Arte e Cultura

Paulo Santos, do Uakti, abre Pré-Festival com seus instrumentos inusitados

Uma série de instrumentos inusuais, construídos artesanalmente e manipulados de maneira bem particular são alguns dos elementos que o multi-instrumentista mineiro Paulo Santos vai levar para o show Pílulas sonoras, que será realizado amanhã, 14, na abertura da Semana Pré-Festival de Inverno da UFMG. O artista, que integrou o recém-extinto Grupo Uakti, agora se apresenta em espetáculos solo, nos quais é acompanhado também por bases sonoras produzidas no computador. A apresentação terá início às 14h, no auditório 1007 da Faculdade de Letras, com entrada gratuita.

Paulo Santos:
Paulo Santos: "pílulas sonoras" Arquivo pessoal

Membro do Uakti durante os 37 anos de sua existência, Paulo Santos ajudou o grupo a se tornar um dos mais reconhecidos da música experimental no país e gravar com artistas como Milton Nascimento, Paul Simon e Philip Glass, este considerado um dos compositores mais influentes da segunda metade do século passado. Paralelamente, Paulo compôs trilhas sonoras para performances, instalações e vídeos, com o videomaker Éder Santos, em colaboração premiada.

Desde o encerramento das atividades do Uakti, o artista vem desenvolvendo suas Pílulas sonoras, que, como ele próprio define, são doses homeopáticas para "aguçar as papilas auditivas" do ouvinte. “Para mim, a música tem muito a ver com a cura, considero-a um remédio para os males da vida”, comenta. Uma por semana, ele vem lançando as composições ou “pílulas” e acaba de terminar a oitava.

Disneylândia musical 
Em entrevista ao Portal UFMG, Paulo Santos revela que a concepção das Pílulas sonoras se deu em um cômodo muito especial de sua casa, sua “Disneylândia musical”, onde guarda todos os instrumentos que acumula. Além dos desenvolvidos pelo diretor musical do Uakti, Marco Antônio Guimarães, os quais estudou por grande parte da sua vida, Santos diz receber muitos instrumentos de presente. “As pessoas dizem ‘eu fiz isso aqui, toca aí para ver se serve’. Como estou acostumado a tocar até tampinha de refrigerante, eu aceito”, brinca.

Os instrumentos utilizados têm tamanhos, formas e origens muito diversas. As duas marimbas, instrumento de percussão semelhante ao xilofone, uma feita de angelim, madeira usada na construção civil que proporciona um som rústico, e outra de vidro, material que propicia maior ressonância, foram desenvolvidas por Guimarães. As marimbas eram consideradas clássicas na sonoridade do extinto grupo.

ErHu, o
ErHu, o "violino chinês": presente recebido por Paulo Santos Arquivo pessoal

Entre os instrumentos que ganhou de presente, estão o ErHu, o "violino chinês" [foto], com duas cordas e tocado com um arco, uma flauta feita de canos PVC e a Trilobita, desenvolvida também com base em tubos de PVC com peles de tambor sobre a extremidade superior e com diferentes sonoridades produzidas pela variação dos comprimentos e espessuras dos tubos.

O músico usará como acompanhamento bases pré-gravadas no software de composição digital Logic. As bases foram em sua maioria produzidas pelo próprio artista (algumas são de autoria de Guimarães) e proporcionam, além do ritmo, ambientações ou paisagens sonoras para os solos de Paulo nos instrumentos acústicos.

Intimidade com o Festival
A gênese do Uakti tem forte relação com o Festival de Inverno da UFMG e suas diversas atividades. Oficina realizada em 1978 gerou a aproximação dos músicos e, pouco tempo depois, a criação do grupo. “Considero o Festival um enorme degrau para a arte”, ressalta Paulo Santos. “Eu acabava de voltar dos meus estudos em Brasília e logo dei de cara com essa efervescência que estava sendo gerada aqui, era fantástico.”

Um personagem chave para essa relação foi o então professor da Escola de Música da UFMG Hans-Joachim Koellreuter. Os músicos participaram de uma série de workshops com o célebre compositor de origem alemã e chegaram a integrar um grupo que ele comandava na Escola. Posteriormente, Paulo Santos e o Uakti se apresentaram em várias edições do Festival e ofereceram residência artística na Universidade por dois anos. Além do Uakti, os grupos Corpo e Galpão têm suas origens ligadas ao evento. “Um evento de tamanha importância merece, com certeza, esse ‘aquecimento’”, afirma Paulo Santos, referindo-se à Semana de Pré-Festival de Inverno.

Pós-Uakti
Além de trabalhar em suas apresentações em formato solo, o músico lançará, em agosto deste ano, um álbum com o sexteto de rock instrumental de São Paulo Hurtmold. A parceria com o grupo paulista, surgido duas décadas depois das primeiras gravações de Paulo com o Uakti e de diferente gênero musical, é mais uma evidencia de que a música do artista não tem fronteiras.