Arte e Cultura

Feira do Jequitinhonha volta à Praça de Serviços na próxima semana

Em sua 22ª edição, evento deve reunir 90 expositores de 28 municípios e vai homenagear Frei Chico, um dos principais pesquisadores da cultura popular da região

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Painel em exposição na feira de 2022Foto: Danilo Moreira

A Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG vai ocupar, pela 22ª vez, a Praça de Serviços do campus Pampulha. Organizada pela Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult), por meio do programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, a feira, que será realizada de 8 a 13 de maio, apresenta uma amostra representativa da vasta produção de artesanato, arte, bordado, tecelagem e outros bens culturais da região do Jequitinhonha, no Nordeste de Minas Gerais. A entrada é gratuita e aberta a toda a população.

Todos os anos, a UFMG realiza o evento com o objetivo de reconhecer e dar visibilidade ao trabalho dos artistas do Vale e ampliar o diálogo de artesãos e artistas com a universidade e a comunidade local. A iniciativa também amplia as possibilidades de comercialização dos produtos com preços atrativos para os moradores de Belo Horizonte e cidades próximas. Para a  maioria dos participantes, a Feira promovida pela UFMG é hoje o melhor local de vendas em âmbito nacional.

Em 2023, é esperada a participação de cerca de 90 expositores, representantes de 28 municípios e 45 associações de artesanato do Jequitinhonha. “Neste ano, voltaremos a realizar a feira em seu período tradicional, que é a semana que antecede o Dia das Mães. Teremos também o retorno de alguns artesãos conhecidos que não puderam vir em setembro de 2022, em razão de compromissos anteriormente assumidos”, explica o produtor cultural Sérgio Diniz, coordenador da feira.

Segundo a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o artesanato produzido no Vale do Jequitinhonha é patrimônio cultural de Minas Gerais e precisa ser valorizado. “A UFMG tem muito orgulho de organizar essa feira há duas décadas. É um evento consolidado em nosso calendário e foi realizado mesmo durante a pandemia [de forma virtual]. Temos consciência de que a feira desempenha papel importante na vida dos artesãos e das pessoas que vivem no Jequitinhonha. A cultura é parte da identidade de um povo, e uma universidade pública como a nossa tem o compromisso de garantir condições para que ela se fortaleça e se perpetue para as gerações vindouras”, afirma a reitora.

Coordenadora do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, Maria das Dores Pimentel Nogueira explica que a parte financeira é importante, mas a feira é mais do que isso. “É um espaço de encontro, de troca de saberes. Alguns artesãos só se encontram aqui na feira, uma vez por ano. E é, também, um espaço de encontro entre o saber tradicional e o saber científico. Além disso, a comunidade universitária acolhe a comunidade do Vale do Jequitinhonha com muito carinho,” diz. 

A Feira de Artesanato também terá programação cultural durante toda a semana, com apresentações musicais, exposição e homenagem ao religioso Frei Chico, um dos principais pesquisadores da cultura popular da região, que morreu em janeiro deste ano, aos 83 anos.

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Frei Chico, com Lira Marques: tributo em forma de música, objetos, livros e vídeosFoto: Lori Figueiró

Homenagem a Frei Chico
Nascido na Holanda, Frei Francisco Van der Poel chegou ao Brasil na década de 1960. O frade franciscano morou durante muitos anos em Araçuaí, município do Vale do Jequitinhonha, e dedicou mais de 40 anos de sua vida a pesquisar a cultura do Vale. Ele fundou o coral Trovadores do Vale e escreveu o Dicionário da religiosidade popular: cultura e religião no Brasil, com 8,5 mil verbetes e 350 ilustrações.

“Frei Chico foi a pessoa que percebeu a beleza da cultura popular do Vale e mostrou aos próprios moradores da região o quanto aquilo era valioso. É muito comum as pessoas não valorizarem a cultura que está ali, no quintal de casa”, explica Maria das Dores Nogueira. “Para nós, é uma honra homenagear Frei Chico", acrescenta.

O tributo terá apresentações do coral Trovadores do Vale, uma tenda com exposição de objetos, livros e vídeos de Frei Chico e a presença da artesã Lira Marques, mestra de ofício, ceramista e parceira do religioso em suas  pesquisas.

Lira Marques e Frei Chico se conheceram em 1970, quando ela começou a participar do coral Trovadores do Vale.  A artesã logo reconheceu, no repertório do coral, as músicas que ouvia sua mãe cantar e passou a ajudar o frade nas pesquisas e registros das diferentes manifestações artísticas da população do Vale do Jequitinhonha. O resultado dessas mais de quatro décadas de dedicação da dupla está nas mais de 1 mil páginas do Dicionário da religiosidade popular. Exemplares da obra serão colocados à venda na feira, trazidos pelo Museu de Araçuaí – um presente de Frei Xico e Lira Marques.

Programação cultural
Nesta edição da feira do Vale do Jequitinhonha, vão se apresentar o violeiro Victor Batista – ele fará o show Viola de arame –, Rubinho do Vale, o Coral Trovadores do Vale e a dupla Beatriz Farias e Tau Brasil. 

“Buscamos sempre trazer artistas ou grupos que desenvolvam trabalhos que se relacionem com a cultura do Vale. Victor Batista, que é de Belo Horizonte e hoje reside em Goiás, tem todo o seu trabalho sobre a cultura popular mineira, e o mesmo acontece com Tau Brasil e Beatriz Farias, que têm origem no Vale  do Mucuri e estabelecem frequente troca de saberes musicais com o povo do Jequitinhonha”, explica Sérgio Diniz.

O show em homenagem a Frei Chico será realizado na quarta-feira, 10 de maio, com presença de Rubinho do Vale, Lira Marques e Coral Trovadores do Vale e de amigos e pessoas que viveram ao seu lado. “Será uma homenagem singela, mas cheia de sentimento”, ressalta Diniz.

Diagnóstico e oficinas
A ideia de promover um evento que pudesse colocar os artesãos do Vale do Jequitinhonha em evidência na capital mineira surgiu em setembro de 2000, durante edição da Semana do Conhecimento UFMG. No ano seguinte, ficou decidido que era melhor realizá-lo na semana que antecede o Dia das Mães, data comercialmente mais favorável.

Em 2003, foi realizado um diagnóstico do artesanato do Vale com os artesãos presentes. Também foram criadas publicações para orientá-los a se organizar em cooperativas e associações, uma demanda deles próprios.

Desde então, na tentativa de promover o diálogo entre os saberes acadêmicos e populares, artesãos têm ministrado oficinas diversas, como as de cerâmica, trançado em taboa, bordado e tecelagem, na Escola de Belas Artes e no Centro Pedagógico da UFMG. 

Nos anos de 2020 e 2021, em razão da pandemia de covid-19, foram realizadas mostras virtuais no site do Polo Jequitinhonha, também divulgadas em redes sociais. 

Em 2022, a feira ocorreu em setembro, em formato presencial. Neste ano, volta ao seu período tradicional. 

22ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG

8 a 13 de maio
Praça de Serviços do campus Pampulha (Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha)
Segunda a quarta e sexta-feira, das 9h às 18h; quinta, das 9h às 19h, e sábado, das 9h às 14h

Programação cultural
Todos os eventos, gratuitos, serão realizados na Praça de Serviços, no campus Pampulha.

Viola de arame –  show de Victor Batista
8 de maio, segunda-feira, às 12h30

Remetente – performance de Adelita Siqueira
9 de maio, terça-feira, às 12h30

Homenagem a Frei Chico – Rubinho do Vale e Coral Trovadores do Vale
10 de maio, quarta-feira, a partir das 11h30

Coral Trovadores do Vale
11 de maio, quinta-feira, às 17h30

Beatriz Farias e Tau Brasil em cantoria
12 de maio, sexta-feira, às 12h30

Filipe Sartoreto | Assessoria de Comunicação da ProCult