Pesquisa e Inovação

Mudanças na divulgação de dados da Covid-19 preocupam pesquisadores da UFMG

Departamento de Estatística defende que Ministério da Saúde retome a formatação anterior; informações subsidiam projeções de casos e mortes pela doença

Tela de site do Ministério da Saúde com informações sobre a Covid-19 referentes a domingo, dia 7
Tela de site do Ministério da Saúde com informações sobre a Covid-19 referentes a domingo, dia 7 Reprodução

Os atrasos na divulgação de informações sobre o número de casos e mortes de Covid-19 e a mudança na formatação dos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde vêm impondo dificuldades aos sistemas desenvolvidos pelos pesquisadores do Departamento de Estatística do ICEx para projetar os avanços da infecção.

A avaliação é da chefe do Departamento, professora Glaura da Conceição Franco, que assina carta aberta ao Ministério da Saúde na qual solicita que a exposição dos dados volte à formatação anterior. “Particularmente com relação à última modificação, realizada em 4 de junho, foi introduzida uma formatação que causou prejuízos substanciais nos sistemas, interferindo de forma incisiva na sua capacidade de adaptação a essas modificações. Dados de casos e óbitos novos que eram fornecidos em arquivos de fácil utilização passaram a ser fornecidos apenas como texto no site do Ministério, sem nem mesmo oferecer a possibilidade de captura por meio da tela. Assim, os dados só podem ser utilizados após sua digitação de forma manual, o que causa grande atraso na realização das nossas análises”, expõe a professora no documento, divulgado neste domingo, dia 7. Como consequência direta da medida, ela lembra que a prestigiada Universidade Johns Hopkins, dona de um dos mais consistentes repositórios de dados sobre a Covid-19 do mundo, excluiu o Brasil de sua plataforma.

Ainda segundo a professora Glaura, o próprio atraso na divulgação de dados tem prejudicado os trabalhos do Departamento de Estatística, além de provocar desconfiança nos diferentes agentes que trabalham com essas informações, comprometendo o planejamento das ações de combate à pandemia. “Nossas análises, que vinham sendo realizadas ao longo da madrugada devido ao grande esforço computacional requerido, só podem ser concluídas, e os resultados, liberados, na parte da tarde. Assim, nossas previsões, que antes eram disponibilizadas no início do dia, só estão sendo conhecidas poucas horas antes da divulgação do seu valor verdadeiro”, escreveu a professora.

Leia a carta em formato PDF.

Estatística na pandemia
Desde o início da pandemia, o Departamento de Estatística vem desenvolvendo uma série de ferramentas para fazer previsões e avaliações relacionadas à pandemia do novo coronavírus no Brasil. Os estudos mostram, com auxílio de gráficos, a situação atual do país por localidades e as previsões em curto e longo prazos, estabelecem comparações entre as localidades e avaliam a evolução após o primeiro caso e por data. Essas comparações são feitas com até cinco estados ou regiões, por gráfico, incluindo registro de novos casos, óbitos, registros por 100 mil habitantes e taxa de mortalidade para até 68 dias.

Reação
As mudanças processadas na forma de divulgar os dados de casos e mortes por Covid-19 foram intensificadas na semana passada. Na noite de sexta-feira, dia 5, o Ministério da Saúde deixou de incluir o total de mortes e de casos confirmados desde o início da pandemia, reportando apenas os dados das últimas 24 horas. O formato se repetiu no sábado, dia 6. Na noite deste domingo, 7, dois números discrepantes de mortes (1.382 e 585) foram divulgados em um intervalo de poucas horas.

A nova metodologia gerou reação de parlamentares, de especialistas e da justiça. O Ministério Público Federal abriu procedimento para investigar o caso, e veículos de comunicação anunciaram que vão trabalhar de forma colaborativa para compilar as informações fornecidas pelos 26 estados e pelo Distrito Federal.