Pessoas

Morre o professor Anis Leão, um dos fundadores do curso de Comunicação Social da UFMG

Velório será hoje, a partir das 11h40, no cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte

Aniz Leão:
Anis Leão: professor, jornalista e referência em direito eleitoralMariana Lacerda | Acervo do Departamento de Comunicação Social/UFMG

Morreu na tarde de ontem (quarta, 2 de março), aos 91 anos, em Belo Horizonte, o professor Anis José Leão, um dos fundadores do curso de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG. Ele foi internado na noite do último sábado, acometido por uma infecção urinária, e não resistiu a um quadro de septicemia.

O velório será nesta quinta-feira, 3, das 11h40min às 13h40min, na Capela 5 do Cemitério Parque da Colina (Rua Santarém, 50, bairro Nova Cintra), onde ocorrerá o sepultamento.

Até antes da internação, Anis estava ativo, mantinha um blog e o hábito de ler “o dia todo”, como diz a filha Taís Lobato Leão. Ela conta que o pai tinha grande afeição por sua história na UFMG e manteve relação de amizade com muitos professores e ex-alunos. Sua trajetória na Universidade teve início em 1953, quando ingressou na Faculdade de Direito. Formou-se cinco anos depois e, em 1961, criou o curso de Comunicação Social, ao lado dos professores José Mendonça e Adival Coelho de Araújo.

Nascido em Itaúna (MG), em 1931, Anis Leão começou trabalhando como professor e jornalista, em escolas e veículos da cidade natal e de Belo Horizonte. No mesmo ano (1953) em que obteve o registro profissional de jornalista, ingressou na secretaria do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), onde teve notável ascensão funcional e trabalhou por 40 anos. Autor de numerosos artigos, livros e conferências sobre direito eleitoral, ele foi uma das referências nacionais nesse tema.

Na UFMG, ensinou, sobretudo, ética e legislação na imprensa e na comunicação. Aluno de Anis Leão na graduação em Jornalismo, na década de 1980, Elton Antunes, que se tornaria professor do curso depois da aposentadoria de Anis, tem a lembrança de uma pessoa doce e de ampla cultura humanística. “Ele foi decisivo para nossa compreensão da ética profissional, dos cuidados que um repórter deve ter, por exemplo, com a reputação das pessoas”, conta Antunes, que ficou marcado também pelos “relatos deliciosos” durante caronas do professor após as aulas noturnas.   

Hábitos simples
Taís Leão se refere ao pai como um homem “muito religioso, generoso e de caráter exemplar”. “Ele tinha vasto conhecimento, mas não usava isso para se colocar em situação de superioridade”, ela ressalta, acrescentando que Anis tinha hábitos simples e gostava de viajar pelo interior de Minas.   

Jornalista formado na UFMG, em 1971, Manoel Guimarães recorda-se de um depoimento em que Anis Leão, em referência ao amigo José Mendonça, ressaltava que o professor transmite sabedoria e conhecimentos coordenados, mas “também é aquele que educa, e da melhor forma possível, porque educa pelo exemplo”. Para Manoel, a ideia se aplica integralmente ao próprio Anis. “Ele foi professor em dedicação exclusiva, sempre pronto a orientar – e educar – seus discípulos. Guardo para sempre suas histórias e lições. Foi um professor padrão”, afirmou o jornalista, que, durante muitos anos, coordenou a área de comunicação da UFMG.

Em 2016, Anis Leão lançou, com Pedro Eymard Callou, o livro bilíngue (português e inglês) Adressing the young, que contém a Oração aos moços, discurso que Rui Barbosa fez em 1920, como paraninfo, em solenidade de formatura da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. A obra é resultado de trabalho de oito anos e cumpre a intenção dos autores de universalizar o pensamento de Rui Barbosa. Conhecido como Águia de Haia, o jurista fez, no discurso, um balanço de sua vida, abordou a missão do advogado e registrou meio século de dedicação ao Direito.

Anis Leão era viúvo desde 2015, de dona Clélia, e deixa três filhas – Eline, Beatriz e Taís –, duas netas e três bisnetos.

Adival Coelho (à esquerda), José Mendonça e Anis Leão, em 2016: novo curso foi concebido há 60 anos
Os fundadores do curso de Comunicação Social, Adival Coelho (à esquerda), José Mendonça e Anis Leão, em 2016Acervo de Manoel Guimarães

Itamar Rigueira Jr.