Mulheres são maioria entre os brasileiros infectados pelo coronavírus
Estudo demográfico com participação da UFMG revela, no entanto, que a mortalidade é maior entre os homens
Um estudo das informações clínicas e demográficas de 28.854 brasileiros diagnosticados com covid-19 de 26 de março a 25 de maio deste ano constatou que 56% dessas pessoas são mulheres, com idade média de 44 anos. Os homens, no entanto, correspondem a 55% das vítimas fatais. A infecção foi mais frequente entre adultos com idade entre 30 e 39 anos.
Essas e outras conclusões estão registradas no artigo Clinical characteristics and outcomes of Brazilian patients with severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 infection: an observational retrospective study, produzido com participação de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Escola de Engenharia e do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG. O estudo foi aceito para publicação no periódico São Paulo Medical Journal, da Associação Paulista de Medicina.
Os pesquisadores apuraram que a taxa de mortalidade entre os diagnosticados foi próxima de 8% e que 17,3% dos pacientes precisaram ser internados até se recuperarem totalmente. O tempo médio entre o início dos sintomas e a morte dos indivíduos foi de 10,3 dias. Os sintomas mais comuns no momento do atendimento hospitalar foram tosse (42,4%), febre (38%) e dificuldade respiratória (31%).
Notificação compulsória
A professora Maria de Fátima Leite, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, que coordenou a pesquisa, ressalva que, devido à evolução dos casos de coronavírus no país, os dados atuais podem ser um pouco diferentes. “Conhecer esses parâmetros na população brasileira possibilita formular uma resposta melhor no enfrentamento da pandemia”, afirma.
Segundo a docente, o estudo reforça a necessidade de sistemas de notificação compulsória de covid-19 em todo o mundo, a fim de que se possa compreender melhor a doença e avaliar, com maior agilidade, a possibilidade de novas pandemias. "A lista nacional de doenças de notificação compulsória, que contém algumas doenças sexualmente transmissíveis, prevê, por exemplo, que todos os casos sejam comunicados para as autoridades sanitárias. Essa notificação produzirá informações claras e transparentes sobre a disseminação da covid-19, o que é importante para orientar a destinação de recursos”, explica.
Maria de Fátima acrescenta que ainda é escassa a literatura com dados brasileiros sobre o coronavírus. Por isso, os professores da UFMG participam da preparação de um registro nacional de pacientes, atualmente em fase final de análise dos dados. O projeto, coordenado pela professora Milena Marcolino, da Faculdade de Medicina, e pelo pesquisador Israel Nascimento, do HC, tem a participação de professores da UFMG e de outras 30 instituições brasileiras. “Isso está sendo feito por meio do preenchimento, por profissionais de saúde, de prontuário eletrônico com informações laboratoriais e radiológicas dos pacientes. O objetivo é criar uma escala de prognóstico para a covid-19, associando a presença dos sintomas à probabilidade de ida para o CTI e de óbito”, descreve.
Trabalho semelhante já é feito em outros países, esclarece Maria de Fátima Leite, mas é necessário estudar o comportamento do novo coronavírus, em especial entre os brasileiros. “No artigo, mostramos que há diferenças entre o que está ocorrendo aqui e no resto do mundo. É importante conhecê-las para que as políticas de saúde sejam orientadas com base no contexto nacional.”
Além de Maria de Fátima, Milena Marcolino e Israel Nascimento, assinam o artigo Valéria Fernandes, doutora em Fisiologia e Farmacologia pela UFMG, João Antonio Oliveira, pesquisador do HC, Israel Molina, cientista da Fiocruz, e o professor Luiz Ricardo Pinto, da Escola de Engenharia.