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Marcos Pimenta, da Física, recebe hoje o título de professor emérito da UFMG

Outorga será formalizada em cerimônia no ICEx; professor é um dos pioneiros em estudos com nanotubos de carbono

Marcos Pimenta: pioneirismo que deu origem ao CTNano
Marcos Pimenta: trabalho pioneiro deu origem ao CTNano Carol Prado/UFMG

O professor Marcos Assunção Pimenta, do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), vai receber hoje o título de professor emérito da UFMG em cerimônia conduzida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a partir das 19h, no Auditório 3 do ICEx. A titulação é concedida por indicação das congregações das unidades a docentes aposentados cujas atividades acadêmicas são consideradas de excepcional relevância para a Universidade.

Desde criança, Marcos Pimenta mostrou interesse pela física, pela matemática e pela química. Sua mãe, Ângela Assunção Pimenta, é professora aposentada do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, e seu pai, Antônio Pimenta, era engenheiro civil e lecionou Mecânica dos Solos na Escola de Minas, na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Ainda criança, o tio Aluísio Pimenta, então professor do Departamento de Química do ICEx, presenteou-se com alguns frascos de reagentes químicos. O primeiro contato com demonstrações de fenômenos físicos também aconteceu na infância, nas aulas de física no Colégio Santo Antônio.

A infância em meio a professores e pesquisadores da área de exatas tornou natural a opção pela graduação e pelo mestrado em Física na UFMG, e mais tarde pelo doutorado na Université d'Orléans, na França. Em 1992, fundou o Laboratório de Espectroscopia Raman, que foi implementado na UFMG com recursos captados na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Os estudos relacionados aos nanomateriais se aprofundaram em 1997, durante um ano sabático no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Ao lado da professora Mildred Dresselhaus, Doutora Honoris Causa da UFMG, Pimenta foi o responsável pelo primeiro trabalho experimental no MIT em amostras de nanotubos de carbono por espectroscopia Raman, quando demonstrou que essa técnica possibilitava distinguir nanotubos metálicos dos semicondutores.

Laser do Laboratório de Espectroscopia Raman do Departamento de Física da UFMG
Laser do Laboratório de Espectroscopia Raman do Departamento de Física da UFMG Foto: Lucas Braga | UFMG

“Naquela época, ainda não se sabia que os nanomateriais tinham várias aplicações tecnológicas. Então, em 2000, conseguimos comprar um conjunto de lasers sintonizáveis que tornaram possível medir o espectro Raman ressonante de grafeno, o que gerou uma publicação pioneira em grafeno no Brasil.  Obtivemos muitas informações sobre a estrutura eletrônica dos nanotubos e avançamos nessa área”, conta Pimenta.

A partir de 2010, Marcos Pimenta dedicou-se ao estudo de outros materiais bidimensionais e à análise de amostras de bicamadas rodadas de grafeno. Os resultados por espectroscopia ressonante possibilitaram compreender a natureza das interações entre elétrons e fônons em diferentes camadas. 

Transferência de tecnologia
A professora Ariete Righi, do Departamento de Física da UFMG, lembra que a atuação de Pimenta sempre extrapolou a pesquisa científica, uma vez que o professor teve importante atuação na gestão e na obtenção de recursos e financiamentos para projetos de pesquisa. “Um dos grandes impactos do professor Pimenta foi atuar, desde o início, nas chamadas dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Isso foi importante para obter financiamentos e trazer equipamentos para os estudos."

Pimenta foi um dos fundadores do Centro de Tecnologia de Nanomateriais e Grafeno (CTNano). O novo emérito da UFMG conta que o projeto do CTNano teve início em 2010, quando ele e outros nove professores da UFMG decidiram elaborar um projeto e solicitar verbas à Petrobras e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O professor relembra que a ideia era construir um complexo que seria implementado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte, o BH-TEC. “Deu tudo certo e implementamos o CTNano, que eu coordenei até 2020, quando decidi me aposentar da UFMG. Foi nesse período que captamos mais recursos para o CT, o que nos possibilitou construir a sede que está funcionando até hoje a todo vapor, com mais de 90 colaboradores e 15 empresas.”

Sede do CTNano no BH-TEC: produção de conhecimento avançado sobre materiais nanoestruturados
Sede do CTNano no BH-TEC: produção de conhecimento avançado sobre materiais nanoestruturados Foto: arquivo CTNano

A implementação do CTNano mostra que Marcos Pimenta sempre buscou levar à indústria o conhecimento produzido dentro da Universidade. “Sempre achei que era importante que o conhecimento fosse aplicado, fazendo essa ponte entre a academia e o setor industrial. Considero que tive uma relevante atuação para viabilizar essa transferência de conhecimento”, diz.

Em setembro deste ano, o professor Marcos foi vencedor, na categoria Ciência, da sexta edição do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia. Promovido pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, o Prêmio concede R$ 500 mil a profissionais de destaque em cada uma das duas categorias: Ciência e Tecnologia. Na ocasião, Pimenta reconheceu a sua contribuição para Minas Gerais, “introduzindo a linha de pesquisa e formando recursos humanos nas áreas de nanotubos e grafenos". Segundo ele, os projetos que coordenou propiciaram "a formação de recursos humanos qualificados e a aquisição de equipamentos para produzir e caracterizar esses nanomateriais em outros polos no estado".

Pimenta orientou pesquisadores que se tornaram professores na UFMG
Pimenta orientou pesquisadores que se tornaram professores na UFMG Foto: Foca Lisboa | UFMG

Inspiração para muitos
Apesar de toda a atuação na pesquisa e na extensão, Marcos Pimenta nunca deixou a sala de aula e se lembra com carinho dos tempos em que lecionava na graduação e na pós-graduação. Para ele, a atividade de ensino sempre foi parte importante da sua carreira na UFMG. “Sei que há professores que gostam de estar no laboratório, mas não na sala de aula. Comigo nunca foi assim. Mesmo aposentado, ainda atuo como professor voluntário da UFMG e ministro disciplinas, pois creio que o ensino faz parte da nossa função social. Já aprendi muito com meus alunos: muitas vezes, eles fazem perguntas que a gente não sabe responder, e isso nos leva a aprender também. O ensino é uma via de mão dupla que nos permite conviver com os jovens e seguir aprendendo com eles”, diz.

Ariete Righi acrescenta que Pimenta sempre foi um incentivador de pesquisadores iniciantes, além de ser muito didático e dedicado. “Ele sempre foi um exemplo para os alunos, pois conseguia unir pesquisa e aplicação prática. As aulas dele são muito boas.”

Entre os estudantes que foram orientados e inspirados por Marcos Pimenta estão os atuais professores do Departamento de Física da UFMG Ado Jorio de Vasconcelos, Cristiano Fantini Leite, Leandro Malard e Luiz Gustavo Cançado. Pimenta tem muito orgulho de ter formado tantos pesquisadores e se sente feliz pelo reconhecimento com a outorga do título de emérito.

“Sinto-me muito grato por ter ensinado a tantos estudantes que se tornaram ótimos pesquisadores e professores. E me sinto muito feliz em me tornar professor emérito da UFMG. Aposentei-me em 2020 e foi uma decisão difícil porque eu sempre gostei muito do meu trabalho e da vida na Universidade. O título de emérito é um recado de que a UFMG quer que eu continue trabalhando e fazendo atividades aqui. Agora posso dizer que a Universidade continua sendo a minha casa, então esta é a maior honraria que eu já recebi em toda a minha vida”, conclui, emocionado.

Nesta entrevista, Marcos Pimenta falou dos primórdios de suas pesquisas sobre nanotecnologia. Assista ao vídeo:

Luana Macieira