Pessoas

José Murilo de Carvalho: ‘A UFMG é a minha alma mater’

Historiador que morreu neste domingo graduou-se em Sociologia e Política na Face e foi um dos responsáveis pela implantação da pós-graduação em Ciência Política na Universidade

José Murilo de Carvalho
José Murilo de Carvalho influenciou gerações de estudantes das ciências humanasFoto: Arquivo ABL

Um dos maiores intelectuais do Brasil, o historiador José Murilo de Carvalho, que morreu neste domingo, dia 13, aos 83 anos, sempre destacou seus fortes vínculos com a UFMG. “É a minha alma mater: aqui me formei e aqui ensinei durante nove anos”, disse ele, em 2014, quando convidado pelo então reitor Clélio Campolina Diniz e pelo professor João Antonio de Paula para falar sobre a trajetória do Brasil nos 50 anos posteriores a 1964.

O relato foi resgatado pelo professor Hugo da Gama Cerqueira, da Face, em seu blog. “José Murilo veio inúmeras vezes à Face e ao Cedeplar para participar de seminários, conferências e outros eventos, ocasiões em que compartilhou conosco sua inteligência e seu fino humor com generosidade e desprendimento”, escreveu Cerqueira. 

A fala de José Murilo – em que rememora seus anos na UFMG e analisa o papel da universidade na construção e consolidação de uma república democrática no Brasil –  foi publicada como artigo (1964: meio século depois) na Revista Nova Economia. “Permitam-me breve reminiscência. Frequentei a Face entre 1962 e 1965. Guardo da época lembranças muito positivas. A Face funcionava! Os professores ensinavam, os alunos estudavam, os servidores técnico-administrativos executavam com competência suas tarefas”, registrou Carvalho sobre seu período como estudante de graduação.

Na mesma comunicação, o historiador destacou o "privilégio" de ter sido aluno de Francisco Iglésias, "ícone da historiografia mineira, um historiador que fazia a história dialogar com a economia, com a literatura, com as artes, com o cinema", e de "outro professor menos cultuado, mas não menos inspirador, Júlio Barbosa", editor da Revista Brasileira de Ciências Sociais, que era publicada na Face.

“José Murilo foi um grande defensor da democracia e um apaixonado pela UFMG. É dele a frase: ‘Da UFMG, a gente não sai nem nunca quer sair'. Estamos em luto”, lamentou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, destacando, ainda, a grande influência intelectual que o professor exerceu no meio universitário brasileiro. “Ele inspirou muitas gerações de estudantes em vários campos das ciências humanas”, afirmou.

Medalha de Honra
Nascido em 8 de setembro de 1939, em Piedade do Rio Grande, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, José Murilo de Carvalho graduou-se em Sociologia e Política, em 1965, pela Faculdade de Ciências Econômicas. De 1969 a 1978, foi docente da UFMG e um dos responsáveis pela implantação da pós-graduação em Ciência Política na Universidade. Em 2001, recebeu a Medalha de Honra UFMG, outorgada aos egressos que se destacaram por contribuições de relevo prestadas à sociedade. Também foi membro do Comitê Científico do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat).

José Murilo de Carvalho atuou como professor visitante em várias universidades do mundo, como as britânicas Oxford e de Londres, a holandesa Leiden, as norte-americanas Stanford (onde cursou mestrado e doutorado), Irvine, Notre Dame e Princeton, além da Fundação Ortega y Gasset-Gregorio Marañón, da Espanha. Era professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde trabalhou até se aposentar.

O historiador escreveu 19 livros, entre os quais o perfil biográfico de Dom Pedro II, A cidadania no Brasil, A formação das almas (Prêmio Jabuti em 1991), Os bestializados e Forças armadas e política no Brasil. Em 2014, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a cadeira de número 5 como sucessor da escritora Rachel de Queiróz.

José Murilo de Carvalho morreu no Rio de Janeiro em decorrência de complicações da covid-19. Seu corpo será velado na manhã desta segunda-feira, dia 14, na sede da Academia Brasileira de Letras, na capital fluminense. O sepultamento está previsto para 13h, no mausoléu dedicado aos imortais, no Cemitério São João Batista, também no Rio de Janeiro.