Pesquisa e Inovação

Laboratório da UFMG testa uso de amostras salivares para o diagnóstico da covid

Resultados revelam que o método tem eficácia equivalente à do RT-PCR; grupo reúne dados para aprová-lo na Anvisa

Aparelho usa raios infravermelhos para detectar a presença do Sars-CoV-2 na saliva
Aparelho que usa raios infravermelhos para detectar a presença do Sars-CoV-2 na saliva Arquivo pessoal

O Laboratório de Genética Celular e Molecular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG iniciou os testes do método de detecção da covid-19 que utiliza amostras salivares. Os exames estão sendo feitos em vários estados do país por laboratórios que integram o Projeto institucional em rede: laboratórios de campanha para testes de diagnóstico da covid-19. A rede de laboratórios pretende realizar 30 mil testes, dos quais 10% serão feitos no laboratório do ICB, sob a coordenação do professor Vasco Azevedo, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução.

Parte das amostras analisadas na UFMG está sendo coletada no Centro de Referência e Atendimento à Covid-19 do município de Caeté. Segundo Vasco Azevedo, as amostras colhidas no município da Região Metropolitana de Belo Horizonte fazem parte do esforço da rede em mostrar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que o método de diagnóstico salivar é eficiente. Para isso, os pesquisadores comparam os resultados dos testes feitos com a saliva com aqueles efetuados pelo método swab nosorofaríngeo (RT-PCR), no mesmo indivíduo. 

Menos invasivo e mais rápido (sai em dois minutos) que o RT-PCR, o teste salivar utiliza raios infravermelhos que incidem sobre as amostras. Posteriormente, elas são analisadas por inteligência artificial. “Estamos percebendo que os resultados por saliva e por swab são equivalentes, o que prova que o método de testagem salivar é tão eficiente quanto o RT-PCR, recomendado pela Organização Mundial de Sapude (OMS). Comprovar essa eficiência é requisito para que a Anvisa aprove a nova tecnologia”, explica Azevedo.

Segundo os dados que foram enviados à Anvisa, o método de diagnóstico salivar tem acurácia de 92%, o que atesta a sua eficiência e qualidade. Ele foi desenvolvido pelo professor Luiz Ricardo Goulart, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

“Estamos realizando uma espécie de teste clínico com o método de diagnóstico salivar, em moldes semelhantes ao que se faz quando uma vacina é testada. Depois da aprovação da Anvisa, o método será certificado e poderá ser comercializado e utilizado em larga escala”, diz Azevedo.

Para o pró-reitor adjunto de Pesquisa da UFMG, André Massensini, que coordena o Projeto institucional em rede: laboratórios de campanha para testes de diagnóstico da covid-19, a validação do teste salivar é importante porque a testagem em massa ajuda no controle da pandemia no país. “Ter mais um método de diagnóstico considerado padrão é essencial para que consigamos aumentar a testagem no Brasil. A UFMG entende a importância de conduzir uma iniciativa como esta e é a instituição responsável pela maior parte dos testes já feitos pela rede”, diz.

Vasco Azevedo:
Vasco Azevedo: com a aprovação da Anvisa, novo método de diagnóstico pode se tornar padrãoFoca Lisboa | UFMG

Além dos moradores de Caeté, o ICB também está oferecendo os testes, de forma gratuita, a pessoas da sua comunidade que estão frequentam o campus Pampulha. A intenção é que, futuramente, toda a comunidade universitária possa ter acesso aos testes salivares. "Isso dará mais segurança para o futuro retorno às atividades no campus", avalia Azevedo. A participação na pesquisa não é aberta à população em geral.

Trabalho em rede
O Projeto institucional em rede: laboratórios de campanha para testes de diagnóstico da covid-19 foi lançado em julho do ano passado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e já realizou mais de 370 mil testes de diagnóstico da doença – a maior parte foi processada nos laboratórios da UFMG. A iniciativa, que conta com 13 universidades das cinco regiões brasileiras, teve início com uma rede da UFMG dedicada a ampliar a capacidade de testagem da doença, por meio da detecção de marcadores moleculares do vírus Sars-CoV-2. O projeto é financiado com recursos de R$ 32,5 milhões repassados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Além da UFMG, a rede de laboratórios de campanha congrega as universidades federais Fluminense (UFF), da Paraíba (UFPB), de Pernambuco (UFPE), de Goiás (UFG), de São Paulo (Unifesp), de Santa Maria (UFSM), do Mato Grosso do Sul (UFMS), do Rio de Janeiro (UFRJ), do Amazonas (Ufam), do Paraná (UFPR), do Oeste da Bahia (Ufob) e a Estadual de Santa Cruz (Uesc/BA).

Da UFMG, participam os professores André Massensini, Betânia Drumond, Erna Kroon, Flávio Fonseca, Giliane Trindade, João Trindade Marques, Jonatas Abrahão, Mauro Teixeira, Renato Santana, Ricardo Gazzinelli, Santuza Teixeira, Vasco Azevedo, Renan Pedra de Souza, vinculados ao Instituto de Ciências Biológicas; Henrique Figueiredo, Maria Isabel Guedes e Zélia Lobato, da Escola de Veterinária; Adriano de Paula Sabino e Ana Paula Moura Fernandes, da Faculdade de Farmácia, e José Nélio Januário, da Faculdade de Medicina.

As informações sobre os testes realizados pelo projeto são atualizadas diariamente.

Luana Macieira