Coberturas especiais

Motoristas de aplicativos no Brasil tiveram perda expressiva de renda com a pandemia

Professor Marden Campos, do Departamento de Sociologia da UFMG, falou à UFMG Educativa sobre pesquisa do Observatório Social da Covid-19

A nota técnica do Observatório observa que apenas 8% dos motoristas de aplicativo tinham outra fonte de renda e somente 32% deles disseram contribuir para o INSS.
Apenas 8% dos motoristas de aplicativo tinham outra fonte de renda e somente 32% deles disseram contribuir para o INSSPhoto by eggbank on Unsplash

A pandemia de covid-19 impactou fortemente o trabalho dos motoristas de aplicativos no Brasil. Esses trabalhadores tiveram perda expressiva de renda, já que as medidas de distanciamento social reduziram muito a mobilidade das pessoas nas cidades. Além de prejuízos econômicos, os motoristas também sofreram com maior exposição ao risco de contrair a doença causada pelo novo coronavírus. O impacto da pandemia sobre o trabalho desses profissionais é tema de nota técnica publicada nesta semana pela equipe do Observatório Social da Covid-19, composta de pesquisadores do Departamento de Sociologia da UFMG. 

A fim de mensurar o impacto da pandemia sobre os motoristas de aplicativos no Brasil, a equipe do Observatório analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19), realizada pelo IBGE. A equipe também considerou dados de PNADs anteriores, buscando captar tendências dessa atividade profissional nos últimos anos. Nesta sexta-feira, 23, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, o professor Marden Campos, coordenador do Observatório, explicou que a coleta de dados verdadeiros dos PNADs sobre os motoristas de aplicativo é difícil porque essa é uma profissão recente. Por isso, segundo o professor, os pesquisadores precisaram lançar mão de dados tradicionais.

Na opinião de Marden Campos, além da dificuldade de mensurar os impactos verdadeiros, "há um poder muito grande dos aplicativos, das plataformas, no controle do trabalho e do rendimento dos trabalhadores, que têm pouca capacidade de reivindicação de condições de trabalho, porque é típico desse trabalho digital pulverizar o poder dos trabalhadores e concentrar o controle do trabalhador em uma única empresa, um monopólio mesmo."

Segundo Marden Campos, também é possível observar que, com o passar dos anos, mais motoristas têm entrado para os aplicativos, aumentando a concorrência. "Em consequência, as empresas diminuem o valor das corridas, jogando parte dessa perda para os motoristas, que têm que trabalhar muito mais para ganhar menos. Toda essa realidade já mostra algumas das dificuldades que estes trabalhadores passam em momentos de queda da renda", explicou.

Com a pandemia, segundo dados da PNAD, 36% desses motoristas pararam de trabalhar imediatamente. A maior parte que parou tinha outra fonte de renda ou alguém na família com renda fixa. A nota técnica do Observatório Social ainda apresenta uma outra realidade que impacta esses trabalhadores, que é a precarização do trabalho: apenas 8% dos motoristas de aplicativos tinham outra fonte de renda e somente 32% deles disseram contribuir para o INSS. 

“Os indivíduos ficam à mercê de oscilações conjunturais do mercado da economia e, agora, de uma questão social e de saúde. Eles estão completamente vulneráveis porque as plataformas não garantem nenhum tipo de proteção ou seguridade. Muitos não têm condição de separar uma parte da renda para contribuir para a previdência oficial. Em momentos de boom econômico, como o que vivíamos alguns anos atrás, eles estavam muito bem, mas, quando a economia oscila ou, agora, com uma emergência de saúde dessa magnitude, eles ficam abandonados à própria sorte”, enfatizou Marden Campos.

Ouça a conversa com Luíza Glória

A nota técnica sobre o impacto da pandemia nos motoristas de aplicativos pode ser lida na no site do Observatório Social da Covid-19. Nesse site, também podem ser encontradas outras produções da equipe de pesquisadores do Departamento de Sociologia da UFMG. 

Produção: Tiago de Holanda
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Hugo Rafael