Pesquisa e Inovação

Laboratórios de campanha vão testar uso de amostras salivares no diagnóstico da covid-19

Rede nacional liderada pela UFMG, que já realizou mais de 172 mil exames, pretende ampliar capacidade de testagem caso o novo método seja aprovado

Pesquisadora em atividade no CT Vacinas da UFMG, um dos laboratórios da rede
Pesquisadora em atividade no CT Vacinas da UFMG, um dos laboratórios da rede Pedro Vilela | Getty Images

Liderada pela UFMG, a rede nacional de laboratórios de campanha que realiza testes de diagnóstico da covid-19 pretende iniciar, nas próximas semanas, pesquisa com novo método de detecção da doença, que se vale de amostras salivares. O teste, que utiliza metodologia de leitura em um aparelho por infravermelho, ainda não teve seu uso autorizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde.

“Os equipamentos que fazem esse tipo de análise já chegaram, e estamos treinando o pessoal para operá-los. O teste salivar faz a leitura em apenas três minutos. Nossa expectativa é comparar as amostras coletadas pelo swab nosorofaríngeo com as amostras salivares de um mesmo paciente. Assim, poderemos observar se os dois testes são equivalentes”, afirma o pró-reitor adjunto de Pesquisa, André Massenssini.

Segundo o professor, caso o teste por amostra salivar tenha sua eficácia equivalente ao que utiliza amostras colhidas no nariz e na garganta, o primeiro poderá ser autorizado e tornar-se padrão, ampliando, assim, a capacidade de testagem. “A coleta salivar é mais fácil, e o resultado sai mais rapidamente. A amostra não precisaria ser enviada aos laboratórios, pois qualquer hospital poderá adquirir o equipamento e, após treinamento, realizar os exames. Isso viabilizaria a coleta e análise de mais amostras fora dos grandes centros urbanos”, justifica Massensini.

O Projeto institucional em rede: laboratórios de campanha para testes de diagnóstico da covid-19 foi lançado em julho do ano passado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e já realizou mais de 172 mil testes de diagnóstico da doença – mais de 100 mil foram processados nos laboratórios da UFMG. A iniciativa, que conta com 13 universidades das cinco regiões brasileiras, teve início com uma rede da UFMG dedicada a ampliar a capacidade de testagem da doença, por meio da detecção de marcadores moleculares do vírus Sars-Cov-2. O projeto é financiado com recursos de R$ 32,5 milhões repassados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)

Formação
Enquanto o teste salivar não se torna realidade, os trabalhos do projeto continuam focados nas amostras coletadas por meio dos swabs. No caso da UFMG, seus laboratórios recebem amostras coletadas da rede pública de saúde, por meio de acordo com a Fundação Ezequiel Dias (Funed), estadual, e com as prefeituras de Contagem e de Belo Horizonte.

Segundo André Massensini, a rede de testagem, além de colocar a UFMG em uma posição estratégica no combate à pandemia, contribui para a formação de profissionais e pesquisadores. “Os estudantes e pesquisadores que trabalham com os testes estão se capacitando para atuar no enfrentamento de novas doenças. Esse trabalho tem gerado conhecimento novo e artigos científicos. Em um momento de forte ataque à ciência, é importante mostrar como as instituições de ensino e pesquisa são importantes. Além de prestarmos um serviço à sociedade, promovemos a ciência e a formação”, analisa o pró-reitor adjunto de Pesquisa.

Universidades e pesquisadores
Além da UFMG, a rede de laboratórios de campanha congrega as universidades federais Fluminense (UFF), da Paraíba (UFPB), de Pernambuco (UFPE), de Goiás (UFG), de São Paulo (Unifesp), de Santa Maria (UFSM), do Mato Grosso do Sul (UFMS), do Rio de Janeiro (UFRJ), do Amazonas (Ufam), do Paraná (UFPR), do Oeste da Bahia (Ufob) e a Estadual de Santa Cruz (Uesc/BA).

Da UFMG, participam os professores André Massensini, Betânia Drumond, Erna Kroon, Flávio Fonseca, Giliane Trindade, João Trindade Marques, Jonatas Abrahão, Mauro Teixeira, Renato Santana, Ricardo Gazzinelli, Santuza Teixeira, Vasco Azevedo, Renan Pedra de Souza, vinculados ao Instituto de Ciências Biológicas; Henrique Figueiredo, Maria Isabel Guedes e Zélia Lobato, da Escola de Veterinária; Adriano de Paula Sabino e Ana Paula Moura Fernandes, da Faculdade de Farmácia, e José Nélio Januário, da Faculdade de Medicina.

Esses pesquisadores atuam nos sete laboratórios da UFMG credenciados para o projeto: o CT-Vacinas, instalado no BH-Tec, o Laboratório de Vírus, o INCT Dengue, o Laboratório de RNA de Interferência (esses três do ICB), o Laboratório de Genética e Biologia Molecular, vinculado ao Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) da Faculdade de Medicina, o Laboratório Institucional de Pesquisa em Biomarcadores (Linbio), da Faculdade de Farmácia, e o Aquacen, na Escola de Veterinária.

As informações sobre os testes realizados pelo projeto são atualizadas diariamente.

Luana Macieira