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Isolamento vertical é quase tão ruim quanto nenhum isolamento, conclui relatório

Estatísticos da UFMG estimam que manter grupos de risco em casa não garante a disponibilidade de leitos para pacientes com Covid-19

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Em curto prazo, 200 mil idosos necessitariam de internação em BH, no cenário de isolamento verticalWarpmike / Pixabay

Com base em simulações numéricas, que consideram cenários com diferentes políticas e graus de isolamento da população para se proteger do novo coronavírus, o Grupo de Trabalho (GT) Covid-19 da UFMG elaborou um relatório que afirma que o isolamento social vertical – restrito aos "grupos de risco" – é ineficaz para conter a pandemia.

“O cenário de isolamento vertical é apenas marginalmente melhor do que o cenário em que não há nenhum isolamento, e muito pior do que o cenário de isolamento horizontal, que abrange toda a população”, afirma o professor Luiz Henrique Duczmal, do Departamento de Estatística.

De acordo com o docente, as simulações mostraram que o isolamento vertical, com redução de 15 vezes no contato social, provocaria, rapidamente, a infecção de cerca de 200 mil pessoas com mais de 60 anos em Belo Horizonte, gerando enorme demanda por internação hospitalar imediata, sem que existam leitos suficientes na cidade. 

Achatando a curva
Por sua vez, o isolamento horizontal, se aplicado com a mesma intensidade em todos os grupos etários, reduz drasticamente o número de infectados, achatando a curva de crescimento da doença. “O isolamento horizontal fará com que a epidemia só se manifeste, e de maneira bastante reduzida, após 16 meses de seu início, desafogando a rede hospitalar e possibilitando a emergência, em tempo hábil, de soluções como a vacinação e novos medicamentos”, compara.

Duczmal é o primeiro autor do relatório técnico Isolamento social vertical é ineficaz para conter a pandemia, disponível no site do Departamento de Estatística. A análise foi feita para o município de Belo Horizonte, mas o estatístico assegura que conclusões similares são válidas para outras cidades.
Também assinam o documento os professores Max Sousa de Lima e Ivair Ramos Silva, do mesmo departamento; Denise Bulgarelli Duczmal, do Departamento de Matemática, e Claudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da UFMG, além de Alexandre Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei, e Flávia Costa Oliveira Magalhães, da Diretoria de Perícias Médicas da Polícia Civil de Minas Gerais.

Matheus Espíndola