Institucional

Festival de Inverno tem início no Centro Cultural com grande público

Na solenidade de abertura, gestores destacaram a importância das ações culturais da UFMG nos territórios em que atua

Festival vai até dia 27 com atividades em diferentes espaços da Universidade
Abertura do evento ocorreu no Centro Cultural com grande público; Festival vai até dia 27 com atividades em diferentes espaços da Universidade Foto: Ewerton Martins Ribeiro | UFMG

“A contemporaneidade é do espaço. Se você pensar, o século 20 foi muito dedicado ao tempo, à questão temporal. Lembro a questão do [escritor Marcel] Proust, do fluxo de consciência, por exemplo. Ali era tudo muito ‘tempo’. Já a produção cultural do século 21 é mais relacionada com o espaço, a questão do espaço – até mesmo em razão da redução do espaço que vivemos atualmente. Hoje, de fato, podemos estar aqui, mas apresentando-nos em outro lugar muito distante. Os espaços foram então reduzidos, condensados. E, com isso, a interação das pessoas com o espaço mudou. Ao mesmo tempo, o espaço também vai se modificando, em razão desse modo de interação das pessoas. É uma relação.”

Assim a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, em entrevista ao Portal UFMG, destacou a importância da temática deste ano – Culturas e territórios – do Festival de Inverno UFMG para a seleção e o fomento das atividades constantes em sua programação. Com grande público, o evento teve sua abertura na noite desta quinta-feira, 18, no Centro Cultural UFMG. “Esse é um tema particularmente caro para a UFMG, Universidade que vive para os espaços em que está localizada – Belo Horizonte, Montes Claros, Tiradentes, Diamantina”, lembrou a reitora.

Como professora da Faculdade de Letras, Sandra Goulart tem o tema do espaço na literatura contemporânea como um de seus interesses de pesquisa. Partindo desse interesse acadêmico, ela chama atenção para o caráter "móvel" do espaço, em razão de sua relação com a cultura. “O espaço é móvel porque se transforma; a gente transforma o espaço ao interagir com ele. Historicamente, a UFMG tem esse papel de questionar, de modificar o espaço em que atua, o espaço em que a gente vive. Isso é muito bonito. É o que ocorre, então, quando realizamos um evento como este”, disse a gestora.

Em sua fala, Sandra dedicou esta edição do Festival ao professor Paulo Henrique Ozorio, da Fafich, que morreu nesta semana. “Paulo foi um homem que batalhou muito pelo Festival de Inverno UFMG e pela cultura de Belo Horizonte. Ele estaria muito feliz de ver mais este Festival sendo realizado”, disse. Em sua carreira, o docente do Departamento de Sociologia e Antropologia foi pró-reitor adjunto de Extensão e diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) da UFMG. Fora da UFMG, atuou ainda no Ministério da Cultura e na Secretária Estadual de Cultura.

Fabrício Fernandino, diretor do Centro Cultural, a reitora Sandra, o pró-reitor Fernando Mencarelli e sua pró-reitora adjunta, Mônica Ribeiro, na solenidade de abertura do Festival
Fabrício Fernandino, diretor do Centro Cultural, a reitora Sandra Goulart, o pró-reitor Fernando Mencarelli e a pró-reitora adjunta, Mônica RibeiroFoto: Ewerton Martins Ribeiro | UFMG

O pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli, destacou que, nesta edição, o Festival investiu ainda mais em parcerias, o que reforçou o caráter coletivo de sua realização. “Foram parcerias que já estavam na área, no ar, mas que se intensificaram na medida em que fomos avançando na produção do evento. Com tudo isso, o Festival ganhou uma dimensão ainda mais coletiva, com nossa aproximação com a turma da antropologia, do Ministério da Cultura, da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM) e das outras federais".

Mencarelli também destacou a competência do Festival para a resiliência. “O que eu acho fantástico nos eventos culturais da UFMG é essa capacidade que eles têm de se transformar em razão das circunstâncias, das agendas, das pautas; em razão das conjunturas de cada tempo. O nosso Festival de Inverno é uma espécie de resposta que a Universidade, no campo da cultura e das artes, dá para o seu próprio tempo; uma resposta que a Universidade dá para aquilo que, como pergunta, desafio, perspectiva, vem até ela. Isso é algo que o Festival fez lindamente ao longo da sua história de quase 60 anos”, demarca Mencarelli.

Obra de Mário Azevedo, presente na exposição 'Canções (ensaio #2)', em cartaz em Tiradentes
Obra de Mário Azevedo, presente na exposição 'Canções (ensaio #2)', em cartaz em Tiradentes Imagem: Divulgação

O território das Vertentes

Em um conversa com o Portal UFMG, a professora Patrícia Franca-Huchet, da Escola de Belas Artes, destacou a importância de o Festival ter levado mais uma vez uma atividade sua para o campus cultural sediado no Campo das Vertentes. “A gente tem esse desejo de fazer cada vez mais parte do festival”, comemorou a diretora. “Uma possibilidade, mais para a frente, é a de investirmos em oficinas”, disse ela, que completou, em maio, o seu primeiro ano como diretora do Campus Cultural UFMG em Tiradentes.

Nesta edição, o Festival de Inverno UFMG tem duas atividades realizadas em parceria com o campus Tiradentes. Uma é a exposição Canções (ensaio #2), do artista plástico Mário Azevedo, que está em cartaz no Quatro Cantos Espaço Cultural (rua Direita, nº 5, Tiradentes). Nela, o artista expõe cerca de 200 obras (desenhos e pinturas) feitas em nanquim, aquarela e guache, sobre montagens e colagens de papéis. A exposição foi aberta no último dia 12 e fica em cartaz até 8 de setembro.

Mário Azevedo já realizou mais de 40 mostras individuais de seu trabalho, em diferentes cidades do Brasil e do Mundo, muitas delas premiadas. Hoje ele vive e trabalha sobretudo em São Brás do Suaçuí, cidade que fica no meio do caminho entre Tiradentes e a capital mineira. Ao tratar da sua exposição, Patrícia Franca-Huchet lembrou que, para o crítico Roberto Pontual, Mário Azevedo foi um dos dois grandes nomes que emergiram no campo da arte brasileira nos anos 1980. O outro, segundo Pontual, foi Leonilson, falecido em 1993.

“O Mário é mesmo um grande artista brasileiro. E ele foi professor da UFMG, aposentou-se recentemente. Durante a pandemia, ele fez então uma série de trabalhos maravilhosos... São esses os trabalhos reunidos na exposição. São obras muito bonitas, muito coloridas”, comenta a diretora do campus cultural. 

A outra parceria do Festival de Inverno com o campus Tiradentes é a mostra Con(fiar) – Cultura e Patrimônio no Campo das Vertentes. Ela está em cartaz no próprio Centro Cultural, em Belo Horizonte. “A Con(fiar) é uma mostra panorâmica da arte popular da região das Vertentes. É uma mostra de vídeos sobre artesanato, sobre os ofícios e saberes tradicionais da região”, detalha a diretora. A mostra reúne nove curtas-metragens, resultado de um projeto de extensão realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes. Inaugurada na noite desta quinta-feira, 18, essa mostra fica em cartaz até dia 25. Toda a programação do Festival de Inverno UFMG é gratuita.

Ewerton Martins Ribeiro