Arte e Cultura

Patrícia Lino ministra, nesta quarta, palestra na Fale sobre as possibilidades da poesia

Em turnê pelo Brasil para o lançamento do livro ‘Aula de música’, poeta portuguesa participou de banca de doutorado no Pós-Lit

A poeta Patrícia Lino
Patrícia Lino é autora de 'O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial', cuja segunda edição acaba de ser lançadaFoto: Arquivo pessoal

Nesta quarta-feira, dia 31, às 10h, a poeta e pesquisadora portuguesa Patrícia Lino, que é professora de literaturas e cinema luso-brasileiros na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos, vai ministrar palestra na UFMG sobre as possibilidades da escrita de poesia, sob a mediação do professor da Faculdade de Letras Gustavo Silveira Ribeiro.

Patrícia resume sua intervenção, em que apresentará e debaterá uma série de poemas de sua própria lavra: “Vou dividir a apresentação em sessões: começo por ler poemas compostos apenas por palavras, ou seja, poemas 'tradicionais', e depois vou falar de poema performático, ‘teste e colagem’, o poema-escultura ou tridimensional, e aí vou mostrando projetos – uns mais curtos, outros mais longos – de livros que já fiz ou estou fazendo. Ao mesmo tempo, vou performar todos esses poemas e exibir o que é audiovisual”, explica.

A palestra Aonde vai este pulso chucro: algumas notas sobre o fazer do poema será ministrada no auditório 2001 da Faculdade de Letras, no campus Pampulha, e é aberta ao público.

Os dois poemas abaixo, tirados da obra Não é isto um livro (Puro Pássaro, 2018), ainda sem publicação no Brasil, são ilustrativos, de um lado, dos usos estratégicos que a autora faz de recursos imagéticos em sua obra e, de outro, do tom que ela assume quando faz “poemas compostos apenas por palavras”. Uma parte da obra multimídia de Patrícia Lino também pode ser lida/assistida em seu próprio site.

Carta ao poeta contemporâneo

És menos que um grão de areia da Praia Vermelha
e no entanto tão privilegiado

Não estás vivo porque escreves
Escreves porque podes dar-te ao luxo de escrever
e estavas vivo antes disso

O poema é um exercício de humildade

Se fores à Praia Vermelha, descalça-te
Faz o que tiveres de fazer (água de coco
mergulhar os pézinhos, proteger-te
do sol magnânimo, pulular uma ode, resistir
à beleza do Pão de Açúcar, apaixonar-te
compor uma trança, ignorar com certa
elegância a curiosidade dos meninos)
Toma sempre o café da manhã
Põe a língua de fora, ácida
grega, o mais que puderes
Perdoa-lhes a arrogância
Insiste tanto no primeiro verso
como no amor: muito pouco

POema
Uso de recursos gráficos é recorrente na produção da autoraImagem: reprodução de e-book

Aula de música
Autora também está no Brasil para o lançamento de 'Aula de música', "poema em quadrinhos" que faz uma releitura da relação entre Orfeu e seu irmão LinoImagem: reprodução de livro (detalhe)

Lançamento e participação em banca
Patrícia Lino veio ao Brasil para, entre outros compromissos, lançar Aula de música (Capiranhas do Parahybuna, 2022), um “poema em quadrinhos” trilíngue (português, inglês e espanhol) escrito e desenhado por ela, e para integrar a banca da tese Fazer a louca: práticas editoriais, discursivas e poéticas na montagem da eulouca, de Otávio Campos Vasconcelos Fajardo. Defendida na tarde desta terça-feira, 30, a tese foi orientada pelo professor Gustavo Silveira Ribeiro.

Estruturado à moda de uma peça teatral, o livro Aula de música tem como ponto de partida uma releitura da relação de Orfeu com seu irmão menos conhecido, que tem o mesmo nome da autora, Lino. Como boa parte da obra de Patrícia, o livro também recorre aos temas da ternura e do humor. Ainda em pré-lançamento, está disponível para compra no site da editora.

Da autora, até o momento, já foram lançados no Brasil Manoel de Barros e a poesia cínica: o círculo dos três movimentos com vista ao homem-árvore (Editora Relicário, 2019), livro em que Patrícia apresenta uma proposta singular de interpretação para a literatura do poeta cuiabano, e O Kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial (Edições Macondo, 2020), peça satírico-humorística que ataca a contrapelo as relações entre Portugal e Brasil, em perspectiva decolonial. Atualmente, está sendo lançada a segunda edição da obra.

Em seu
Em seu "kit", autora se vale de poemas-piada e de uma irônica literatura verbo-visual para questionar o imorredouro apreço português por sua história colonial Foto: Foca Lisboa | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro