a primeira mulher reconhecida oficialmente como participante da Conjuração Mineira; sua atuação precisa ser valorizada, defende historiadora da UFMG

Museu da Inconfidência, onde se encontra o Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto
Museu da Inconfidência, que abriga o Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto Foto: Ministério da Cultura - Museu da Inconfidência | CC

Neste sábado, 29, será homenageada, em Ouro Preto, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, mulher de destaque na luta pela Inconfidência Mineira. O evento será realizado, a partir das 11h, no Museu da Inconfidência, onde está abrigada a memória sobre a Conjuração Mineira. Durante a cerimônia, Hipólita será incluída no Panteão da Inconfidência, ao lado de Tiradentes e dos demais conjurados.

O evento será aberto ao público e contará com a presença da ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, do diretor do Museu da Inconfidência, Alex Calheiros, das cantoras Zélia Duncan e Ana Costa, do estilista Ronaldo Fraga e da historiadora e professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG Heloísa Starling.

Como não foi possível localizar os restos mortais de Hipólita, uma caixa com terra recolhida da fazenda onde viveu será depositada dentro da lápide. Em seguida, a compositora e cantora Zélia Duncan vai apresentar a canção que compôs para a inconfidente, e, na entrada do Panteão, será içado um estandarte de dois metros de altura confeccionado por bordadeiras mineiras e criado pelo estilista Ronaldo Fraga. Ao final, no pátio interno do Museu, será realizada uma mesa-redonda sobre Hipólita com a participação dos convidados.

Apagamento feminino
Na visão da historiadora Heloísa Starling, a inclusão da primeira inconfidente mulher no Panteão é um marco porque corrige o apagamento do papel de Hipólita na história mineira e da mulher como participante na esfera política. “A vedação de acesso da mulher ao mundo público foi de tal forma enraizada na sociedade que até hoje se mantém no centro da desigualdade de gênero. Para as mulheres brasileiras, entre todas as fronteiras, a da política será a mais difícil de transpor”, opina.

Heloísa acrescenta que o evento destaca a importância da mulher politizada, que é aquela que, independentemente da agenda que carrega, é alvo de uma modalidade bem definida de controle e repressão. “Os vestígios da presença política feminina são desfeitos, e, com isso, desaparece a possibilidade de sua participação ser reconhecida em determinado acontecimento. A mulher é, no máximo, uma sombra. Ela está fora do acontecimento político. Hipólita foi confinada ao esquecimento, o modo como se consegue extinguir, com sucesso, uma experiência no tempo da história, como diria o historiador Evaldo Cabral de Mello."

Uma história de bravura
Autora de um perfil sobre Hipólita publicado no livro Independência do Brasil: as mulheres que estavam lá, a professora Heloísa Starling conta que a inconfidente era uma mulher destemida, mas pouco se sabe sobre sua história. A pesquisadora explica que, quando a notícia da prisão de Tiradentes chegou à fazenda da Ponta do Morro, na noite de 20 de maio de 1789, Hipólita não titubeou e decidiu que precisava consumar a rebelião, declarar a Independência nas Minas e instalar a República. Na fazenda da Ponta do Morro ela deu a ordem para o início do levante militar.

Quando a Conjuração desandou e o clima de medo generalizado se instalou, o visconde de Barbacena, governador da capitania, impôs à inconfidente uma punição exemplar e cruel, o que a levou a perder tudo. Hipólita morreu em 1828, mas as ideias de Independência e República fizeram parte de toda a sua vida. 

“A vida de Hipólita alarga e renova a compreensão do acontecimento histórico: a Conjuração Mineira é também o que acontece com uma mulher, ao fim do século 18, de inequívoco protagonismo político. Então, é preciso que a sua aparição no mundo público, em 1789, se faça história”, conclui Starling.

Painéis expostos no caminhão-museu com mulheres que participaram da independência. Hipólita Jacinta é a primeira da esquerda para a direita. A imagem, criada por um ilustrador, é representativa, já que não há registros da inconfidente
Painéis no caminhão-museu com imagens de mulheres que participaram da independência. Hipólita Jacinta é a primeira da esquerda para a direita. A imagem, criada por um ilustrador, é representativa, já que não há registros da inconfidente Foto: Sara Não Tem Nome

Nos últimos tempos, vem sendo empreendido um esforço de valorização da memória da inconfidente. Ele é materializado, por exemplo, na exposição Itinerários da independência, instalada no caminhão-museu do Projeto República da UFMG, que é coordenado por Heloísa Starling. 

A mostra itinerante foi montada com apoio do Senado Federal, por meio da Comissão Especial Curadora do Bicentenário da Independência do Brasil. De 6 a 8 de julho do ano passado, a exposição passou pelo campus Pampulha, no âmbito das comemorações dos 95 anos da UFMG e dos 200 anos da emancipação do Brasil. Poucos dias depois, o caminhão esteve em Prados, no Campo das Vertentes, terra natal de Hipólita. A TV UFMG acompanhou a movimentação no campus Pampulha.

 

Luana Macieira