Mesa analisa cenário e projeta perspectivas para a C&T no Brasil
Em evento da Semana do Conhecimento, gestores avaliam possibilidades de consolidação do sistema de inovação e sua interface com o setor produtivo
As implicações da política nacional de Ciência & Tecnologia foram discutidas por especialistas de segmentos variados durante a mesa-redonda Desafios atuais e as perspectivas para o futuro da C&T no Brasil, realizada na manhã desta terça-feira, dia 20, no âmbito da programação da 29ª Semana do Conhecimento UFMG.
De acordo com a reitora da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), Soraya Smaili, o ensino superior brasileiro apresentou importante expansão de 2004 a 2016 – avanço significativo, mas proporcionalmente insuficiente, se comparado com o sistema privado. “Ainda estamos muito distantes de atingir a meta estabelecida pelo PNE [Plano Nacional de Educação], de dobrar o número de jovens entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior”, observou.
Para a professora, o aumento do número de universidades públicas no país possibilitaria que mais jovens cursassem o ensino superior em ambientes que priorizam o desenvolvimento da pesquisa. “Cerca de 80% da pesquisa e da inovação produzidos no Brasil são de responsabilidade das universidades, principalmente as públicas”, justificou a reitora da Unifesp.
Na mesma linha, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, enfatizou a importância de “resgatar os benefícios que a ciência já trouxe para a sociedade brasileira”. “Enfrentamos uma situação difícil no país, marcada pela falta de compreensão do Poder Executivo quanto à importância da ciência, o que, nos países desenvolvidos, é indiscutível”, lamentou.
Davidovich lembrou que as primeiras universidades brasileiras foram fundadas tardiamente em relação às principais instituições do mundo. No entanto, segundo ele, “existem muitas razões para nos orgulharmos”, tanto em termos de benefícios à população brasileira quanto para a consolidação de nosso protagonismo internacional.
“A Fiocruz, fundada em 1900, foi motriz do progresso da biologia no país. Hoje, é presente globalmente e estabeleceu colaborações significativas com vários países. Da mesma forma, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem múltiplos acordos bilaterais, em 56 países, e participação muito importante, especialmente em pesquisas nas regiões tropicais”, exemplificou.
Desmitificando a torre de marfim
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, dissertou sobre o papel fundamental da pesquisa em ciência para o sistema produtivo, com reflexos diretos na sociedade. “É preciso reconhecer que a pesquisa científica – incluindo as ciências humanas e sociais – tem reflexos diretos no sistema produtivo e desmitificar a ideia de torre de marfim, ou seja, refutar o argumento de que os cientistas trabalham de maneira isolada, no interior das universidades”, provocou.
Segundo ele, por conta dos investimentos continuados nas fundações de fomento, ocorridos ao longo das últimas duas décadas, o Brasil atingiu o 14ª posto mundial em publicações científicas. “Hoje respondemos por mais da metade da ciência realizada na América Latina e passamos a formar anualmente um grande número de doutores. Precisamos, no entanto, evoluir em relação ao impacto dessas publicações e ser capazes de gerar empregos para todos esses especialistas”, contrapôs.
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Celso Pansera, secretário-executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), falou sobre as propostas que têm sido avaliadas pelos legisladores para promover os investimentos federais em pesquisa científica. Dentre elas, ele destacou a destinação de 25% do Fundo Social do Pré-Sal para o setor de CT&I, a revogação da EC 95, que estabeleceu o teto de gastos públicos por 20 anos, e a transformação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em um fundo especial de natureza contábil e financeira.
“O Brasil vem consolidando seu sistema nacional de inovação – processo que teve início, mais especialmente, a partir dos anos 2000. Temos, atualmente, uma estrutura que possibilita avançar em direção a um sistema moderno de inovação. Dispomos, ainda, de um conjunto de leis, aprovadas e sancionadas, que nos autorizaria um ‘grande salto’, caracterizado pela recuperação da capacidade e do protagonismo da nossa indústria, com geração de emprego e renda. Entretanto, em razão da burocracia excessiva e das dificuldades continuamente impostas pelos governantes, não temos conseguido implementar essa regulamentação com todo o seu vigor”, ressalvou Pansera.
O debate desta terça-feira foi mediado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. A 29ª edição da Semana do Conhecimento debate as aplicações e desafios no campo da Inteligência Artificial. A programação segue até sexta-feira, dia 23.