Arte e Cultura

No Dia da Consciência Negra, Programa Universo Literário destaca importância da literatura negra

Coordenador de portal de literatura afro-brasileira, Eduardo de Assis Duarte criticou tentativa de “embranquecimento” do autor negro Machado de Assis

No dia 20 de novembro de 1965, Zumbi dos Palmares foi assassinado. Líder do maior quilombo que existiu no Brasil, o Quilombo dos Palmares, comunidade onde se reuniam negros que haviam conseguido escapar das fazendas e senzalas, Zumbi dos Palmares teve a data de sua morte escolhida como dia de lembrar a luta da população negra no Brasil: por isso, no dia 20 de novembro, comemora-se o Dia da Consciência Negra.

Em homenagem à data, o Programa Universo Literário desta segunda-feira discutiu a literatura produzida por pessoas negras.

Em entrevista, o professor Eduardo de Assis Duarte, da Faculdade de Letras da UFMG, explicou que o uso do termo literatura negra não está ligado “à cor da pele” do autor, mas ao lugar de onde esse autor fala. “O que há de mais importante é o que, na teoria da literatura, a gente chama de ‘lugar de fala’, de onde o sujeito está falando, qual sua perspectiva e seu olhar da realidade, que visão de mundo está embutida no conto, poema ou romance”, defendeu.

“Nenhum país passa por mais de 300 anos de escravidão impunemente”, afirmou Eduardo Duarte, ao falar sobre a importância do Dia da Consciência Negra. Segundo ele, “os estragos provocados na mentalidade e no imaginário coletivo continuam vivos. As heranças da escravidão estão aí, em formato de racismo.”

Machado de Assis, aos 57 anos
Machado de Assis, aos 57 anos Domínio público / Fundação Biblioteca Nacional

Durante a conversa, Eduardo Duarte destacou ainda a relevância de Machado de Assis para a literatura brasileira e criticou a tentativa de “embranquecimento” do autor.  Segundo o professor, é preciso reler Machado de Assis “para encontrar ali a luta do negro”.

“Machado de Assis nunca frequentou uma universidade e nunca saiu do Brasil. Ele era um autodidata, um menino negro e pobre que, de tardezinha, aos 12 anos, tomava banho e colocava a melhor roupa que tinha para escutar os vizinhos, uma família de franceses. Ele ficava sentado na varanda, apenas escutando aquela família falar francês”, contou o professor.

“Aos 26 anos, Machado de Assis traduz Victor Hugo para o Brasil. E é a melhor tradução do francês que nós temos. Machado de Assis era uma figura genial e há todo um esforço de ‘embranquecimento’ da imagem de Machado de Assis”, afirmou.

ouca-a-conversa-com-michelle-bruck-20-11-2017.mp3

O professor Eduardo de Assis Duarte coordena o Portal da Literatura Afro-brasileira (Literafro), que integra o Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade, da Faculdade de Letras. É também autor do livro Machado de Assis, afrodescendente, obra que pode ser encontrada no site da editora Crisálida.