Semana do Conhecimento

Computação, Comunicação e Odontologia vencem Grande Prêmio de Teses

Redes de sensores, campanha de negação do aquecimento global e neoplasia odontogênica foram abordadas nos estudos

Sandra Goulart Almeida, Thaís Fontes, premiada,
Sandra Goulart Almeida, Thaís Fontes, premiada na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, e o seu orientador, Ricardo Santiago GomezFoca Lisboa / UFMG

Os pesquisadores Rodolfo Wanderson Lima Coutinho (Ciências Exatas e da Terra e Engenharias), Daniel Reis Silva (Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes) e Thaís dos Santos Fontes Pereira (Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde) são os doutores agraciados com o Grande Prêmio de Teses UFMG 2018, que reconheceu os melhores trabalhos defendidos no ano passado. O anúncio foi feito na noite desta quinta-feira, dia 18, em cerimônia realizada no auditório da Reitoria.

Os trabalhos foram escolhidos por comissão ad hoc instituída pela Câmara de Pós-graduação entre as 49 teses indicadas por seus respectivos programas, agrupadas nas três grandes áreas do conhecimento. Os autores desses trabalhos receberam diplomas. Além disso, três teses – uma de cada grande área – foram contempladas com menções honrosas.

Fábio Alves:
Fábio Alves: qualidade e impactoFoca Lisboa / UFMG

Narrativa
Em seu discurso durante a cerimônia, o pró-reitor de Pós-graduação, Fábio Alves, argumentou que um prêmio, como o UFMG de Teses, é mais do que um destaque ou reconhecimento. “É também uma narrativa individual e coletiva”, afirmou. No caso da UFMG, essa narrativa, lembrou ele, remonta ao ano de 1953 com a defesa da primeira tese de doutorado, desenvolvida na área de direito. Ao todo, informou, já foram defendidas na UFMG 28 mil dissertações de mestrado e 11 mil teses de doutorado. “No entanto, a nossa pós-graduação não se distingue pelo seu aspecto quantitativo. Ela é, sobretudo, qualidade, impacto e relevância social”, afirmou o pró-reitor.

A solenidade foi presidida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que destacou o “histórico de esforço institucional” em favor do fortalecimento da pós-graduação. “Por trás da concepção desse prêmio, sucessivas gerações se empenharam em construir a pós-graduação da UFMG e a consolidar os vários programas nas mais diversas áreas do conhecimento”, analisou.

Dirigindo-se aos premiados, a reitora afirmou que eles e seus predecessores são “exemplos de dedicação, tenacidade e superação. “Sabemos que não foi pouco o que vocês tiveram que abrir mão para chegar até aqui. Mais do que isso tudo, hoje vocês sabem que o futuro não é dádiva, mas conquista”, afirmou.

Sandra Goulart Almeida:
Sandra Goulart Almeida: legado de resistênciaFoca Lisboa / UFMG

Perplexidade
Após de fazer um rápido balanço das realizações e dificuldades da pós-graduação da UFMG em seus seis meses de gestão, Sandra Goulart Almeida dedicou o restante de seu pronunciamento à análise do atual cenário político do país. “Não poderia deixar de mencionar o momento decisivo e de grande perplexidade que vivemos, quando de súbito deparamos, atônitos, com a intolerância desmedida, com a violência gratuita, com atos de preconceito e de discriminação e com a escalada do discurso de autoritarismo e de repressão”, criticou ela, acrescentando que pessoas e instituições que moldaram a história brasileira, como as universidades, têm sido vítimas de “práticas antidemocráticas alicerçadas sobre calúnias e desrespeito”.

A reitora defendeu a construção de estratégias coletivas de resistência a um embate que, em sua visão, opera no campo material, caracterizado pelo "estrangulamento do financiamento da educação e das instituições públicas de ensino superior”, e no plano simbólico, representado pela tentativa de “minar o apoio, a autonomia e a legitimidade social de que gozam as universidades”.

Bastante aplaudida pela plateia que compareceu à cerimônia, Sandra Goulart Almeida garantiu que a Universidade mantém-se fiel ao seu legado de resistência. “A UFMG tem-se consolidado firmemente contra essas atitudes autoritárias e despropositadas. Estamos atentos e engajados na defesa da universidade pública, do investimento contínuo na educação, da saúde, da ciência, da tecnologia e da cultura e na construção de políticas de Estado que preservem o importante legado histórico e científico do país”, concluiu a reitora.

Rede de sensores
Rodolfo Wanderson Lima Coutinho é autor da tese Controle de topologia e roteamento oportunístico em redes de sensores aquáticas, na qual propõe modelos matemáticos, para investigar vantagens e desvantagens do projeto conjunto de protocolos de roteamento oportunístico e controle do ciclo de trabalho nessas redes.

Paraense, Rodolfo Coutinho graduou-se, em 2008, em Sistemas de Informação, na Universidade Federal do Pará, campus de Santarém. Em 2010, concluiu o mestrado em Engenharia Elétrica, com ênfase em Computação Aplicada. Na ocasião, os resultados de sua investigação sobre conjunto de redes sem fio e redes 4G repercutiram em várias conferências internacionais.

Em 2011, Coutinho ingressou no doutorado em Ciência da Computação na UFMG, sob orientação do professor Antonio Alfredo Ferreira Loureiro. Na Universidade de Ottawa, onde cursou doutorado-sanduíche, sua tese recebeu o prêmio Pierre Laberge como melhor trabalho na área de ciências. Coutinho também foi agraciado com o primeiro lugar no Concurso de Teses do Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos (SBRC).

Estratégia de negação
A tese Relações Públicas, ciência e opinião: lógicas de influência na produção de (in)certezas, de autoria de Daniel Reis Silva, do Programa de Pós-graduação em Comunicação, parte do conjunto de denúncias, realizadas nas últimas décadas, sobre uma vasta campanha de relações públicas, financiada por corporações do setor de energia, desencadeada com o objetivo de negar a existência do aquecimento global antropogênico. Considerando essa campanha como estratégia para ‘manufaturar dúvidas’, o trabalho, orientado pelo professor Márcio Simeone Henriques, reconstrói o histórico dessa dinâmica e reflete sobre suas lógicas.

Daniel Reis Silva graduou-se em Comunicação Social pela UFMG, em 2011. Também na UFMG obteve o título de mestre em 2013. Seu trabalho, O astroturfing como um processo comunicativo: a manifestação de um público simulado, a mobilização de públicos e as lógicas de influência na opinião pública, venceu o prêmio de melhor dissertação da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp) e foi publicado em livro.

Em sua trajetória, Daniel Silva envolveu-se com estudos do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Mobilização Social e Opinião Pública da UFMG (Mobiliza) acerca do surgimento e da atuação de iniciativas de vigilância civil sobre práticas abusivas de comunicação.

Tumor fibro-ósseo
Na tese Estudo genético e epigenético do fibroma cemento-ossificante, Thaís dos Santos Fontes Pereira lança luz sobre alguns aspectos associados a um tumor odontogênico benigno, cuja origem e evolução não eram, até então, bem estabelecidos. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Odontologia. Ela foi orientada pelo professor Ricardo Santiago Gomez.

O fibroma cemento-ossificante é uma neoplasia que compartilha características clínicas e histopatológicas com outras lesões fibro-ósseas benignas e apresenta significativa morbidade devido ao seu alto potencial de expansão. Thaís Fontes investigou alterações genéticas e epigenéticas associadas ao desenvolvimento dessa doença. 

Thaís Fontes graduou-se em Odontologia na UFMG, em 2012. Dois anos depois, também na UFMG, conclui o mestrado em Estomatologia, no qual investigou o impacto da corticoterapia sobre a infecção bucal de cândida.

Ao longo de sua carreira, a autora colaborou em projetos de patologia clínica, com padronização, treinamento e execução de terapias. Participou também de estudos sobre regulação epigenética e avaliação do efeito do medicamento resveratrol na resposta inflamatória da meningite pneumocócica.

Thaís
A premiada Thaís Fontes e os professores Luiz Filipe Menezes Vieira, coorientador de Rodolfo Coutinho (Ciência da Computação), e Márcio Simeone, que orientou Daniel Reis Silva (Comunicação) Foca Lisboa / UFMG

Menções honrosas
Três teses também receberam menções honrosas na cerimônia desta quinta-feira. Bruno Ricardo de Carvalho, do Programa de Pós-graduação em Física, é autor do trabalho Raman spectroscopy in MoS2-type transition-metal dichalcogenides, orientado pelo professor Marcos Assunção Pimenta e coorientado por Cristiano Fantini Leite e Mauricio Terrones. A tese concorreu na área Ciências Exatas e da Terra e Engenharias.

Na área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes, a menção ficou com a tese Transitividade na esquizofrenia: comparação dos relatos orais de eventos psicóticos entre grupos clínico e não clínico, de autoria de Marcus Lepesqueur Fabiano Gomes, do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos. Ele foi orientado pela professora Adriana Maria Tenuta de Azevedo, com coorientação de Antônio Márcio Ribeiro Teixeira.

A doutora Kênia Kiefer Parreiras de Menezes recebeu menção honrosa pela tese Fortalecimento muscular respiratório em indivíduos pós-acidente vascular encefálico, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Reabilitação. Ela foi orientada pela professora Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela e coorientada por Lucas Rodrigues Nascimento. O trabalho concorreu na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde.

Cerimônia foi realizada no auditório da Reitoria
Cerimônia foi realizada no auditório da Reitoria Foca Lisboa / UFMG