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Mário Perini e Wander Miranda, da Fale, são os novos eméritos da UFMG

Trajetórias dos dois homenageados foram destacadas em cerimônia realizada nesta quinta-feira

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Rothe-Neves: vocação de Mário Perini manifestou-se ainda na infânciaFoto: Foca Lisboa / UFMG

Na noite desta quinta-feira (10), em sessão solene da Egrégia Congregação da Faculdade de Letras (Fale), realizada no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD2), foi outorgado o título de Professor Emérito aos docentes Mário Alberto Perini e Wander Melo Miranda.

Os agraciados e seus colegas, incluindo a reitora Sandra Goulart Almeida e a diretora em exercício da Unidade, Sueli Maria Coelho, resgataram, em pronunciamentos, alguns dos fatos que marcaram as trajetórias acadêmicas dos eméritos. As recentes políticas governamentais de Educação e os rumos da universidade brasileira também foram repercutidos.

Partidas ganhas
Em saudação a Mário Perini, o professor Rui Rothe-Neves trouxe em seu pronunciamento uma pequena biografia do homenageado, em que arrolou alguns de seus principais feitos acadêmicos, como as 78 conferências e palestras proferidas, os 62 livros, capítulos e artigos publicados, e as 22 teses e dissertações orientadas.

“Antes dos feitos, porém, já havia a semente dos feitos, que, no caso de alguém dedicado à Linguística, é o interesse, a curiosidade intelectual pelas línguas, pela linguagem humana”, afirmou antes de revelar que, quando criança, Mário Perini chegou a inventar um idioma “falado no planeta que criou com seu irmão”. “Falantes nativos, habitavam um mundo próprio no seu brincar”, metaforizou.

Sobre sua carreira de 50 anos como professor da UFMG, Mário Perini disse que “inclui uma lista de momentos felizes, mas também alguma dose de frustrações”. “Posso dizer que houve mais momentos felizes”, ressaltou. Fazendo o que chamou de “retrospectiva mental”, o homenageado destacou que suas melhores lembranças são devidas à convivência com “alunos excelentes” e “colegas atenciosos”. “Posso dizer que deixei uma marca, formando bons profissionais e contribuindo para a produção científica na nossa Faculdade”, resumiu.

Mário Perini reconheceu sua participação na evolução da área de linguística da UFMG durante o período em que atuou, mas lamentou a atual conjuntura política do país, que compromete os rumos da Universidade brasileira e, consequentemente, da Fale. “As coisas estão muito diferentes daquilo com que sonhava no início da minha carreira. Mas nenhum time pode esperar ganhar todas as partidas – felizmente, ganhei algumas”, disse.

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Mário Perini: "retrospectiva mental"Foto: Foca Lisboa / UFMG

Manual de sobrevivência
“Sob a direção de Wander Miranda, a Editora UFMG transformou-se na mais respeitada editora universitária brasileira, lançando o segmento, no país, a outro patamar.” Esse foi um dos muitos feitos atribuídos ao professor Wander Miranda no discurso de saudação proferido pelo colega Roberto Said.

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Said: Wander construiu engenhoso dispositivo de leituraFoto: Foca Lisboa / UFMG

Said também destacou as pesquisas de Miranda sobre nação e identidade cultural. “Wander construiu, sob fronteiras disciplinares, um engenhoso dispositivo de leitura a fim de analisar o modo como o texto artístico interpela as formações nacionais que dão significado e visibilidade ao campo político”, declarou.

Em seu pronunciamento, Wander Melo Miranda também manifestou orgulho por ter “acompanhado de perto o percurso bem-sucedido da UFMG” durante quase meio século. “Espero que a Universidade amplie cada vez mais seu compromisso com o ensino público e gratuito de qualidade, sempre com a abertura solidária ao pensamento do outro”, declarou.

Segundo o professor, o destino que seguiu como pesquisador da literatura se deveu ao fato de “ter adquirido, desde cedo, o vício de ler romances”. “Quando, na adolescência, descobri que se podia fazer desse vício uma profissão, foi um alívio: meu caminho estava escolhido”, relatou o agraciado, que ingressou em 1970 no Colégio Universitário da UFMG e, no ano seguinte, na Faculdade de Letras.

“Num país injusto como o Brasil, a necessidade e pertinência da literatura parecem estar sempre em xeque. Cabe a nós ampliar esse mundo, abrindo espaço para o prazer do texto e para o conhecimento que só a literatura pode proporcionar para a compreensão da nossa tempestiva contemporaneidade”, defendeu Miranda, comentando que a melhor definição de literatura, em sua opinião, foi dada pelo escritor argentino Ricardo Piglia: “um manual de sobrevivência em tempos difíceis”.

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Wander Melo Miranda: "vício de ler romances" se transformou em profissãoFoto: Foca Lisboa / UFMG

Para além do protocolo
A reitora Sandra Goulart Almeida, que é egressa da Fale, relatou as próprias vivências com os professores homenageados. “Fui aluna de Mário Perini e nunca me esqueci de seus ensinamentos. É um mestre exigente, com personalidade caracterizada por uma ironia firme, delicada e bem-humorada”, relembrou.

Sobre Wander Miranda, a reitora salientou que, embora não tenha convivido com ele em sala de aula, é sua discípula por meio de alunos em comum, que “sempre retornavam seus ensinamentos”. “Atento, perspicaz e motivador” foram alguns dos atributos de Wander Miranda salientados pela reitora, que o considera “referência na UFMG, no Brasil e em outros países”.

“Por tudo isso, ainda que minha direção à sessão de outorga deste prêmio não estivesse prevista no protocolo de eventos da Universidade, eu mesma pediria para fazê-lo”, declarou a reitora.

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Sandra Goulart Almeida: vivências pessoais e profissionais com os eméritosFoto: Foca Lisboa / UFMG

Trajetórias
Mário Perini graduou-se na UFMG em 1967, na habilitação Português-Latim. Doutorou-se em Linguística pela University of Texas (EUA), em 1974. Além da UFMG, atuou como professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nas universidades de Illinois e Mississipi, ambas nos Estados Unidos, e na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atualmente, é professor voluntário na Fale, na sub-área de Teoria e Análise Linguística, com concentração em português brasileiro falado, sintaxe, ensino de português e gramática de construções.

Mário Perini ladeado pela vice-diretora da Fale, Sueli Coelho, e pela reitora, Sandra Goulart
Mário Perini ladeado pela vice-diretora da Fale, Sueli Coelho, e pela reitora, Sandra Goulart AlmeidaFoto: Foca Lisboa / UFMG

Em 2010, recebeu a Medalha Isidoro de Sevilha de Destaque em Linguística e Filologia, concedida pelo Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Em 1996, foi agraciado com o  Prêmio Fundep, que reconhece professores e pesquisadores da UFMG que, no exercício de suas atividades acadêmicas, realizaram trabalhos geradores de avanço no desenvolvimento das ciências, das letras e das artes.

Entre as suas principais publicações destacam-se a A gramática gerativa: introdução ao estudo da sintaxe portuguesa (1976), Princípios de linguística descritiva (2006), Estudos de gramática descritiva: as valências verbais (2008), A gramática do português brasileiro (2010) e A língua do Brasil amanhã (2004).

Wander Miranda graduou-se em Letras, em 1974, na UFMG, onde também obteve o título de mestre, em 1979. Tem doutorado em Literatura Brasileira, pela Universidade de São Paulo (USP), concluído em 1987. Foi coordenador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CA-LL) de 2007 a 2009 e diretor da Editora UFMG por 15 anos. Tem experiência com ênfase em Teoria da Literatura e Literatura Comparada, atuando principalmente em literatura brasileira, literatura latino-americana, literatura italiana, Graciliano Ramos, memória, modernidade e pós-modernidade, ficção contemporânea.

Novo professor emérito, Wander Miranda recebe placa
Wander Melo Miranda com o diploma de eméritoFoto: Foca Lisboa / UFMG

Em 1998, recebeu a Medalha de Honra da Inconfidência Mineira, do Governo do Estado de Minas Gerais e, em 2008, o Prêmio Fundep. É autor das obras Corpos escritos (2009), Nações literárias (2010), Cyro e Drummond: correspondência entre Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade (2012).

Professores eméritos
O título de professor emérito é conferido a professores já aposentados, que atingiram alto grau de projeção no exercício de sua atividade acadêmica. Antes de Melo Miranda e Perini, seis docentes da Fale já haviam sido contempladas com a distinção: Ângela Tonelli Vaz Leão, Solange Ribeiro de Oliveira, Maria Luiza Ramos, Leticia Malard, Eneida Maria de Souza e Ana Lúcia Almeida Gazzola.

Matheus Espíndola