Pesquisa da UFMG que associa alfabetização de adultos à prevenção da demência é retomada
Adultos com mais de 50 anos, frequentadores da EJA, são o público-alvo do estudo, que envolve pesquisadores das áreas de saúde e educação
Iniciado em 2019 e interrompido no período da pandemia, será retomado projeto que visa elevar o nível educacional dos alunos maiores de 50 anos, matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), como forma de prevenção ao desenvolvimento da demência.
O estudo é levado a cabo pela médica neurologista Elisa de Paula França, que integra o Grupo de Neurologia Cognitiva do Comportamento do Hospital das Clínicas da UFMG, coordenado pelo professor Paulo Caramelli, da Faculdade de Medicina. Nessa segunda fase, o projeto contará com a colaboração da Faculdade de Educação (FaE).
O projeto foi tema da edição 2061 do Boletim UFMG, publicada em junho de 2019. “Nossa expectativa é validar a hipótese de que os estímulos gerados pela escolarização contribuem para produzir mais conexões cerebrais e estratégias de memorização por parte dos estudantes. Caso se confirme, vamos mostrar, mais uma vez, que, mesmo tardiamente, a educação promove a saúde cerebral das pessoas”, explicou Elisa de Paula, na ocasião.
Treinamentos e exames
A professora Francisca Maciel, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da FaE, que é a orientadora das intervenções didáticas, explica que, a princípio, será feita uma entrevista com os participantes, em que serão avaliados aspectos demográficos e de saúde.
A etapa seguinte consiste em testes de memória, capacidade de linguagem e de raciocínio. Em seguida, é feita uma ressonância magnética do cérebro dos participantes, para que sejam estudadas as conexões cerebrais.
De março a julho, os participantes serão divididos em dois grupos. Um receberá treinamento intensivo de alfabetização, com atividades focadas na leitura e na escrita; o outro grupo continuará frequentando as aulas normalmente, sem receber esse reforço.
“Ao final de seis meses, repetiremos os testes de memória, os testes cognitivos e a ressonância magnética, para verificar se o grupo que frequentou o treinamento intensivo de alfabetização, aprendendo a ler e a escrever, vai apresentar uma melhora significativa da memória, na comparação com o grupo que não fez esse treinamento”, detalhou Francisca Maciel. Segundo ela, a meta é atender 120 pessoas.
A equipe do projeto reúne duas pedagogas, mestrandas da FaE. Quatro alunas da graduação em Pedagogia também auxiliam nas intervenções.
Falta de acesso e estímulo
É consenso na literatura que o baixo nível educacional é fator de risco para o desenvolvimento da demência, cuja prevalência em pessoas não alfabetizadas é duas vezes maior do que em mulheres e homens escolarizados.
Em países em desenvolvimento, como o Brasil e os demais da América Latina, a demência se manifesta mais cedo do que nos países de alta renda, onde a população em geral tem nível educacional mais elevado.
De acordo com Francisca Maciel, foi constatado que alunos da EJA têm boa memória, mas é preciso apurar se isso está relacionado à conectividade cerebral. “A maioria deles não frequentou a escola na infância devido à falta de acesso ou de estímulo dos pais, e não por dificuldades de aprendizado”, observa a professora da FaE.