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Novembro Azul: Mulheres trans, travestis e pessoas não binárias também devem se prevenir

Especialista defende que campanha não deve focar exclusivamente em homens cis, mas abarcar todas as pessoas que têm próstata

Segundo estimativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, pessoas trans correspondem a 2% da população brasileira
Segundo estimativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, pessoas trans correspondem a 2% da população brasileira Elineldo Meira/FotosPublicas

O Novembro Azul é um movimento internacional de atenção à saúde das pessoas do sexo masculino, criado para alertar sobre a importância da prevenção contra o câncer de próstata. O tumor é comum entre homens com mais de 40 anos e fez cerca de 16 mil vítimas em 2019, só no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). O alerta é feito todo anos aos homens, grupo que ainda têm dificuldade de seguir uma rotina de cuidados preventivos e exames. Mas existe também uma parcela da população que não recebe a atenção necessária quando o assunto é prevenção de doenças e não é incluída na campanha de novembro: o público transgênero, transexual e não-binário. 

Pessoas trans são aquelas que não se identificam com o gênero atribuído a elas no nascimento, de acordo com seus órgãos genitais. Algumas escolhem fazer tratamentos hormonais ou procedimentos cirúrgicos para expressar, através do corpo, as características do gênero no qual se reconhecem. Já as pessoas não-binárias não se definem por nenhum dos dois gêneros tradicionais. As informações sobre a população trans no país são escassas, mas esse grupo corresponde a 2% da população, cerca de 4 milhões de brasileiros, segundo estimativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Essas pessoas enfrentam desafios ainda maiores no acesso aos serviços de saúde e demandam atenção e cuidados específicos, os quais, na maioria das vezes, os profissionais de saúde não estão preparados para oferecer.

Mulheres trans, travestis e pessoas não-binárias também devem se cuidar e prevenir o câncer de próstata, mesmo aquelas que passaram pela cirurgia de redesignação de sexo. Para explorar o assunto e refletir sobre os desafios que podem prejudicar o diagnóstico do câncer de próstata nas pessoas trans, o programa Conexões dessa segunda, 29, convidou o médico especialista em Endocrinologia, autor do livro Transgêneros e Fé Cristã, Eduardo Mundim. Ele atua no Ambulatório Multidisciplinar de Saúde Integral da Pessoa Transexual e Travesti no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte. O profissional falou da infraestrutura do ambulatório inaugurado em novembro de 2017 e da procura menor das mulheres trans por serviços de saúde por medo da maneira como podem ser recebidas.

O médico explicou que os hormônios utilizados pelas mulheres trans e travestis podem até trazer um fator de proteção em relação ao câncer de próstata, mas que, em geral, quanto mais tarde a pessoa inicia a transição biológica, mais alto é o risco de ser acometida pela doença, mas cada caso deve ser analisado em suas especificidades. Mundim comentou que a falta de dados de órgãos como o Ministério da Saúde sobre a população trans é um entrave à efetivação de uma política de saúde direcionada a esse grupo. Segundo o convidado, o estudo dos efeitos do estradiol, principal hormônio usado na transição, sobre a próstata corroboram a baixa incidência desse tipo de câncer em mulheres trans apontada na literatura. Mesmo assim, o especialista defende que o acompanhamento deve ser feito e, consequentemente, as pessoas trans devem ser incluídas nas campanhas de prevenção.

“A campanha poderia dizer ‘ei, você tem próstata? Ela pode desenvolver câncer’, assim como a mama. Não há nenhuma necessidade  de frisar o gênero assumido pela pessoa. Nenhuma necessidade. Porque a ocorrência de tumor não vai ser dependente do gênero, vai ser depende da presença do órgão. Se eu tenho o órgão, eu tenho que pensar nessa possibilidade, tanto faz mama ou próstata. E na cirurgia genital, transformação de uma genitália masculina em uma genitália reconhecida pela nossa cultura enquanto feminina, a próstata é deixada intacta. Então, mesmo uma mulher trans submetida a esse tipo de cirurgia continua tendo próstata, continua sendo necessário o acompanhamento médico para ela ter uma tranquilidade quanto a isso”, elucidou.

Quanto ao momento de fazer o exame de toque, apesar de reconhecer divergências, o médico recomenda que toda pessoa com próstata deve fazer o procedimento após os 50 anos. Já as pessoas que tem o pai ou algum irmão ou pessoa que tem próstata com parentesco em primeiro grau que tiveram a doença devem fazer a partir dos 40, pois a enfermidade tem uma grande ligação com o cromossomo Y, que é aquele que determina a genitália dita masculina.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

O Ambulatório Multidisciplinar de Saúde Integral da Pessoa Transexual e Travesti do Hospital Eduardo de Menezes fica localizado no bairro Bonsucesso, em Belo Horizonte, e tem atendimento das 7h às 19h. Mais informações pelo site da Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais). Os encaminhamentos para o ambulatório são feitos via posto de saúde.

Mais informações sobre o Novembro Azul e o câncer de próstata estão disponíveis na página da Sociedade Brasileira de Urologia.

Para saber mais sobre a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, é possível acessar o site da ANTRA.

Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas