'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, discute saídas para a economia mineira
Estímulos à produção local e popular estão entre as medidas propostas por especialistas
No segundo trimestre de 2020, o Produto Interno Bruto (a soma de todos os bens e serviços finais produzidos ao longo de certo período) de Minas Gerais caiu 9,8%. Segundo a Fundação João Pinheiro, trata-se da maior retração da série histórica das contas trimestrais do estado, iniciada em 2002. O número acompanha a tendência nacional. O PIB do Brasil caiu 9,7% no segundo trimestre como resultado da redução das atividades econômicas motivada pela atual pandemia.
No território mineiro, quais são os setores mais prejudicados pela atual crise? Por outro lado, quais podem contribuir mais para a retomada da economia? Existe solução para o caso de Minas, que já enfrentava cenário de estagnação e complicada situação fiscal?
Essas questões são abordadas no episódio 58 do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa. Para respondê-las, o programa ouviu dois professores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG: Rafael Ribeiro e Sibelle Diniz. Também conversou com pessoas que tiveram suas finanças prejudicadas pela atual crise e tentam resistir em meio a tantas condições adversas.
Fechamento de empresas, desemprego, políticas ineficazes...
"Por uma falha do arranjo institucional, o crédito [emergencial] concedido pelo governo federal ficou empossado nos bancos comerciais, que não os repassaram às empresas. As pequenas empresas acabaram não tendo acesso a esse crédito, e muitas quebraram", analisa o professor Rafael Ribeiro. Na avaliação do economista, a ineficácia do governo federal na oferta de crédito durante a pandemia vem dificultando o enfrentamento da crise no Brasil e, particularmente, em Minas Gerais.
No primeiro bloco, o Outra estação destaca os efeitos em um setor especialmente vulnerável: a economia popular, que inclui ocupações como as dos vendedores ambulantes, catadores de materiais recicláveis, artistas populares e artesãos. A professora Sibelle Diniz explica as características dessa área e ressalta suas principais fragilidades diante da crise provocada pela disseminação do novo coronavírus.
Débora Torres Lisboa Rodrigues, dona de uma cafeteria em um shopping de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, abriu o negócio há sete anos e conta que nunca tinha passado por um período tão difícil. Por sua vez, Vânia Fernandes, formada em Ciências Contábeis, fala sobre sua demissão, provocada pela queda nas atividades das empresas.
O que fazer para recuperar?
Na avaliação do professor Rafael Ribeiro, a recuperação da economia mineira passa por pelo menos dois caminhos. Um deles seriam as reformas progressivas, incluindo o aumento das alíquotas de recolhimento de imposto previdenciário para as classes de maior renda, e investimentos em obras de infraestrutura. O outro caminho para Minas Gerais sair da crise seria o governo federal facilitar a amortização da dívida pública do estado com a União. Essa ajuda evitaria cortes que prejudicam a população mais pobre.
No caso particular dos trabalhadores mais vulneráveis, ocupados na economia popular, a professora Sibelle Diniz ressalta a necessidade de que as ações dos governos não se limitem à concessão de rendas emergenciais, como o auxílio de R$ 600 distribuído pelo governo federal. Sibelle, que participou da elaboração do Plano de Recuperação da Economia Popular, propõe outras medidas para fomentar a recuperação dos ganhos e atividades dessa população. Em sua avaliação, o poder público poderia, por exemplo, ampliar as compras feitas de pequenos produtores locais e expandir os espaços destinados à comercialização de produtos desse segmento.
Para saber mais
Nota técnica publicada pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, intitulada Economia popular urbana e a covid-19: desafios e propostas para a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Pesquisa sobre efeitos do auxílio emergencial concedido pelo governo federal, realizada pelo Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Pesquisa Pulso empresa, realizada pelo IBGE, sobre o impacto da covid-19 nas empresas
Produção
O episódio 58 do programa Outra estação é apresentado por Alessandra Ribeiro, com a participação de Beatriz Kalil. A produção é de Alessandra Ribeiro, Beatriz Kalil e Tiago de Holanda. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo da UFMG Educativa é de Paula Alkmim.
O programa aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.