Pesquisadores da UFMG projetam até 13 mil novas mortes por covid-19 em MG até o fim do ano
Cenário decorreria do afrouxamento das medidas de segurança sanitária
Projeções baseadas em dados do Ministério da Saúde e nos registros de óbito dos cartórios de Minas Gerais sinalizam que deverão ocorrer, ainda em 2020, mais de meio milhão de infecções e quase 13 mil novas mortes por covid-19 no estado. "Esse cenário alarmante pode se concretizar se forem reduzidas as medidas de segurança, como sanitização de ambientes, isolamento e distanciamento social", analisa a professora Lídia Maria de Andrade, do Departamento de Física da UFMG. De acordo com os dados oficiais, Minas Gerais registrou, desde o início da pandemia, cerca de 360 mil infecções e nove mil mortes causadas pelo novo coronavírus.
Lídia Andrade é coautora do artigo Impact of covid-19 in Minas Gerais, Brazil: Excess Deaths, Sub-Notified Cases, Geographic and Ethnic Distribution na revista Transboundary and emerging diseases, em parceria com outros pesquisadores dos departamentos de Física e de Microbiologia da UFMG. O trabalho foi publicado no portal Wiley Online Library, sediado em Nova Jersey (EUA).
A publicação, de acordo com a professora, é oportuna neste momento em que a população está afrouxando as medidas de segurança. "Já há uma grande liberação de atividades em locais que reúnem muitas pessoas, como academias e bares. É preciso alertar para as consequências disso", observa a autora.
As projeções do grupo da UFMG são corroboradas por estudo do Imperial College, de Londres, divulgado nesta terça-feira, dia 24, que mostra que a taxa de transmissão (Rt) da covid-19 no Brasil alcançou 1,30, a maior desde maio. Isso significa que cada 100 pessoas podem transmitir o vírus para outras 130.
A pesquisa, que utilizou um modelo matemático adaptado às caraterísticas do estado para predizer a subnotificação de casos e de mortes por covid-19, demonstrou também que a população negra das regiões mais pobres do estado – especialmente os homens – compõe o grupo mais vulnerável.
De acordo com o professor Juan Carlos González, do Departamento de Física, outro autor do artigo, o estudo desperta a reflexão para a necessidade de que organizações governamentais e privadas trabalhem juntas para melhorar a consciência pública, especialmente em locais mais pobres.
Ferramentas estratégicas
“Estudos preditivos, que projetam cenários da evolução da pandemia usando métodos estatísticos e epidemiológicos, são ferramentas estratégicas para auxiliar governos e sociedade na tomada de decisões”, observa González. O professor esclarece que "ainda não estamos falando em uma segunda onda de contaminação, mas o trabalho revela informações de grande valia para que não se cometam os mesmos erros, no caso de novo enfrentamento". Lídia Andrade acrescenta que "a ferramenta mostra como é importante estudar e desenvolver programas específicos que visem minimizar os danos causados pela pandemia".
O artigo integra os esforços do grupo de pesquisa Espectroscopia de Aprendizado de Máquina, coordenado por Juan González, cujo objetivo é a criação de instrumentos para combater as frequentes epidemias causadas por doenças virais em Minas Gerais e no Brasil.
Além de Juan González e Lídia Andrade, também assinam o artigo os professores Paulo Henrique Ribeiro, do Departamento de Física, e Flávio Guimarães da Fonseca, do Departamento de Microbiologia.