Inovação deve ser colaborativa, defende Sandra Goulart Almeida
Em evento da Semana do Conhecimento, palestrantes oferecem visões de universidades, empresas, legisladores e governos sobre o tema
O sucesso no processo de inovação deve estar baseado menos na competição e mais na colaboração e na sinergia entre instituições de pesquisa, poder público e empresas. E os esforços de combate à pandemia de covid-19 têm mostrado isso com clareza”, defendeu, na tarde de hoje (segunda, 19) a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida. Ela falou em seminário on-line que integrou o primeiro dia de programação da 29ª Semana do Conhecimento UFMG.
O debate sobre ambientes de inovação teve participação ainda da deputada estadual Beatriz Cerqueira, do subsecretário de Promoção de Investimentos e Cadeias Produtivas do governo de Minas Gerais, Juliano Alves Pinto, e do sócio-diretor do IEBT Inovação Paulo Vítor Guerra. A mediação ficou a cargo do presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), Marco Aurélio Crocco.
Sandra Goulart Almeida apresentou números e rankings que fazem da UFMG um exemplo da importância das universidades públicas no ecossistema de inovação nacional e argumentou que a ideia corrente de que há uma distância grande entre as universidades e as empresas vem perdendo o sentido. “Esse mito da distância tem sua razão de ser, já que o conhecimento ainda não é devidamente percebido como fator de geração de riqueza, e persistem obstáculos legais e burocráticos para o relacionamento entre as instituições de pesquisa e o setor privado. Mas hoje é possível afirmar que há, sim, forte interação”, disse a reitora, lembrando que a UFMG tem 1.151 depósitos de patentes e tem trabalhado cada vez mais para fazer que suas pesquisas se transformem em benefício efetivo para a sociedade.
Sandra destacou que legislações recentes, como o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, estimulam a criação de polos, a formação de alianças e a cooperação internacional, embora ainda haja muito o que compreender sobre as possibilidades abertas pelas novas regras.
De acordo com a reitora da UFMG, a Universidade está concluindo a elaboração de uma política de inovação que dará suporte ainda mais consistente para gestão de patentes e invenções, mapeamento de competências, promoção de ambiente estimulante ao empreendedorismo e compartilhamento de conhecimento, recursos humanos e infraestrutura. Ela acrescentou que a produção de inovação na UFMG conta com a parceria fundamental da Fundep, a fundação que apoia a pesquisa na Universidade, e do BH-TEC.
Subfinanciamento
Coordenadora do Fórum Técnico Ciência, Pesquisa, Tecnologia e Inovação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira criticou a redução de investimentos em políticas públicas, nos planos nacional e estadual, que, segundo ela, tem criado sérias dificuldades para as instituições de pesquisa. “Os crimes de Mariana e Brumadinho [cidades onde se romperam barragens de rejeitos de minério nos últimos anos] escancararam a necessidade de Minas Gerais investir na diversificação econômica, livrando-se da dependência da exploração dos recursos minerais, e a pesquisa é fundamental com essa finalidade. Além disso, a pandemia está nos ensinando como é importante garantir recursos para instituições públicas de ciência e tecnologia, assim como para o SUS”, afirmou a deputada.
Segundo Beatriz Cerqueira, o Fórum reúne 35 entidades, entre as quais estão a UFMG e o BH-TEC, e abre espaço amplo para a participação popular. Ela informou que a Assembleia trabalha por um plano de CT&I para o desenvolvimento socioeconômico do estado, “destinado a reduzir desigualdades de diversos tipos e apoiado em valores como sustentabilidade”.
A deputada defendeu o fortalecimento da Fapemig, agência de fomento à pesquisa em Minas. “Nos últimos três anos, o governo tem executado parcela cada vez menor do orçamento reservado à Fundação. Neste ano, até setembro, apenas 20% dos recursos haviam sido utilizados”, disse Beatriz Cerqueira. “A conta do subfinanciamento da pesquisa é cara e é paga pela população.”
Estado articulador
Representante do governo de Minas, Juliano Pinto reconheceu a necessidade dos investimentos em pesquisa, mas lembrou que os desastres de Mariana e Brumadinho – que provocaram redução acentuada da arrecadação com a atividade de mineração – e a pandemia estrangularam a capacidade do estado de dar conta de todos os compromissos constitucionais. Ele propôs que o poder público atue como articulador na atração de investimentos. “A excelência da pesquisa no Brasil é reconhecida lá fora, o que torna possível conseguir recursos de grandes fundos estrangeiros e organizações multilaterais”, afirmou.
Diplomata de carreira, com experiência no relacionamento com instituições americanas, Juliano Pinto informou que a Universidade da Califórnia, que é pública, conta com fontes diversas para bancar 80% de suas despesas com empreendimentos de pesquisa.
Para o subsecretário, a inovação deve integrar políticas públicas prioritárias. “Uma prova disso é o sucesso da pesquisa científica que tem incrementado a competitividade do agronegócio brasileiro”, disse Juliano Pinto. “Temos outras histórias bem-sucedidas, como as das indústrias aeroespacial e do petróleo, mas ainda ocorrem de forma isolada, falta uma estratégia clara.”
‘Boom’ de oportunidades
A baixa competividade do Brasil, país ainda marcado por ambiente de negócios desfavorável, poderá ser superada precisamente com o crescimento da associação entre universidades e empresas de base tecnológica, na visão do empresário Paulo Vítor Guerra, que integra o conselho de administração do BH-TEC.
“A velocidade de adoção de novas tecnologias tem crescido exponencialmente e cria um boom de oportunidades. É preciso aproveitá-las, e será possível transformar setores diversos", afirmou Guerra.
Segundo ele, Minas Gerais tem um ecossistema de inovação pujante, com programas de incentivo e de aceleração de startups e algumas das grandes universidades e centros de pesquisa do país. Guerra informou que mais de 100 milhões de dólares já foram investidos em startups mineiras, 60% desse valor nos últimos três anos.
Marco Crocco afirmou que falta ao estado “dar o salto”. “Nossa estrutura produtiva tem ilhas de excelência, mas está ainda muito centrada nos setores tradicionais”, disse. Segundo o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o processo de inovação deve se basear no diálogo cada vez maior com a sociedade civil e se guiar pelos pressupostos de defesa e valorização do meio ambiente.