Arte e Cultura

Pesquisa que oficializou samba como patrimônio cultural de Belo Horizonte apresenta resultados

Realizada em parceria com a UFMG, iniciativa resgata a ancestralidade e explica a trajetória do samba em território mineiro; resultados serão apresentados na manhã desta quarta, 18

Samba de BH foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial em dezembro de 2024
Samba de BH foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial em dezembro de 2024 Foto: Rodrigo Tetsuo Argenton | Wikipedia

Ao longo dos últimos anos, o projeto Horizontes do samba atuou na elaboração de um inventário participativo e de um dossiê que embasaram o reconhecimento do samba de Belo Horizonte como Patrimônio Cultural da cidade. A parceria entre o Coletivo de Sambistas Mestre Conga, a Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de BH e o Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória da UFMG mobilizou a colaboração de grupos e coletivos culturais e de mestres do samba para traduzir a importância cultural e histórica desse estilo musical.

Os resultados da pesquisa, que contou com a participação de vários pesquisadores da UFMG, serão apresentados nesta quarta-feira, dia 18 de junho, às 9h, no Museu da Moda, localizado na Rua da Bahia, 1.149, no centro de Belo Horizonte. Na ocasião, serão discutidas as sugestões das ações de salvaguarda propostas pelo projeto, que visam à constituição de um conjunto complementar de ferramentas educacionais para a ampla disseminação da informação e dos conteúdos apresentados pela pesquisa. 

Dossiê de registro do samba de Belo Horizonte como patrimônio cultural imaterial
Dossiê de registro do samba de Belo Horizonte como patrimônio cultural imaterial Imagem: Reprodução de capa

Valorização do samba como herança cultural
A ideia do projeto surgiu em abril de 2021, após a live Memória, história e patrimônio do samba de Belo Horizonte, que instigou o coletivo de sambistas a aprofundar os estudos sobre a história do samba e de sua importância para a vida cultural da capital mineira. A iniciativa realizou levantamentos bibliográficos, por meio de acesso a acervos públicos e privados, entrevistas e reuniões com parceiros do projeto e comunidades ligadas ao samba, além de se basear no mapeamento da capital, encontrando os pontos de encontro, diálogo e tradição que mantêm vivo o universo do samba belo-horizontino.

O dossiê contextualiza e justifica o pedido do registro de patrimônio cultural por meio da reconstrução das trajetórias históricas da linguagem musical em conexão com a ancestralidade afro-brasileira, além de propor um plano de ações de salvaguarda relativas aos bens culturais analisados no processo. O inventário, por sua vez, sistematiza as informações sobre diferentes movimentos do samba na cidade, como escolas de samba, blocos de rua e blocos caricatos, espaços e rodas de samba. No resgate das origens desses movimentos, busca-se conexões com outras manifestações da cultura negra, reunindo registros fotográficos e relatos orais de mestres detentores do saber da cultura ancestral de Belo Horizonte.

Esse reconhecimento veio em dezembro de 2024, quando a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte oficializou o samba como patrimônio cultural imaterial da capital mineira. A ação é fundamental para a valorização dessa tradição musical enquanto expressão identitária e celebra a história, a tradição e a herança afro-brasileira para o povo mineiro.

Ferramenta educacional
Bruno Viveiros, coordenador geral e de pesquisa do projeto Horizontes do samba, destaca a importância da discussão sobre a herança africana do samba para a história da cidade: “Nosso intuito é pensar coletivamente quais os procedimentos de apropriação, interpretação e reelaboração desses conteúdos pela sociedade, principalmente a comunidade negra formada pelas mestras e mestres do samba e suas futuras gerações, que também se encontram em situação de vulnerabilidade.”

Para o pesquisador, que é doutor em História pela UFMG e integrou por vários anos o Projeto República, essa discussão é necessária para a construção da cidadania em direitos humanos. Ele fala em uma cidadania feita “a partir de novas formas de narrar a história, de compreender o protagonismo das populações afro-diaspóricas e de seus descendentes em nosso país, de conhecer as batalhas pela liberdade, pela autonomia e pela democracia no Brasil”.

Entre as ações do projeto, também estão produções de videoaulas, podcasts e um documentário que retratam as etapas da pesquisa histórica. Todos os resultados poderão ser encontrados no site do projeto, que será divulgado após o evento. O dossiê pode ser baixado por meio deste link. O intuito é ampliar a divulgação para o público geral, além de levar os materiais para exibição em escolas da rede pública municipal e estadual.

Hellen Cordeiro