Pesquisa e Inovação

Grupo da UFMG vai monitorar o novo coronavírus no esgoto em BH e Contagem

Projeto-piloto, com duração de dez meses, vai contribuir para mapeamento da incidência da Covid-19

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Informações geradas pelo projeto subsidiarão decisões do poder público
Zig Koch / Agência Nacional de Águas

Pesquisadores do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG vão conduzir projeto-piloto de monitoramento do esgoto em Belo Horizonte e Contagem (MG), para mapeamento da ocorrência do novo coronavírus. O objetivo é descobrir as informações que o esgoto pode conter sobre a disseminação da Covid-19 em comunidades específicas, ao longo do tempo.

O projeto Monitoramento Covid Esgotos foi lançado ontem (quinta, 23) pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia ETEs Sustentáveis, sediado e coordenado na UFMG, pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).

“Conhecer a ocorrência do coronavírus dará subsídios à adoção de medidas de relaxamento consciente do isolamento social e ainda pode gerar avisos sobre os riscos de aumento de incidência da Covid-19 de forma regionalizada, embasando a tomada de decisões por parte dos gestores públicos”, afirma o professor Carlos Chernicharo, que é coordenador do INCT. O grupo teve acesso a pesquisas internacionais que atestaram a presença do coronavírus nas fezes de pessoas que testaram positivo para a Covid-19.

Chernicharo comenta que não há evidências da transmissão do vírus por meio das fezes (transmissão feco-oral), mas, como já foi identificada a presença do vírus nas fezes de indivíduos infectados, o mapeamento dos esgotos pode indicar, por exemplo, áreas de maior incidência da transmissão. 

Dados cruzados
Os pesquisadores colherão amostras das bacias dos ribeirões Arrudas e Onça e das estações de tratamento de esgoto homônimas. Segundo a professora Juliana Calábria, subcoordenadora do INCT ETEs Sustentáveis, o mapeamento vai possibilitar inferir a quantidade de pessoas infectadas, uma vez que mesmo pessoas assintomáticas apresentam o vírus nas fezes. “É uma estimativa indireta, e os dados serão cruzados com os das autoridades de saúde, obtidos com os testes clínicos, atuando de forma complementar”, diz Juliana, que está à frente do Laboratório de Microbiologia do Desa.

Christianne Dias, diretora-presidente da ANA, salienta que, “nas águas e nos esgotos, é possível obter informações valiosas para salvar vidas, auxiliando os órgãos de Saúde a alocarem seus esforços para o combate à pandemia”. Ele ressalta que o projeto se destaca pela regionalização dos dados e pela perenização de seus resultados. “Mesmo após a entrega das conclusões, avisos serão úteis no caso de novas ondas de infecção e para o planejamento de medidas de retorno das atividades de forma embasada”, afirma. 

A diretora geral do Igam, Marília Melo, comenta, por sua vez, que o estudo “pode fornecer subsídios para as autoridades da área da saúde estabelecerem ações de redução dos níveis de transmissão da doença e de proteção da população”. 

A pesquisa deve durar dez meses e contará com apoio da Secretaria de Saúde de Minas Gerais e da Copasa, empresa responsável pelo saneamento no estado.

A intenção é que estudos similares sejam feitos também em outros estados. Segundo Carlos Chernicharo, universidades como as federais do Ceará e de Pernambuco já manifestaram interesse em trabalhar em rede com a UFMG e outras instituições. “É importante que os estudos utilizem metodologias semelhantes, para que seja possível comparar resultados com mais eficiência”, diz o coordenador do INCT. Ele menciona também planos de incluir análise das fezes em projeto do Hospital Eduardo de Menezes de estudo de secreções e sangue para a detecção do novo coronavírus.     

Itamar Rigueira Jr. / Com Assessoria de Comunicação da ANA