Internacional

Internacionalização deve ter ações em rede e aulas em inglês, defendem gestores

Seminário promovido pelo British Council reúne na UFMG responsáveis pelo setor em universidades do Brasil e do Reino Unido

Na mesa sobre os desafios, da esquerda para a direita: Diana Daste, do British Council, Carlos Kamienski (UFABC), Fábio Alves (UFMG), Raquel Viana (UEMG), Audrey Heppleston (East Anglia) e Paul Noon (Coventry)
Na mesa sobre os desafios, da esquerda para a direita: Diana Daste (British Council), Carlos Kamienski (UFABC), Fábio Alves (UFMG), Raquel Viana (UEMG), Audrey Heppleston (East Anglia) e Paul Noon (Coventry) Lucas Braga / UFMG

A colaboração em rede com universidades estrangeiras, a oferta de disciplinas ministradas em inglês na graduação e na pós-graduação, no Brasil, e a preocupação com a inclusão foram alguns dos aspectos considerados fundamentais para o sucesso da internacionalização das instituições de ensino superior por gestores dessa área, reunidos em seminário da UFMG. O evento, que começou na manhã de hoje e terá sequência nesta sexta, 24, na Escola de Engenharia, é promovido pelo British Council, com apoio do governo de Minas Gerais e da UFMG.

Na mesa que abordou os desafios das universidades regionais, o diretor de Relações Internacionais da UFMG, Fábio Alves, enfatizou que a instituição pensa a internacionalização como um processo contínuo e valoriza as parcerias simétricas. “Temos capacidade instalada que nos possibilita propor iniciativas de mão dupla”, disse o diretor, que ressaltou também o caráter abrangente e inclusivo da gestão. “Fazemos questão de envolver todas as áreas e todos os segmentos da comunidade.”

Fábio Alves, da UFMG: é fundamental criar cultura institucional de internacionalização
Fábio Alves, da UFMG: é fundamental criar cultura institucional de internacionalização Lucas Braga / UFMG

Fábio destacou o foco no trabalho em redes e lembrou duas iniciativas recentes da UFMG: a integração com os países do bloco Brics – que reúne Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil – e a adesão à Worldwide Universities Network (WUN), que reúne poucas universidades bem distribuídas pelo mundo. A UFMG é a única instituição brasileira do grupo. “As redes são prioridade para nós, sejam grandes ou pequenas”, salientou. 

O diretor da DRI  reconheceu que as universidades brasileiras ainda têm seus mecanismos de internacionalização muito centrados em iniciativas de pesquisadores de renome no exterior. “Nossa atuação nesse campo precisa se institucionalizar ainda mais”, afirmou, admitindo também que, no caso da UFMG, que mantém mais de 500 convênios, com cerca de mil vagas de intercâmbio, a estratégia carece de um foco mais preciso, para um trabalho cada vez mais objetivo. Ele defendeu ainda que é fundamental criar uma cultura institucional de internacionalização, que permeie todas as dimensões da vida universitária.

Exposição e estágios

A Universidade Federal do ABC, cujo corpo docente é composto exclusivamente de doutores e pesquisadores ativos, conta com intensa colaboração com o exterior, revelou o chefe de gabinete de relações internacionais, Carlos Alberto Kamienski. Segundo ele, dada a juventude da universidade, que tem apenas 11 anos de existência, e a amplitude do tema internacionalização." “Preferimos não ter um plano estratégico muito estrito, que poderia engessar nossas ações”, disse.

Kamienski enumerou alguns dos objetivos da gestão: a exposição internacional – por meio de publicações e participação em eventos, por exemplo –, o estímulo a que os professores realizem estágios de pesquisa frequentes no exterior e a implantação de aulas em inglês, contemplando cada vez mais disciplinas. “Promovemos também o que chamamos de “internacionalização em casa”, ou seja, ações que propiciem experiências internacionais à comunidade, mesmo sem sair do país, como disciplinas ministradas em conjunto com universidades estrangeiras.”

Diferentemente da UFABC, a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) vê a necessidade de um plano estratégico. Segundo a gestora de internacionalização, Raquel Viana, trata-se de uma universidade muito nova, distribuída em polos muito distantes uns dos outros. “Precisamos definir prioridades, também porque estamos em estágio incipiente do processo de internacionalização”, enfatizou, acrescentando que a UEMG já conta com programas de intercâmbio e ensino de idiomas, entre outras ações. “Entendemos que a internacionalização deve mobilizar ao máximo o potencial da instituição e servir de instrumento, a um só tempo, para elevar os níveis de excelência e para promover o respeito à diversidade cultural”, completou Raquel Viana.

Os representantes de universidades britânicas apresentaram brevemente suas visões e experiências na atuação internacional. Audrey Heppleston, da Universidade de East Anglia, destacou a presença de estudantes estrangeiros nos campi da instituição e a realização de pesquisas conjuntas com universidades em todo o mundo (incluindo a UFMG). “Há pouco tempo fizemos acordos com instituições de países europeus que não participam da União Europeia, o que será certamente muito positivo no contexto atual, marcado pela saída do Reino Unido do bloco continental”, acrescentou Heppleston, salientando que as parcerias são excelentes oportunidades de aprendizado com universidades com características por vezes muito diferentes.

Paul Noon, da Universidade de Coventry, localizada em cinturão industrial na região central da Inglaterra, centrou sua exposição na interação da instituição com as empresas, com foco nas necessidades tecnológicas desses parceiros. “Nossas pesquisas, do âmbito local ao internacional, ajudam a construir pontes com a indústria, que opera em ritmos, idiomas e padrões diferentes”, destacou o pró-reitor de empreendedorismo e inovação.

Abertura

Mais cedo, nas falas inaugurais do evento, o destaque foi para a importância dos esforços para a internacionalização das universidades. Martin Dowle, diretor do British Council Brasil, informou que, no Reino Unido, 29% dos professores e pesquisadores são de outros países. “Aqui no Brasil, 63% dos pesquisadores nunca tiveram uma experiência internacional, o que mostra a necessidade de o país incrementar seu processo de internacionalização. E nós queremos participar desse movimento”, afirmou.

Simon Wood, cônsul-geral do Reino Unido, acrescentou que 11 mil brasileiros, dos quais 1600 são mineiros, realizaram intercâmbios estudantis em seu país nos últimos anos. Para ele, Brasil e Reino Unido devem estreitar relações no âmbito acadêmico. “O domínio da língua inglesa é primordial para que o Brasil alavanque sua economia. Por meio da internacionalização das universidades dos dois países, a educação pode alcançar novos patamares, tanto aqui como lá.”

Coordenador adjunto de Programas Especiais e Colaborações em Pesquisa da Fapesp, Hernan Chaimovich alertou que a mobilidade é importante, mas os intercâmbios estudantis não são suficientes para a internacionalização das instituições de ensino superior. “A internacionalização deve ser vista como via de mão dupla. O Brasil ainda é um país muito burocrático, o que dificulta esse processo. Além dos intercâmbios, precisamos oferecer disciplinas ministradas em inglês e facilitar o processo de validação de diplomas emitidos em universidades internacionais de ponta. A mobilidade, sozinha, não gera internacionalização.”

O reitor da UFMG, Jaime Ramírez, lançou mão de sua experiência pessoal para destacar a importância da internacionalização e das parcerias entre as instituições de ensino brasileiras e britânicas. “Tive a oportunidade de estudar no Reino Unido e de constatar a tradição, a seriedade e o rigor com que eles tratam o ensino superior. Estreitar os laços com as instituições britânicas é uma das prioridades da UFMG”, disse Ramírez.

O reitor
O reitor jaime Ramírez recebeu autoridades brasileiras e britânicasLucas Braga / UFMG