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Pandemia expõe fragilidade da indústria brasileira

Novo episódio do ‘Outra estação”, da Rádio UFMG Educativa, aborda perda de competitividade do setor e razões para gargalos em áreas como a de insumos farmacêuticos

Linha de produção da vacina contra febre amarela inaugurada em 2018 em São Paulo
Linha de produção da vacina contra febre amarela inaugurada em 2018, em São Paulo Rovena Rosa I Agência Brasil

Álcool em gel, respiradores, testes, oxigênio e ingredientes para as vacinas. Esses são só alguns exemplos da lista de itens que estiveram ou ainda estão em falta no Brasil desde o advento da pandemia do coronavírus. A crise sanitária chamou a atenção para a fragilidade da indústria nacional, que, quando foi solicitada, não conseguiu atender às demandas do país. Assim, em um momento em que várias nações travam uma disputa acirrada no mercado internacional por itens básicos, o Brasil ficou refém da importação de produtos de países como a China ou a Índia, especialmente aqueles considerados de alta complexidade.

A crise da indústria no Brasil é anterior à crise desencadeada pela covid-19. Já há alguns anos vem ocorrendo no país um processo chamado de desindustrialização, e esse cenário pode se agravar ainda mais com a aguda crise econômica decorrente da pandemia. Quais são os impactos desse processo? Como esse quadro pode ser alterado? Qual a importância de uma indústria nacional forte? Essas e outras questões são abordadas no novo episódio do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa. 

Para responder a essas perguntas, foram entrevistados os professores Augusto Guerra, do Departamento de Farmácia Social da UFMG, João Romero, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Eliane Araújo, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), a pesquisadora Caroline Giusti, doutoranda do Programa de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Norberto Prestes, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi). 


O derretimento da indústria brasileira

Augusto Guerra: barreiras regulatórias são entraves para competitividade da indústria farmacêutica no Brasil
Augusto Guerra: barreiras regulatórias travam indústria farmacêuticaImagem: Arquivo pessoal

Em razão da crise sanitária, o mundo inteiro corre atrás dos chamados Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAs), matérias-primas essenciais para a produção das vacinas. Mas poucos países, como a China e a Índia, são capazes de produzi-los atualmente. Sem fabricação própria, o Brasil fica totalmente dependente das importações. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos, o Brasil só fabrica 5% dos insumos necessários para atender à demanda de medicamentos no país. Nem sempre foi assim. Na década de 1980, a produção era em torno de 50%. 

Um levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, que leva em conta dados de 50 países, mostra que a indústria brasileira foi a terceira que mais recuou no mundo desde 1970, ficando atrás apenas da Austrália e do Reino Unido. A diferença é que esses dois países são de renda elevada, e neles o fenômeno da desindustrialização é bem menos impactante. 

Na primeira parte do programa, os entrevistados explicam as razões para a perda de competitividade da indústria brasileira e os principais gargalos do setor, como a dificuldade de produção de itens de média e alta tecnologia. Os especialistas também alertam para os riscos de agravamento da crise com a pandemia se nada for feito para fortalecer a indústria nacional, o que deixa o Brasil para trás na agenda do desenvolvimento econômico mundial.  

Saídas para a crise
A segunda parte do programa destaca a importância de uma indústria nacional forte para a soberania do país, especialmente em momentos de crise como a pandemia do coronavírus. Especialistas sugerem medidas para impulsionar o setor no Brasil, como políticas de Estado robustas e estruturais de longo prazo e a revisão de políticas tributárias e de marcos regulatórios.

O aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e em inovação também é destacado pelos entrevistados, assim como maior articulação entre o setor industrial e as universidades. Segundo o Instituto de Estatística da Unesco, o Brasil investe menos em P&D do que a Coreia do Sul, a China e todos os 37 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De 2000 a 2018, o investimento brasileiro no setor passou de 1,05% do PIB para 1,26%. No mesmo período, a China mais que duplicou os investimentos no setor: o aporte passou de 0,89% para 2,19% do PIB.

João Romero defende investimentos em desenvolvimento verde na indústria
João Romero defende investimentos em tecnologias verdes na indústria Imagem: Arquivo pessoal

Para saber mais

Pandemia reduz as exportações brasileiras de bens de alta complexidade. Ações públicas emergenciais são necessárias para evitar regressão ainda mais profunda da competitividade da economia – Rede de Pesquisa Solidária/agosto de 2020

Uma pandemia que lança luzes sobre a fragilidade da indústria brasileira – Boletim da Unicamp elaborado pela pesquisadora Caroline Giusti

A importância da indústria na resposta à epidemia do coronavírus – por João Prates Romero

Desindustrialização e soberania no enfrentamento da crise de saúde pública da covid-19 – Artigo publicado pela professora Eliane Araújo e Samuel Peres

Cadeias Globais de Valor: benefícios, riscos e futuro pós-pandemia – Artigo publicado pela professora Eliane Araújo e Samuel Peres

Sistema Nacional de Inovação: um repensar necessário – Artigo publicado pela professora Eliane Araújo e Samuel Peres

Site da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos

Site do Centro Colaborador do SUS para Avaliação de Tecnologias e Excelência em Saúde

Índice de Inovação Global 2020

Produção
O episódio 61 do programa Outra estação, apresentado por Beatriz Kalil, foi produzido por Beatriz Kalil, Arthur Bugre e Paula Alkmim. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo é de Paula Alkmim. 

Na sua segunda temporada, o Outra estação vai ao ar às quintas, a cada 15 dias, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. Em cada episódio, o programa aborda um tema de interesse social. Todos os programas estão disponíveis nos aplicativos de podcast, como o Spotify.