Saúde

'Outra estação' aborda os 40 anos da descoberta da aids

Programa da Rádio UFMG Educativa ouviu pessoas que vivem com o HIV, mostra evolução dos tratamentos e perspectiva de vacina

Em 1994, Sílvia Almeida trabalhava em uma multinacional, era casada e tinha dois filhos, quando seu marido começou a adoecer. Eles não sabiam o que era a doença, até que a mãe dele sugeriu que fizesse um exame de HIV, que deu positivo. A vida dos dois virou de ponta-cabeça. Ela também estava infectada e, desde então, passou a viver com o vírus, com auxílio de medicamentos, que surgiram como esperança para uma doença que, até então, era uma sentença de morte. 

A aids é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Uma vez dentro do corpo humano, o HIV invade um tipo de célula do sistema imune chamado CD4 e a utiliza para criar cópias de si mesmo. Logo depois, ele mata a célula, e as novas cópias seguem com o ciclo. Por essa razão, quando a infecção avança muito, o sistema imunológico da pessoa infectada fica vulnerável às chamadas infecções oportunistas. O marido de Sílvia faleceu dois anos após descobrir a doença. 

Em novo episódio, o programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, conversou com Sílvia Almeida e Lázaro Silva, duas pessoas que vivem com o HIV: ela, há quase 30 anos, ele, há menos de 10. Também foram ouvidos a psicóloga social Tamillys Lírio, que desenvolve projetos sociais para a juventude, alguns deles focados na discussão de HIV-aids com esse público, os professores da UFMG Unaí Tupinambás, coordenador do projeto PREP-15-19, Jorge Pinto, responsável pelo estudo Mosaico na UFMG, e Dirceu Greco,  membro da Comissão Nacional de Aids, e com Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) no Brasil.


Começo da epidemia
A aids, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, foi registrada pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1981, e, dois anos mais tarde, foi identificado o HIV, vírus da imunodeficiência humana, que provoca a doença. A sua descoberta foi cercada de dúvidas, discriminação, preocupação e temor. Logo após os primeiros casos, a aids recebeu nomes como “doença dos 5H” e “pneumonia dos homossexuais”. A expressão “Doença dos 5H” representava homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína) e hookers, nome dado a profissionais do sexo, em inglês. Apesar de ter sido associada a diversos grupos marginalizados, o HIV e a aids não escolhiam nacionalidade, gênero e orientação sexual. 

Logo no início dos anos 80, no Brasil, várias iniciativas agiram no sentido de oferecer orientação e tratamento para os grupos que estavam associados ao HIV. Na UFMG, o Hospital das Clínicas abrigou um dos primeiros ambulatórios do país, liderado pelo professor da Faculdade de Medicina Dirceu Greco. Naquela época, não existia nenhum tipo de tratamento, que só surgiria no fim da década, com o AZT. O primeiro bloco do programa conta como foi a experiência dos primeiros anos da aids no país e como foi a resposta da sociedade e do governo brasileiros para a epidemia. 

Tamillys Lírio, psicóloga social, pessoa que convive com HIV e integrante do movimento social do HIV/AIDS, falou sobre as violências
A psicóloga social Tamillys Lírio é uma das entrevistadas do programaAcervo pessoal

Vacina
O segundo bloco do programa aborda as dificuldades no desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. Nos anos 90, a UFMG foi sede de um dos centros de testagem de um imunizante que ofereceu baixa resposta. Atualmente, a universidade abriga o projeto Mosaico, liderado pelo professor da Faculdade de Medicina Jorge Andrade Pinto. O estudo é iniciativa conjunta da Janssen, que pertence à Johnson & Johnson, e da Rede HVTN, financiada pelo Instituto de Saúde dos EUA. Na fase atual, o estudo testa a eficácia da vacina. Participam 3,9 mil voluntários, que pertencem a grupos com risco aumentado de infecção por HIV, como homens que fazem sexo com homens e pessoas trans. O estudo reúne oito países e mais de 20 centros de pesquisa, sete deles brasileiros. 

Enquanto as vacinas não chegam, outras estratégias são utilizadas para prevenir a aids. A testagem, que possibilita que as pessoas saibam logo no início que são portadoras do HIV, ajuda a adotar cedo o tratamento, para que a doença não se desenvolva. Outra medida é a prevenção combinada, com uso de Profilaxia Pré-Exposição (Prep), medicamentos que evitam a infecção, aliados ao uso da camisinha. Nessa parte do programa, especialistas abordam as formas de prevenção, e pessoas que vivem com HIV falam da necessidade de superar os estigmas que ainda acompanham o vírus e a doença. 

O professor Jorge Andrade Pinto coordena atualmente na UFMG os testes com um imunizante contra o HIV
Jorge Andrade Pinto coordena atualmente, na UFMG, os testes da vacina contra o HIV Faculdade de Medicina da UFMG

Para saber mais
Página do Ministério da Saúde sobre aids
Site da Unaids no Brasil
Deu positivo, e agora?: site com informações para jovens recém-diagnosticados
Projeto Horizontes da UFMG
Estudo Mosaico

Produção
O episódio 81 do Outra estação é apresentado por Vinicius Luiz, também responsável por sua produção, juntamente com Alicianne Gonçalves e Joabe Andrade. A coordenação de jornalismo da Rádio UFMG Educativa é de Paula Alkmin. A coordenação de operações é de Judson Porto, e a de programação, de Luíza Glória.

Em sua segunda temporada, o programa vai ao ar quinzenalmente, às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h. Os episódios também podem ser ouvidos nos aplicativos de podcast, como o Spotify.