Notícias Externas

'Odes', de Horácio, ganham nova edição bilíngue com inclusão do 'Cântico Secular'

Tradutor da publicação, professor Pedro Falcão conversou sobre a obra do poeta e os desafios da transposição do latim para o português

Livro foi lançado neste ano pela Editora 34
Livro foi lançado neste ano pela Editora 34 Editora 34/Reprodução

As Odes, do poeta romano Horácio, são consideradas um verdadeiro marco da poesia lírica ocidental. Divididas em quatro livros, elas reúnem 103 poemas escritos originalmente em latim no século I antes da Era Comum. Neles, Horácio apresenta ideias e costumes dos cidadãos romanos que viveram o auge do Império, após uma época turbulenta inaugurada pelo assassinato de Júlio César e marcada pelas inúmeras guerras civis. A importância das Odes é tamanha que elas influenciaram vários autores de diversas gerações seguintes, como Francisco Petrarca, Fernando Pessoa, Pierre de Ronsard e Bertold Brecht. De origem humilde, Quinto Horácio Flaco tornou-se uma figura proeminente na sociedade romana e chegou a recusar um convite de Augusto, primeiro imperador de Roma, a fim de dedicar-se exclusivamente às letras, produzindo obras como as Sátiras, os Epodos e o Cântico Secular. Esse último foi incluído em nova publicação das Odes lançada recentemente em edição bilíngue pela Editora 34.

O programa Universo Literário dessa quarta-feira, 22, teve como convidado, diretamente de Lisboa, o escritor, professor da Universidade Católica Portuguesa e tradutor das Odes, Pedro Falcão. Ele, que tem grande admiração pela obra do poeta romano, relembrou como nasceu esse interesse, quando ainda era aluno de graduação na Universidade de Lisboa, e destacou o fato de Horácio ter deixado muitos dados biográficos, como poucos na antiguidade. Pedro explicou os motivos desse livro ser tão importante, passando tanto pela maneira como o autor trabalhava as palavras quanto pelas temáticas universais – a morte, o amor, o relacionamento entre amigos e a própria experiência de estar vivo.

O professor considera a tarefa de tradução complexa e defendeu que o tradutor pode ser considerado um coautor de uma obra. “Especialmente na poesia, um bom tradutor pode fazer poesia em português, um mau tradutor pode destruir um poema, isso em relação a qualquer obra da antiguidade e particularmente na antiguidade. Porque o estilo dos antigos é muito retórico, muito afetado, diríamos nós hoje, e encontrar esse balanço entre o texto soar antigo e fazer ter alguma relação com o nosso cotidiano falado, digamos assim, com a nossa língua, é um processo muito delicado. Por exemplo, muitas palavras que Horácio usava existem em português, mas são latinismos, palavras antigas que ninguém conhece mais. Qual decisão o tradutor pode tomar? Conserva essas palavras mesmo sabendo que elas não têm referencia com o coração de ninguém ou transpõe para uma palavra que fica no meio termo entre o erudito e o falado? Por aí se tem uma ideia”, detalhou.

Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.

Produção: Hugo Rafael e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas