O futuro da ciência brasileira na Antártica
"Outra estação" fala sobre inauguração da nova Comandante Ferraz e discute perspectivas de financiamento para pesquisas
A Estação Comandante Ferraz, nova base brasileira na Antártica, foi inaugurada nessa quarta-feira (15/01). Mais modernas e seguras que a estrutura anterior, as novas instalações podem ser consideradas uma vitória da comunidade científica brasileira após um incêndio em 2012 que destruiu 70% da antiga estação. Com 4.500 metros quadrados e 17 laboratórios com estrutura de ponta, ela já é considerada por pesquisadores como uma das estações de pesquisa mais avançadas do mundo e tem merecido destaque até na imprensa internacional.
O investimento na nova Comandante Ferraz pode ser considerado alto: cerca de 100 milhões de dólares, mas tem justificativa. O “Outra Estação” desta semana ouviu pesquisadores para entender quais são as razões para o interesse brasileiro no continente gelado, que tipo de estudos estão sendo desenvolvidos por lá e qual o futuro da ciência brasileira na Antártica em um cenário em que o orçamento destinado a ciência e tecnologia vem sofrendo reduções desde 2015.
Por que pesquisar na Antártica?
Imagens produzidas pelo Mycoantar mostram laboratório e outras atrações da Antártica
Do incêndio da antiga Comandante Ferraz à inauguração das novas instalações, foram quase oito anos de espera dos cientistas brasileiros por uma nova casa na Antártica. A previsão inicial era de a nova base fosse inaugurada em 2016, mas problemas nos processos de contratação da empresa responsável pela obra levaram a atrasos.
O primeiro bloco do programa ouviu pesquisadores para entender como foi o trabalho dos pesquisadores nesse período de hiato entre o incêndio a a inauguração da nova base e como eles avaliam a nova estrutura. A importância científica, ambiental e geopolítica da presença brasileira no continente gelado também é abordada nesse bloco do programa que responde ainda a pergunta: "a quem pertence à Antártica?".
Foram entrevistados os dois pesquisadores convidados pelo governo brasileiro para instalar os equipamentos na nova base: o professor do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Câmara e o professor do Departamento de Microbiologia da UFMG Luiz Henrique Rosa.
Também foram ouvidos o vice-presidente do Comitê Internacional de Pesquisas Antárticas Jefferson Simões, a professora de arte da Universidade Federal da Bahia Karla Brunet, a coordenadora de Mar e Antártica da Secretaria de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) Andrea Cruz, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Fernando Motta e pós-doutorando do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Ignacio Cardone.
O futuro do Proantar
O Brasil faz expedições científica à Antártica desde 1982. São estudos básicos que estão ajudando, por exemplo, a entender as mudanças climáticas que ocorrem no planeta, a prospectar a biodiversidade de fungos e plantas do continente gelado e que podem, futuramente, significar pesquisas aplicadas como o desenvolvimento de novos antibióticos. A principal fonte de financiamento dessas pesquisas é o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Mas será que as verbas têm sido suficientes?
Para responder a essa questão e explicar melhor as pesquisas que são desenvolvidas pelo Brasil no continente, além das fontes já citadas, o segundo bloco do programa também ouviu o professor de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Moacyr Cunha de Araújo Filho e o professor do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG Andres Zarankin. Esse bloco também traz relatos dos pesquisadores sobre os desafios e os prazeres de se fazer ciência na Antártica.
Conteúdos extras
Um dos pontos abordados pelo "Outra estação" sobre o Brasil na Antártica foi a baixa participação de mulheres nas pesquisas desenvolvidas no continente gelado. Para além das entrevistas que você ouviu no programa, a Rádio UFMG também conversou com Natalie Unterstell, única brasileira a participar de uma expedição internacional só de mulheres à Antártica. Ela encarou o desafio de passar quase um mês com cerca de 90 cientistas em uma iniciativa que tem como objetivo chamar a atenção do mundo para questões ambientais e para o papel da mulher na ciência.
Se você quiser saber mais detalhes sobre o Tratado Antártico, legislação internacional que regulamenta o uso do continente gelado, é só ouvir a íntegra da entrevista com o pesquisador da USP Ignacio Cardone. Ele explica as origens do Tratado, quais são as diferenças de status entre os países que são signatários do acordo e o que o tratado diz sobre a realização de pesquisas científicas na Antártica.
Para saber mais
Reportagem da TV UFMG sobre as pesquisas da UFMG na Antártica
Reportagem da TV Brasil sobre a nova Estação Comandante Ferraz
Projeto arquitetônico da Comandante Ferraz feito por escritório de Curitiba
Site do Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas (LEACH), coordenado pelo professor da UFMG Andres Zarankin
Mycoantar, projeto coordenado pelo professor da UFMG Luiz Rosa Lima
Página do Proantar Nordeste
Centro Polar e Climático da UFRGS
Projeto da Fiocruz na Antártica
Estudo do IPEA sobre a importância científica e geopolítica do Proantar
Página do Proantar no site do MCTIC
Material sobre o Tratado Antártico produzido pela Marinha
Artigo "Potências Polares na Antártica e a Diplomacia Estratégica Brasileira", que tem como um dos autores o professor da UnB Paulo Câmara
Tese defendida pelo pesquisador Ignacio Cardone sobre o Tratado Antártico
Site do Comitê Internacional de Pesquisa Antártica
Produção
O episódio 25 do Outra estação foi apresentado por Larissa Reis, com produção de Camila Meira, Larissa Reis e Paula Alkmim, edição e coordenação de jornalismo de Paula Alkmim e trabalhos técnicos de Breno Rodrigues.
O programa aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (frequência 104,5 FM), ele vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O programa também está disponível nos aplicativos de podcast.