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Mídia e racismo: análise sobre a cobertura midiática das ações policiais no Rio de Janeiro

Programa Conexões conversou com uma das coordenadoras da pesquisa “Mídia e Racismo no Brasil”

Vítima de bala perdida na chacina da Vila Cruzeiro, na terça-feira, 24/05, é socorrida por moradores.
Vítima de bala perdida na chacina da Vila Cruzeiro, na terça-feira, 24/05, é socorrida por moradores. Instituto Fogo Cruzado / Reprodução

Mais uma chacina em ação policial no Rio de Janeiro. Dessa vez foi na Vila Cruzeiro, parte do complexo da Penha, na zona norte da cidade, resultando em 25 mortos na última terça-feira. Esse é o segundo massacre mais letal da grande Rio, atrás apenas da chacina do Jacarezinho, que teve 28 óbitos e completou 1 ano no início deste mês. Dados do Instituto Fogo Cruzado mostram que, somente neste ano, ocorreram 21 chacinas na região metropolitana do Rio de Janeiro, 16 delas ocasionadas pela polícia. Ao todo, foram 98 mortes, sendo 72 delas em intervenções de agentes da segurança pública. Acompanhamos esses casos, temos ciência deles e acesso a dados também por meio da cobertura da imprensa. Mas o que mais vem junto com o trabalho jornalístico? O racismo estrutural que se faz presente nas relações sociais cotidianas também atinge os jornais. Ultimamente tem sido muito contestada a maneira como uma pessoa é retratada quando suspeita de um crime, por exemplo, a depender da cor da pele. As chacinas são casos em que podemos perceber isso, onde quem morre são principalmente pessoas pretas. E ainda nos deparamos com manchetes como “Vítimas do Jacarezinho tinham ficha criminal ou envolvimento com o tráfico relatado por parentes, diz polícia”, publicada pela Folha de São Paulo em maio de 2021. Pessoas foram executadas sumariamente e o jornal buscou dar destaque à ficha criminal delas, como se fosse uma justificativa para a violência policial, como se houvesse por aqui pena de morte. Sabe-se que ninguém pode ser executado pela polícia, tendo antecedentes criminais ou não. Nesse sentido, caberia à mídia hegemônica não normalizar a lógica do extermínio. Também merece atenção a questão da polícia ser consultada como fonte primária e, por vezes, única em matérias, resultando em um jornalismo declaratório que apresenta pouca pluralidade na cobertura dos acontecimentos. 
O programa Conexões conversou sobre como tem sido a cobertura midiática de grandes veículos de comunicação em temáticas como as chacinas no Rio de Janeiro e entender como o racismo estrutural atravessa as narrativas, com Viviane Gonçalves Freitas, professora do departamento de Ciência Política da UFMG, jornalista e uma das coordenadoras da pesquisa nacional “Mídia e Racismo no Brasil”.

Ouça a conversa com a jornalista Luiza Glória

A professora Viviane Gonçalves Freitas, em parceria com a professora da UFSCar, Universidade Federal de São Carlos, Lucy Oliveira, coordena a pesquisa “Mídia e racismo no Brasil”. O levantamento busca mapear características do trabalho e da composição da redação de veículos de comunicação que interferem na cobertura referente à questão racial. O estudo está com questionário aberto para profissionais de imprensa que queiram participar. O anonimato é garantido. Para participar, acesse o formulário.

Produção: Alícia Coura e Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória