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Heloisa Starling: pensamento, imaginação e cultura são ativos cultivados pela UFMG

Em conferência na Semana do Acolhimento, historiadora destacou as semelhanças entre os ideais de independência e os princípios caros à Universidade

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Comemorar os 95 anos da UFMG implica "convocar a sociedade para enfrentar a cultura da escravidão e o racismo", disse Heloisa StarlingRaphaella Dias | UFMG

Um paralelo entre as ideias que culminaram com a Independência do Brasil, há 200 anos, e os princípios fundamentais preservados pela UFMG desde a sua fundação, há 95 anos, foi traçado pela professora Heloísa Starling na conferência 95 anos da UFMG: passado, presente e o futuro que queremos, realizada na noite desta segunda-feira, 22 de agosto, para os calouros do turno noturno, no CAD1. A atividade integra o ciclo Futuro, essa palavra e a Semana de Acolhimento. 

Starling citou “o pensamento, a imaginação e a cultura” como alguns dos principais ativos cultivados e preservados pela UFMG. “Toda vez que nós pensamos, somos capazes de alterar nossa visão da realidade. O pensamento é mais ou menos como o vento: retira tudo do lugar. Especialmente demandada no atual contexto em que o Brasil vive uma crise aguda, que atinge a política e os valores, a força corrosiva do pensamento destrói opiniões, preconceitos, regulamentos, doutrinas e hábitos mentais”, definiu. 

Quanto à imaginação, Heloísa Starling alegou que é necessária “porque nos ensina a trazer para nós aquilo que está tão perto que não conseguimos enxergar, e aquilo que está tão longe que a gente só vê a sombra. É a imaginação que nos permite movimentar o olhar para que possamos ver o que está longe demais no tempo e possamos tratar como se fosse um assunto nosso".

Ao tratar da cultura, a historiadora chamou a atenção para o grande número de obras de arte e monumentos distribuídos nos campi da UFMG. “São símbolos da articulação da cultura ao espaço físico da Universidade e têm uma coisa em comum: fazem alusão à liberdade e o confronto com a tirania”, explicitou.

Herdeira da conjuração
Segundo Heloísa Starling, os fundadores da UFMG materializaram o sonho de trazer para o estado uma universidade e criar, aqui, um espaço de pensamento. Por isso, a instituição seria uma “herdeira do desejo dos conjurados”. 

“Comemorar nossos 95 anos implica convocar a sociedade para enfrentar a cultura da escravidão, que está na matriz de configuração do estado brasileiro, e enfrentar o racismo, que marca a desigualdade da sociedade. Comemorar significa lembrarmos juntos e chamarmos juntos, de volta ao coração, aqueles seus ativos, para que eles estejam sempre presentes”, conclamou.

Para a historiadora, “a independência nos diz muitas coisas sobre a brasileira e sobre o brasileiro que nós um dia já fomos, ou que nós poderíamos ser”. “Depois de passados 200 anos, podemos cruzar com essas lembranças, evocando a força do pensamento, da imaginação e da cultura. Quem sabe essa evocação nos revele onde estão fincadas nossas raízes de liberdade, de soberania e de república? Essas lembranças talvez nos ajudem, também, a imaginar algo sobre o brasileiro e a brasileira que ainda queremos ser. Afinal de contas, a história não é destino, não está escrita nas estrelas. Nós ainda temos algum tempo para pensar, imaginar, fazer escolhas e decidir, então, o futuro”, encerrou.

Não é coincidência
A fundação da UFMG e a Independência do Brasil ocorreram na mesma data, 7 de setembro. Para a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que abriu a sessão noturna da Semana de Acolhimento, não se trata de coincidência. 

“A inspiração para uma universidade no solo mineiro veio desde a época dos inconfidentes, que queriam muito ter uma universidade aqui, com produção local de conhecimento, já que elas existiam apenas em Portugal. Como dizia um conhecido político, ‘liberdade é o outro nome de Minas’ — e também é da UFMG, assim como democracia e respeito ao estado de direito”, pontuou a reitora.

A seção Eventos, do Portal UFMG, reúne informações sobre as atividades da Semana de Acolhimento.

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Auditório Nobre do CAD 1, que reuniu calouros do turno noturno
Raphaella Dias | UFMG

Matheus Espíndola